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Secretaria de Cultura garante que pretende expor painéis cedidos por artistas em 2011

Em uma postagem no Facebook, um dos autores das obras afirma desconhecer o paradeiro das pinturas. De acordo com secretário, uma "solução conjunta" será buscada entre as partes

12/05/2020 às 13h36 Atualizada em 26/05/2020 às 00h46
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Jorge Bronzato Jr.
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Secretaria de Cultura garante que pretende expor painéis cedidos por artistas em 2011

Nove anos depois de ceder uma de suas obras para a Fundação Casa das Artes, o artista bento-gonçalvense Ernani Cousandier cobrou o governo municipal sobre o destino dado à pintura. Ou melhor: sobre o destino não dado, já que o trabalho – assim como os de outros profissionais da cidade – não foi exposto da forma como havia sido planejado em 2011.

Em uma postagem pública no Facebook, no último dia 8, Cousandier falou um pouco sobre a produção, feita em esmalte sintético sobre uma chapa de metal medindo cerca de quatro metros quadrados. Representadas nas imagens, estão várias antas, que à época eram personagens muito utilizados por ele em seus quadrinhos. Ele relembra que o projeto inicial era que os materiais ocupassem o trecho entre o prédio da Fundação e o Dall'Onder Grande Hotel, em uma iniciativa batizada de "Galeria a Céu Aberto" pelo então secretário de Cultura, Juliano Volpato, que deixou o cargo ainda em 2012.

A área que os receberia, contudo, só foi efetivamente entregue à comunidade em janeiro deste ano, mas com outra proposta. "O interessante é que esse espaço foi inaugurado recentemente e onde foram parar os painéis? É claro, é uma tradição no produtivo setor público brasileiro desmanchar tudo o que a gestão anterior fez, também é verdade que alguns painéis talvez não tivessem qualidade suficiente para ocupar o espaço público, mas nada que uma curadoria não resolvesse. Lembro de trabalhos do Dall Mass, do Postal, Vitor Hugo, enfim, obras bem interessantes, pensadas e produzidas para serem expostas ao ar livre. Hoje essas obras devem estar em algum calabouço subterrâneo, escondidas para serem redescobertas depois do meteoro, talvez", critica Cousandier, em seu texto.

Ele afirma, ainda, ter tentado reaver a sua criação em pelo menos duas ocasiões, mas não obteve sucesso. "Sei que assinei um documento cedendo os direitos à Secretaria, porém a situação mudou, mudou a gestão e certamente não houve mais interesse na(s) obra(s), tentei argumentar que eles não iriam usar e não tem sentido deixar o painel inutilizado em algum porão, então, que me devolvessem, assim poderia colocá-lo na minha casa onde meus visitantes pudessem apreciar. É uma questão de aproveitamento. Mas, nada! Ele vai envelhecer sem que ninguém o veja. Lá, em algum depósito esquecido, jaz um painel de antas", completa o artista.

O que diz a Secretaria de Cultura
O atual secretário de Cultura, Evandro Soares, afirma que os painéis criados pelos artistas locais estão alojados na Reserva Técnica localizada no subsolo da Fundação Casa das Artes e que não foram instalados até hoje porque não se chegou a uma definição de onde poderiam ser, enfim, expostos ao público. Segundo ele, em 2017, alguns deles até foram levados à inauguração da Casa do Artesão e do Artista Plástico, que fica no bairro Cidade Alta, mas não foram mantidos naquele lugar.

Agora, com a revitalização planejada para o subsolo, que deve ser transformado em uma sala multiuso, Soares diz que o assunto havia voltado à tona também internamente. "Realmente não chegamos a uma solução, mas isso não significa que não tenhamos buscado alternativas durante este tempo. Uma delas, por exemplo, seria colocá-los no muro do antigo Estádio da Montanha, onde havia painéis que acabaram sendo pintados, mas não conseguimos tomar uma decisão nesse sentido. Eles não foram esquecidos, muito menos danificados, mas entendo que talvez possamos nos reunir para construir uma solução conjunta. Estou aberto a discutir isso", ressalta.

O secretário garante que não está completamente descartada a possibilidade de que as obras retornem para seus criadores e que também não encara a reivindicação como algo negativo. "É uma cobrança justa, pois de fato se passaram vários anos desde que elas foram produzidas e ainda não conseguimos fazer com que sejam expostas. Claro, se for do consentimento de todos, elas até podem ser devolvidas, mas acho que não seria o melhor caminho, por pertencerem a um acervo cultural. Se a gente sentar e conversar, certamente vamos chegar a um entendimento", destaca.

Painéis na Montanha Velha
Os painéis que estavam dispostos no grande muro da Montanha Velha, na avenida Osvaldo Aranha, faziam parte de dois projetos de muralismo implantado ao longo dos últimos anos. A Associação Ativista Ecológica (Aaeco), presidida por Gilnei Rigotto e que mantinha sua sede junto ao estádio, foi uma das idealizadoras da ação. Em outubro de 2019, entretanto, as obras foram cobertas por tinta verde pelo Farrapos Rugby, clube que utiliza a estrutura para treinos e jogos.

Naquela ocasião, Rigotto questionou a forma como a mudança foi realizada. “O equívoco maior é que são painéis de aço parafusados no muro justamente para, quando precisar modificar ou decidir ocupar o espaço, as obras poderem ser retiradas, usadas e repintadas, instalando-as em outros locais”, apontou, também em uma postagem na rede social. Segundo a prefeitura, houve um conflito de informações, porque a intervenção havia sido autorizada pelo ex-secretário de Esportes, mas não foi comunicada ao seu sucessor na pasta.

Camarins e sala multiuso na Fundação

A revitalização prevista para o subsolo da Fundação Casa das Artes prevê que o espaço, que hoje é praticamente um depósito, seja transformado em uma sala multiuso, inclusive com acesso pela entrada existente junto à Rua Coberta. O pacote de obras também contempla a construção dos camarins sob o palco do anfiteatro, uma demanda de mais de uma década.

Os recursos do projeto foram captados após liberação da Lei de Incentivo à Cultura do Estado – três empresas repassaram o total de R$ 286 mil, que serão compensados pelos patrocinadores por meio de benefícios fiscais concedidos pelo governo gaúcho. Uma primeira licitação terminou deserta, mas um novo procedimento deve ser aberto nos próximos dias. O prazo para a execução é de cinco meses.

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