Visto como uma nova realidade voltada ao setor fabril, sobretudo por ser associado à chamada Quarta Revolução Industrial, o conceito 4.0 apresenta uma proposta muito mais abrangente que, em vários quesitos, já é vivenciada na sociedade.
Um deles, como avalia o diretor da Meber Metais, Marcio Chiaramonte, é a agilidade dos processos ligados, por exemplo, às relações profissionais, o que facilita a tomada de decisões e a resolução de negócios. Nesse contexto mais dinâmico, uma das vantagens é o fato de a burocracia perder espaço. “Uma vez, escrevia-se cartas, realizava-se ligações telefônicas, preenchia-se formulários, aguardava-se orçamentos. Portanto, longas esperas estavam relacionadas aos negócios. Com o advento da Internet de Tudo (IoE, do inglês “Internet of Everything”), a instantaneidade passou a fazer parte da vida das pessoas. As informações são imediatas, os desejos são realizados rapidamente, e isto está presente na vida de todos, na ponta de seus dedos. Este é o mundo 4.0”, destaca Chiaramonte.
Muitas vezes atrelada a um possível cenário de aumento do desemprego, esta etapa da evolução, na visão do diretor, ainda não é plenamente assimilada. “Este é um dos erros que se comete quando o tema não está devidamente compreendido. A automação de processos, na verdade, está ligada à indústria 3.0. Ela está dentro de todas as empresas e na mão de todos os cidadãos, através de seus smartphones, onde é possível consultar saldo, pagar contas, comprar, vender, ouvir notícias, estudar, interagir nas redes sociais! Ou seja, essa automação de processos, não só os industriais, mas de tudo, dá origem ao conceito da Internet de Tudo – e esta hiperconexão dá origem ao jeito 4.0 de pensar”, acrescenta.
A questão da empregabilidade no mundo 4.0, Chiaramonte acredita estar ligada à proatividade, ao talento individual e ao empreendedorismo. “É a valorização de usar ‘mais a cabeça do que as mãos’, e neste quesito, a gestão pública recente do Brasil pecou demais, principalmente no quesito educacional, atrasando o país em muitos anos em relação ao mundo que avança. Este será o grande desafio da sociedade brasileira frente aos avanços globais”, avalia.
A adaptação a este novo universo ainda ocorre de forma gradual para muitas companhias, o que abre caminho para que iniciativas mais disruptivas, como as Startups, assumam um papel extremamente importante nesta transformação. Com capacidade para obter resultados específicos de forma muito mais rápida do que as organizações “tradicionais”, elas surgem como opção, no que se refere à busca de novas soluções para novos problemas. Um dos aspectos positivos elencados por Chiaramonte é, justamente, a digitalização dos negócios.
O case Meber
Prestes a completar 60 anos de história, a Meber Metais carrega em sua própria jornada um case de constante inovação. De um pequeno porão no Centro de Bento Gonçalves a uma das marcas mais lembradas do país no segmento, o roteiro percorrido sempre passou pelo emprego de tecnologias emergentes, atualizando continuamente os processos produtivos, aplicação de tecnologias mais limpas e os métodos para controle das emissões de efluentes, por exemplo.
Em seu parque fabril, os equipamentos utilizados são o que há de mais moderno, incluindo robôs que já conduzem atividades de manipulação, processamento de materiais, atividades de montagem e testes. As máquinas do setor de usinagem, que antigamente eram manuais e semiautomáticas mecânicas, hoje comandadas eletronicamente, conferem mais precisão ao trabalho e um excelente aproveitamento da matéria-prima.
A gestão financeira também foi afetada e a Meber não ficou parada no tempo, automatizando, na medida do possível, os seus procedimentos administrativos. Os resultados obtidos são o ganho em competitividade, a disponibilidade massiva de dados do negócio, auxiliando a tomada de decisões, propiciando a fidelização de clientes, com uma condução segura das metas da empresa e o foco mantido no crescimento e na consolidação. A agregação de ferramentas de transmissão e recepção de dados, tanto interna como externamente, bem como a presença ativa nas redes sociais e o uso de outros métodos de comunicação dirigida a seus clientes, também são elementos cruciais para enfrentar um mercado cada vez mais disputado. “A Meber é uma fornecedora de ativos relacionados aos desejos e necessidades das pessoas. Então, tivemos que remodelar nossa operação para este mundo ágil e, invariavelmente, nossas ações neste sentido buscam o atendimento, o mais rápido possível, das demandas de nossos clientes”, aponta o diretor.
Obstáculos e desafios
Embora o universo 4.0 seja a ferramenta para a redução da burocracia, como já mencionado, sem a atuação decisiva do Estado, não há condições de fazer com que ela, de fato, seja rebaixada a níveis que não barrem ou não retardem o empreendedorismo. “O ente governamental, por sua caraterística notadamente conservadora, é sempre o último a se modernizar, e quando o faz, faz mal. Ao invés de simplificar a burocracia primeiro, para depois automatizar, faz o contrário: informatiza a pesada burocracia. Então, não diferente de outras empresas, temos mais gente envolvida com as operações de âmbito legal governamental do que para o projeto de peças ou para gestão da produção, atividades que evoluíram muito”, analisa Chiaramonte, que cita a insegurança jurídica como mais um ponto de preocupação para os investidores.
O diretor da Meber Metais ressalta outros dois entraves que dificultam a implantação do conceito 4.0 na sociedade brasileira: a infraestrutura de internet precária no país e a falta de mão de obra qualificada. “Escolas e universidades perderam o timing e não estão preparando pessoas para o futuro próximo. E o pior de tudo: os jovens não estão se dando conta de que esta vai ser a bola da vez”, conclui.
Mín. 13° Máx. 29°