A proximidade das eleições municipais de 2024 acende um alerta sobre a desinformação e a propagação de notícias falsas. De acordo com pesquisa feita pelo Instituto DataSenado, 81% dos brasileiros acham que as notícias falsas, as chamadas fake news, podem afetar significativamente o resultado eleitoral. Conforme o levantamento, 72% dos brasileiros já se depararam com notícias falsas nas redes sociais nos últimos seis meses e consideram "muito importante" controlar essas publicações para garantir uma competição justa.
Para a senadora licenciada Eliziane Gama (MA), que até recentemente presidia a Comissão de Defesa da Democracia e era uma das titulares da CPMI das Fake News, há duas hipóteses para quem compartilha esse tipo de informação: má-fé ou desconhecimento.
— Mas quem produz essas notícias falsas é 100% ardiloso, pois usa a adulteração, a deturpação e a modificação de informação ou fato, para que sua mensagem tenha determinado alcance ou efeito. É preciso um rigor maior para combater essa prática perniciosa — disse Eliziane àAgência Senado. Atualmente, ela exerce o cargo de secretária da Juventude do Maranhão.
A CPMI das Fake News é uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (com senadores e deputados) que investiga denúncias de notícias falsas e assédio nas redes sociais, além do uso de contas artificiais e de serviços de impulsionamento de conteúdo para divulgação de propaganda política. Presidido pelo senador Ângelo Coronel (PSD-BA), o colegiado foi instalado em 2019, mas teve as atividades suspensas, junto com todas as demais Comissões do Congresso Nacional, no início da pandemia de covid-19. O seu prazo de funcionamento foi prorrogado por tempo indeterminado .
O impacto das notícias falsas e da polarização política nas eleições no Brasil é apresentado na 21ª edição da pesquisa “Panorama Político”, do Instituto de Pesquisa DataSenado. Feito entre os 5 e 28 de junho de 2024, o levantamento abordou 21.808 brasileiros de todas as regiões do país. O objetivo da análise é informar a sociedade e orientar o poder público na elaboração de políticas que respondam aos desafios apontados.
De acordo com o estudo, 72% dos usuários de redes sociais — o que equivale a 67% da população com 16 anos ou mais — já viram notícias que desconfiam serem falsas nos últimos seis meses. Esse número revela o alcance da crescente desinformação às vésperas das eleições municipais de 2024, como destaca o coordenador da pesquisa DataSenado, José Henrique Varanda.
Quando perguntados sobre qual seria o motivo para a disseminação das chamadas fake news, 31% acham que quem compartilha esse tipo de notícia quer mudar a opinião dos outros. Já outros 30% acreditam que as notícias falsas são compartilhadas por desconhecimento sobre sua veracidade.
Ao serem questionados sobre o nível de dificuldade para identificar se uma notícia é falsa ou não, a metade dos entrevistados afirmou considerar difícil. Eleitores de Sergipe, Maranhão e Rio Grande do Norte são os que mais dizem ter dificuldade. Já Santa Catarina, Distrito Federal e São Paulo têm eleitores que consideram fácil separar a notícia falsa da verdadeira.
Além disso, a pesquisa mostra outra preocupação: 81% dos entrevistados acreditam que a disseminação de notícias falsas pode impactar significativamente os resultados das eleições. Essa percepção coloca em evidência a necessidade de medidas mais rigorosas para garantir que o processo eleitoral seja justo e livre de interferências indevidas, como o Projeto de Lei das Fake News ( PL 2.630, de 2020 ), já aprovado pelo Senado e agora em análise na Câmara dos Deputados.
José Henrique Varanda destacou que, conforme o estudo do DataSenado, 92% da população brasileira acima de 16 anos usa redes sociais. Na opinião do analista do Senado, a pesquisa ajuda a dar respaldo para os juízes eleitorais fazerem cumprir a regulamentação recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições municipais deste ano, “já que 78% da população ouvida se mostrou a favor do controle de notícias falsas para garantir eleições mais justas e sem desinformação”.
