O Governo Federal anulou o leilão de arroz importado após as possibilidades de fraude ficarem evidentes no certame. A situação já tinha sido denunciada pelo deputado federal Marcel Van Hatem (Novo-RS) e foram confirmadas pelo Jornal Estadão nesta terça-feira, 11 de junho. O filho do atual secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, era um dos envolvidos. O secretário foi exonerado do cargo.
De acordo com as denúncias do deputado, o leilão do arroz teve arremates de locadoras, sorveterias e até mercearias, que não teriam condições de arcar com o volume prometido de aquisição por parte do governo federal. Ainda na segunda-feira, 10 de junho, durante uma reunião de coordenação política, o presidente Lula havia externado sua irritação com o leilão de arroz, que deu munição à oposição para criticar seu governo. O caso já chegou ao Tribunal de Contas da União (TCU). Na avaliação do presidente, o melhor seria cancelar o certamente, arcar com o ônus político, e promover um novo leilão.
A maior fatia do leilão foi arrematada por uma mercearia de bairro de Macapá (AP). Ao todo, a Wisley A. de Sousa LTDA, cujo nome fantasia é “Queijo Minas”, ganhou o direito de vender 147,3 mil toneladas de arroz para a Conab, ao preço de R$ 736,2 milhões. Por meio de seus advogados, a empresa disse ter condições de cumprir o edital.
A Icefruit, uma empresa cuja sede fica em Tatuí (SP), arrematou dois lotes do leilão, oferecendo 19,7 mil toneladas de arroz à Conab por cerca de R$ 98 milhões. Pelo cadastro na Receita Federal, é uma empresa média, cuja primeira atividade é a produção de conservas de frutas, alimentos e sorvetes. Ela também é registrada para atuar no comércio de alimentos.
Sobrou para o secretário de Política Agrícola
Neri Geller acabou responsabilizado pelos problemas do leilão porque o diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, responsável pelo certame, era sua indicação direta. Além disso, a FOCO Corretora de Grãos, principal corretora do leilão, é do empresário Robson Almeida de França. Ele foi assessor parlamentar de Geller na Câmara e é sócio de Marcello Geller, filho do secretário, em outras empresas.
Ex-deputado, Neri Geller foi candidato ao Senado em 2022, mas teve a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral após ser cassado por suposto abuso de poder econômico. Em dezembro do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu a cassação e devolveu os direitos políticos de Geller, que só então pode integrar o governo Lula. Ao longo de 2023, ele despachou informalmente no Ministério da Agricultura.
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