A tradição de revelar grandes atletas ao futebol profissional permeia a história do Esportivo. Renato Portaluppi é o exemplo mais emblemático, no entanto, a fase áurea do clube, na década de 1970, foi constituída por diversos atletas que surgiram das equipes juvenis, como Toninho Fronza e Raquete, atletas que mais vestiram a camisa alviazul na história do clube. Apesar das significativas mudanças no futebol, o Esportivo segue revelando diversos jogadores ao futebol profissional.
Nas últimas duas décadas o Esportivo auxiliou na formação de diversos atletas que até hoje atuam no futebol profissional, desde no cenário estadual até a nível internacional. Os frutos colhidos foram resultados de reestruturações das categorias de base ao longo dos anos, sobretudo em meio às limitações financeiras que assolaram o clube. Mesmo com dificuldades, o alviazul conseguiu adquirir credibilidade, a qual foi comprovada nos bons resultados obtidos, tanto dentro como fora das quatro linhas, colaborando também na aproximação entre clube e comunidade.
A década de 2000:
Após passagens como jogador, preparador físico e técnico, Acácio Eggres, profissional de educação física, recebeu o convite do ex-presidente Décio Dupont, em 2003, para assumir a coordenação de base do Esportivo. A reestruturação protagonizada com a ajuda de diversos profissionais que passaram pelas categorias inferiores do Esportivo, encabeçada pelo coordenador, reanimou a base e resultou na conquista de resultados expressivos e de diversos atletas lançados ao futebol profissional.
A partir de 2003 que a base foi ganhando cada vez mais notoriedade. Em 2004, o título da Copa RS conquistado pelo Esportivo contou com a participação de diversos atletas oriundos da base do clube. Os resultados e os títulos nas competições de base também comprovaram os bons frutos dos esforços da reestruturação.
“Montamos um projeto, um planejamento de trabalho, entramos num ciclo de treinamento semanal e introduzimos esse trabalho no clube. Isso foi dando frutos em termos de quantificação de participação de meninos na escola do clube e, em cima disso, começamos a vislumbrar a participação em competições, que era o objetivo”, explica Acácio.
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Neste período, diversos atletas alcançaram o patamar profissional, com destaque para o atacante garibaldense Everaldo Stum, jogador do Kashima Atlers-JAP, o zagueiro bento-gonçalvense Andrei Girotto, do Nantes-FRA, ambos ex-Grêmio; o volante Jonas Pessali (faleceu em 2017), ex-Grêmio, Angers-FRA e Paraná; o volante Jardel, do Operário-PR; o meia Maicon Assis, ex-Vasco e Brasil de Pelotas; o lateral Andrei Camargo, que joga no futebol belga; o zagueiro Edenilson Bergonsi, que está no futebol lituano; os goleiros Anderson, do Veranópolis, e Gottardi, do Nacional-POR, entre outros atletas que chegaram ao profissional, mas que já penduraram as chuteiras.
Andrei Girotto e Everaldo Stum foram os principais atletas descobertos pelo Clube Esportivo nas duas últimas décadas
Contabilizar o número de atletas que chegaram ao profissional é uma tarefa complicada, devido à escassez de informações sobre a base. No entanto, Acácio garante que o número ultrapassa os 150 jogadores que trilharam carreira profissional.
Em meio às dificuldades financeiras que assolavam o clube, o trabalho nas categorias de base foi interrompido no final de 2009, com o fechamento do departamento amador. “Já estávamos naquele período com um processo de resultado de formação de atletas e de aproveitamento, e conseguindo resultados expressivos a nível estadual, tanto com a categoria juvenil como com a categoria júnior”, ressalta Acácio.
A década de 2010 – nova reestruturação após o fechamento
A gestão do ex-presidente Luis Delano Oselame foi a responsável por reabrir a escolinha e as categorias de base do clube, mesmo diante das dificuldades financeiras. O árduo trabalho para retomar as atividades gerou bons resultados logo nos primeiros anos. Em 2013, a categoria sub-17 voltou a disputar o Estadual Juvenil.
“Tínhamos a missão de reabrir a base. Mesmo sem as devidas condições financeiras. Já em 2013 conseguimos retornar e já participar do campeonato estadual da FGF. Só quem esteve lá sabe como foi difícil manter aberta a base. Era mais fácil não abrir. O que nos fez ir adiante foi a história de formação de tantos atletas que foram para o mundo afora, e muitos que nos levaram a grandes conquistas”, explica o ex-presidente, fazendo menção aos atletas da década de 1970 e 1980.
Mesmo em um período muito curto de tempo e em meio às limitações financeiras, o Esportivo revelou diversos atletas, a exemplo do meia Kelvin Giacobe (foto capa), do Botafogo-PB, o atacante Fabrício Dutra, do Valadares Gaia-POR, o goleiro Táles, do Veranópolis, entre outros que passaram pela categoria sub-17 do clube, comandada, na época, pelo técnico Cristiano Fronza.
