Não foram apenas os atletas profissionais que tiveram seus psicológicos desestabilizados devido à pandemia. Aqueles que sonham em se tornar um jogador profissional de futebol lutam para não perder as esperanças em meio à paralisação. Os jovens atletas, sobretudo da geração de 2003, que encerram o ciclo na base do Esportivo em 2020, temem perder a principal oportunidade de ingressar à equipe profissional no próximo ano.
Aa categorias de base do Clube Esportivo contemplam desde as categorias de iniciação até a sub-17. Após os atletas completarem 18 anos, muitos deles deixam de lado as chuteiras, outros mudam de equipe, e alguns são aproveitados no profissional do Esportivo. No ano passado, a equipe sub-17 protagonizou a melhor campanha no Estadual Juvenil desde o seu retorno, em 2013. O time base do ano passado estaria novamente presente no elenco deste ano, no entanto, devido à pandemia, as competições foram paralisadas, comprometendo a evolução dos atletas.
O bento-gonçalvense Kauan Gomes, que encerra o seu ciclo na base do Esportivo neste ano, é um dos que se encontram neste momento de angústia e incertezas. “É um sentimento de muita tristeza. Como é o nosso último ano para os 2003, foi uma coisa muito difícil essa parada por causa da pandemia. Todos estavam focados, estávamos nos dedicando ao máximo, treinando, se esforçando para o final do ano termos um resultado bom, que seria jogar no profissional do ano que vem e disputar o Gauchão”, relata o atleta.
Kauan entrou nas categorias de base do clube com 12 anos, e passou por todas as categorias até chegar à sub-17. Desde os 10 anos de idade, ele sonha em se tornar um jogador profissional e, desde então, vem se esforçando para alcançar tal objetivo. “Este ano estava muito empolgado e ansioso, pois estava me dedicando muito, estava 100% focado com o objetivo de virar jogador profissional. Quando aconteceu essa paralisação desanimei bastante. Mas uma coisa que não quero é desistir”, explica.
Manter o foco e o psicológico sadio neste momento de pandemia é um dos principais desafios que os atletas, sejam profissionais ou da base, enfrentam no atual cenário. A ansiedade e a preocupação em manter o condicionamento físico são sentimentos presentes na maioria dos jogadores, mas há um em especifico que atinge os jovens atletas que batalham para alcançar o profissional: a pressão quanto ao futuro.
Diante de tantas incertezas, manter o foco é uma das saídas que Kauan busca para não desistir de seu sonho. “Temos que ficar lidando com a pressão, se vamos conseguir chegar no objetivo de virar profissional ou se esse ano é o último e a gente vai ter que seguir nossas vidas, cada um parar ou achar um novo clube. Lidamos muito com pressão. Até pensamos em desistir, mas nunca desistimos, pois é uma coisa que amamos fazer, e a última coisa que queremos é parar. Passaram na cabeça de muitos em desistir, mas a gente tem que manter o foco e pensar que isso é só momentâneo”, salienta o jogador.
A paralisação dos treinamentos e das competições podem interferir diretamente na questão de aproveitamento de atletas para o profissional no próximo ano. “Tínhamos a esperança de lançar vários meninos de 2003 para a equipe profissional do ano que vem. Mas com essa lacuna de treinos, de preparação, e também de jogos, vai ficar um pouco complicado, pois não vamos ver evolução, daqui a pouco, para saber como o jogador está preparado em termos de desenvolvimento, se está preparado para encarar um profissional”, explica o treinador da equipe sub-17, Márcio Ebert.
No entanto, não será somente a geração de 2003 que poderá ser prejudicada devido à pandemia. O desenvolvimento dos atletas, sejam eles de quaisquer categorias, poderá ficar comprometido por conta da paralisação, o que significaria uma retomada lenta e gradual até alcançar o patamar dos bons resultados obtidos no ano passado.