— O estudo deixa clara a abrangência da exposição das pessoas a notícias falsas e como elas têm percebido os impactos dessa realidade. Além disso, vale ressaltar que as estimativas nacionais, como as deste relatório, estão com margens de erro bem baixas tendo, em média, 1,22%. À 95% de confiança, são resultados robustos e representativos da opinião pública brasileira — disse Varanda àAgência Senado.
Outro ponto levantado pelo estudo é a percepção sobre a responsabilidade das plataformas de redes sociais neste enfrentamento. A ampla maioria da população (81%) acredita que essas empresas devem ser responsáveis por impedir a disseminação de notícias falsas, sugerindo que o público apoia o uso de filtros, moderação e políticas de uso sobre o conteúdo que circula nessas plataformas.
O Senado Federal mantém um canal de interação com o cidadão destinado à checagem da veracidade de informações sobre a Casa. Intitulado Senado Verifica – Fato ou Fake?, o serviço analisa textos publicados em quaisquer meios de comunicação ou nas redes sociais, considerados falsos, incorretos ou que tenham a finalidade de gerar engano ou ânimo contrário à instituição.
A checagem é feita por uma equipe de jornalistas que recebe as informações enviadas pelos cidadãos ou são selecionadas a partir do acompanhamento de notícias publicadas sobre o Senado nos meios de comunicação e nas plataformas digitais. As respostas enviadas aos cidadãos e as demais checagens poderão ser publicadas na página do Senado Verifica: Fato ou Fake? .
O Senado também mantém um protocolo permanente do Programa de Enfrentamento à Desinformação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater conteúdo falso.
Com as eleições municipais previstas para outubro, a perspectiva é de aumento de notícias falsas relacionadas ao pleito. Todas as dúvidas levantadas sobre fake news ou deepfake (alteração de imagens e sons por inteligência artificial que criam situações que não ocorreram) nas eleições municipais serão encaminhadas pelo Senado ao TSE.
O cidadão pode solicitar a checagem de informações por meio dos canais de relacionamento do Senado — Fale com o Senado, conforme a Política de Uso do serviço.
WhatsApp: 55 61 9 8190-0601
Telefone: 0800 0 61 2211 (ligação gratuita de todo o Brasil, por telefone fixo e celular)
Formulário de mensagem: acesse aqui .
Email: [email protected]
A pesquisa DataSenado também investigou o tema polarização política no país. Com 29% dos brasileiros se identificando como de direita e 15% como de esquerda, a pesquisa revela que 40% da população não se alinha a nenhuma das principais correntes políticas, enquanto 11% se declaram de centro. Esse dado mostra que, apesar da existência de posições políticas polarizadas, a maioria dos brasileiros prefere uma postura mais moderada ou não se identifica com os rótulos tradicionais, na interpretação de José Henrique Varanda.
O coordenador da pesquisa destacou ainda que, conforme o estudo, a polarização afeta a forma como as pessoas percebem o papel das redes sociais, com aqueles que se identificam à esquerda sendo mais favoráveis à responsabilização das plataformas (95%) do que os que se identificam com a direita (65%).
Por fim, a pesquisa “Panorama Político” do DataSenado revelou que um terço dos brasileiros está insatisfeito com a democracia, enquanto 66% ainda acreditam que a democracia é sempre a melhor forma de governo. De acordo com Varanda, esse resultado mostra a importância de fortalecer as instituições democráticas, “garantindo que o processo eleitoral seja transparente e justo, para restaurar a confiança da população no sistema político”.
O Panorama Político é uma série de pesquisas do DataSenado feita desde 2008 que monitora vários assuntos. Os temas de fake news e democracia já vêm sendo acompanhados há alguns anos, mas esta pesquisa é especial por ter uma amostra maior, com mais de 20 mil entrevistados. O estudo faz parte também das celebrações dos 20 anos do DataSenado, a serem comemorados em dezembro.
Trata-se da primeira pesquisa a realizar estimativas também por estado, reforçando a representação parlamentar federativa do Senado.
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