A partir de 2016, na gestão do ex-presidente Guilherme Salton, Acácio voltou para novamente reanimar a base do clube por meio de um projeto ambicioso. “A partir de 2016 encontramos uma realidade parecida com aquele outro momento. Nós pegamos uma realidade parecida em termos de desgaste, o clube também a nível de base pagando o preço por ter fechado as categorias de base, ainda com muita gente chateada, magoada. Essa retomada não foi fácil. Encontramos dificuldades no começo”, relata Acácio.
Acácio Eggres, ex-coordenador da base do Esportivo / Foto: Kévin Sganzerla
O projeto tinha o objetivo de implantar a mesma metodologia e modelo de jogo para todas as categorias, resguardando as especificidades de cada uma. “Houve uma evolução em termos de trabalho. Chegamos em 2019 com uma participação do sub-15 que foi semifinalista no Estadual. A sub-17 chegou às oitavas de final do estadual podendo ter avançado, mas o rendimento foi muito bom. O aproveitamento de alguns meninos já a nível profissional, que já vinha há alguns anos, sempre esteve na média de três a quatro meninos aproveitados, mesmo estando muito distante a sub-17 do profissional”, explica.
A lacuna nas categorias de base do Esportivo, por conta da falta de uma categoria júnior (sub-20), não foi empecilho para que o alviazul aproveitasse atletas de sua base no profissional. Em 2019, por exemplo, o acesso à elite do futebol gaúcho contou com a participação de cinco atletas oriundos da categoria sub-17. No elenco deste ano, três meninos da base foram aproveitados pelo técnico Carlos Moraes. Entre 2013 e 2020, o Esportivo lançou ao futebol profissional cerca de 20 atletas.
Fellipe Borges foi revelado no Esportivo em 2016, e atualmente faz parte do elenco do Juventude/Foto: Kévin Sganzerla
Preocupação com os profissionais:
O trabalho desempenhado por Acácio, enquanto coordenador, também direcionou os esforços não só na formação de atletas, mas também na evolução dos profissionais que comandam as equipes das categorias inferiores. “Sempre tivemos uma preocupação muito grande com os nossos profissionais. Não só formar os nossos meninos, mas também com a formação dos nossos profissionais”, comenta.
São vários os exemplos que comprovam essa preocupação, e que a escola “Esportivo” de futebol não se limitou a formar jogadores profissionais. Diversos professores, preparadores físicos e de goleiros saíram da base do clube para atuarem à beira do gramado em clubes profissionais pelo Brasil.
Em 2004, por exemplo, Nairo Pivatto, ex-jogador do clube, foi efetivado de treinador da equipe júnior à auxiliar técnico de Paulo Porto na conquista do título da Copa RS. Cristian de Souza, que treinou todas as categorias do Esportivo, trilhou carreira no cenário nacional, comandando o Ceará e o Paraná. Hoje é técnico do Veranópolis. Além deles, os preparadores de goleiros Emerson Bohm, Edson Girardi (que também foi ex-jogador do clube) e Marcelo Vignatti, o Palito; os preparadores físicos Gean Oliveira e Cristiano Fronza; e o professor Márcio Ebert, atual técnico da categoria sub-17 e auxiliar técnico do Esportivo, são exemplos de profissionais que chegaram ao âmbito do futebol profissional no alviazul.
Cristian de Souza, no Ceará / Foto: Israel Simonton/CearaSC.com
E o futuro da base?
A pandemia trouxe uma preocupação significativa em relação à saúde financeira do Esportivo. A prioridade, por óbvio, é o futebol profissional. No entanto, a base, como parte fundamental de um clube de futebol, também requer uma atenção especial, sobretudo por envolver o sonho dos atletas.
Antes mesmo da pandemia, o clube havia informado sobre o desligamento do coordenador Acácio, porém sem fornecer muitos detalhes sobre os motivos. O grave cenário por conta da paralisação e as incertezas que já permeavam as categorias de base do clube, principalmente sobre a continuidade, ou não, do projeto que vinha sendo desempenhado, geram muitos pontos de interrogação sobre o futuro da base.
Com 11 anos frente à coordenação das categorias de base, Acácio criou um vínculo muito expressivo com o Esportivo, o qual vai perdurar através dos seus trabalhos de reestruturação da base alviazul e seus frutos. “Tenho um carinho muito grande pelo clube, pelas várias passagens que eu tive. Sempre entrei pela porta da frente e quando sai, sempre sai pela porta da frente também. Toda vez que estive no clube fui contratado como profissional e isso fez criar um vínculo, um carinho, um respeito e uma identidade com o clube, e isso gerou uma identidade com a comunidade e com os pais. Sempre agimos com seriedade. Criamos uma credibilidade muito forte no trabalho dentro do esporte”, salienta.
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