O gênero musical Bugio, uma das expressões mais autênticas da cultura gaúcha, está a um passo de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), emitiu um parecer técnico favorável à inscrição do ritmo no Livro de Registros das Formas de Expressão.
O documento agora segue para análise da Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial, etapa final para a oficialização do reconhecimento. O parecer pode ser consultado online por meio do link disponibilizado pelo Iphae.
O pedido de reconhecimento foi formalizado pelas prefeituras de São Francisco de Assis e São Francisco de Paula, com o apoio de músicos e entusiastas do ritmo. O Bugio se caracteriza por um ritmo sincopado e pelo uso marcante do acordeon, elementos que o tornaram um dos estilos musicais mais representativos do folclore gaúcho.
Segundo os historiadores, o Bugio ganharia notoriedade a partir de 1956, quando os Irmãos Bertussi gravaram o primeiro disco: O Casamento da Doralícia. Foi um impulso para a popularização e para a consolidação como gênero musical. Na contracapa do LP Coração Gaúcho 2, que contém a canção, há um texto explicativo: "O Casamento da Doralícia - Bugio - conto gauchesco de Honeyde Bertussi e música também colhida do folclore. Bugio é um samba ritmado caracterizado pelo jogo de fole do gaiteiro. O passo da dança é de acordo com o movimento do fole".
Adelar Bertussi orgulhava-se em dizer que após essa gravação, o bugio virou moda em todo o Rio Grande do Sul. Em registro audiovisual (Gema, 2016), realizado pouco antes de falecer, assegurou que ele e seu irmão Honeyde conservavam os ritmos folclóricos e apenas criavam uma roupagem moderna no arranjo das gaitas.
Segundo o parecer técnico do Iphae, as narrativas sobre a origem do Bugio variam conforme a região, mas há consenso de que o ritmo se consolidou como um importante símbolo da identidade cultural do Rio Grande do Sul. O relatório também destaca a relevância da patrimonialização para garantir a preservação e difusão do estilo musical.
A documentação submetida ao órgão incluiu inventários culturais, depoimentos de músicos e leis municipais que já reconhecem o Bugio como patrimônio local. O parecer técnico reforça que o reconhecimento estadual não apenas oficializa a importância do ritmo, mas também serve como um instrumento de salvaguarda para sua continuidade.
Caso o Bugio seja oficializado como Patrimônio Cultural Imaterial, ele se juntará a outros bens culturais já reconhecidos no estado e poderá contar com políticas públicas voltadas à sua preservação. Isso pode viabilizar ações como:
Festivais e eventos musicais para promover o Bugio e atrair novos públicos.
Oficinas e projetos educativos para ensinar o ritmo às novas gerações.
Pesquisa e documentação histórica sobre a evolução do gênero musical.
O reconhecimento formal também pode abrir caminho para incentivos culturais, fomentando a produção artística e a difusão do Bugio na cena musical contemporânea.
A Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial será a responsável pela decisão final sobre o registro do Bugio. Nos próximos dias, o extrato do parecer técnico será publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), e a partir disso, os interessados terão um prazo de 30 dias para apresentar manifestações sobre o reconhecimento.
Para mais informações sobre o processo de registro de bens culturais imateriais, o Iphae disponibiliza atendimento pelo e-mail iphae@sedac.rs.gov.br.
O reconhecimento do Bugio como Patrimônio Cultural Imaterial representa um marco importante para a valorização da cultura e da identidade musical do Rio Grande do Sul, garantindo que esse ritmo tradicional siga vivo por muitas gerações.