Ebert explica que a expectativa do clube era significativa após os resultados conquistados no ano passado, sobretudo com a campanha da categoria sub-17, que alcançou as oitavas de final, e da sub-15, semifinalista da competição estadual. “Esse ano tínhamos a expectativa muito grande de juntar duas turmas de material humano muito bom, que são os 2003 e 2004. Vamos ter um prejuízo enorme, pois a ideia desse ano era de chegar às finais, chegar forte e fazer um bom ano, mobilizar bastante a comunidade para fazer um campeonato e surpreender”, comenta.
As consequências também pesam no aprendizado dos atletas, em questões físicas, técnicas e táticas. O preparador físico Vinícius Casagranda, o preparador de goleiros Maikon Menegotto, e os professores Marcelo Nunes e Rafael Preniska, além de Márcio Ebert, disponibilizaram materiais e orientações para manter os atletas engajados e ativos durante o período de paralisação.
Marco Antônio Majolo, de 16 anos, natural de Crissiumal, e que está na base do Esportivo desde os 8 anos de idade, também relata preocupação quanto à sua evolução e ao desenvolvimento do time. “Uma das coisas que mais pesa é não poder jogar como antes, pois este ano é muito importante para o meu crescimento como atleta e para evoluir mais ainda. Mas, devido a pandemia, o ano não está fluindo como o desejado, sem contar que pesa muito também o receio de voltar aos gramados e perder o preparo físico, tático e técnico”, explica.
A ansiedade em poder voltar a pisar nos gramados e atuar ao lado dos colegas de equipe também tem permeado os atletas da base do clube. “A ansiedade está grande, não vejo a hora de poder jogar futebol normalmente ao lado dos meus companheiros”, comenta Marco Antônio. “Para quem joga futebol e vive de futebol, para um atleta é muito difícil ficar alguns meses sem isso, sem uma rotina de treinamento. É uma rotina que gostamos e amamos fazer”, complementa Kauan.
Futuro da base é incerto
As competições de base, organizadas pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF), seguem indefinidas. A prioridade do Esportivo, assim como os demais clubes do interior, no momento, é com o futebol profissional e a sustentação financeira. A base tem ficado em segundo plano, deixando os atletas e pais apreensivos.
Com o desligamento repentino do coordenador das categorias de base do clube, Acácio Eggres, antes mesmo da pandemia, muitos pontos de interrogação surgiram, sobretudo em relação à continuidade do projeto, que estava sendo encabeçado por ele até então.
A reportagem do NB Notícias fez contato com o Vice-Presidente do Departamento Amador do clube, Lívio Rizzi. Questionado sobre o futuro da base, planejamentos e possíveis riscos, Lívio apenas declarou que as atividades serão retomadas assim que possíveis: “No momento está tudo suspenso. Mas certamente no momento oportuno retornaremos as atividades e as providências necessárias serão realizadas”, afirma.
Apesar das inúmeras incertezas que pairam sobre o futuro da base, o técnico Márcio Ebert tem a expectativa que a FGF dará a devida atenção para que a geração de 2003 tenha a oportunidade de demonstrar o seu valor em campo. Além disso, afirma que também espera que as categorias de base permaneçam ativas após a pandemia para continuar revelando talentos ao clube.
“A direção tem a boa vontade de manter, eles sabem da importância da base, tanto é que o Emerson, que veio da base, fez o gol da vitória no último jogo do Gauchão. Eles têm consciência que é preciso potencializar esse processo e que não dá para se extinguir com a base mesmo que a situação seja muito difícil. Vamos ter adaptações, sem sombra de dúvidas, todos vão ter que abrir mão de alguma coisa para que possamos fazer o melhor, dentro de um planejamento, para o Clube Esportivo”, ressalta Ebert.
Nesta semana foi realizada a reunião com os clubes participantes do Estadual Júnior (sub-20). Segundo a assessoria da FGF, a entidade deverá promover encontros para tratar também sobre os Estaduais Juvenil e Sub-15, cujo Esportivo disputa, com o objetivo de definir o futuro das competições com o desejo de que sejam realizadas ainda neste ano.
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