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Como explicar o sucesso da franquia Star Wars

Nono filme da saga, que encerra a terceira trilogia, tem pré-estreia no Movie Arte Cinemas a partir da 0h15 da quinta-feira, 19.

15/12/2019 às 19h38 Atualizada em 01/01/2020 às 14h03
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Divulgação
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Talvez você jamais tenha assistido a um filme da franquia Star Wars. Mas seguramente reconhece a figura de Darth Vader, sabe como é uma luta com sabres de luz e já ouviu a expressão “lado negro da força”. São apenas alguns exemplos de um produto cultural que rompeu todas as barreiras possíveis do nicho no qual foi concebido. De um filme de ficção científica, tornou-se objeto de culto, produto de marketing, marco da cultura pop, referência para diferentes gerações e objeto de estudos acadêmicos.

Nesta quinta-feira, 19, o assunto volta a ser bombardeado na mídia com a estreia do nono filme da série, Star Wars – A Ascensão Skywalker, com direito à pré-estreia nas salas do Movie Arte Cinemas a partir da 0h15min. Dirigida por J.J. Abrams, a produção encerra a terceira trilogia da franquia, com a promessa de arrastar multidões para as salas de cinema e estabelecer novas cifras astronômicas de bilheteria. Juntos, os oito filmes anteriores já arrecadaram US$ 7,5 bilhões somente em ingressos de cinema. Como já se tornou parte da estratégia de marketing da franquia, poucos detalhes foram divulgados sobre a nova trama, alimentando palpites, teorias e a ansiedade dos fãs.

A saga Star Wars teve início há mais de 40 anos, em 1977, quando foi lançado o primeiro filme, batizado mais tarde de Uma Nova Esperança. Com 33 anos de idade e poucos filmes no currículo, o cineasta George Lucas criou sozinho uma história complexa que, de forma resumida, consistia na batalha de um grupo de rebeldes contra o império que domina uma galáxia. Com uma produção gigantesca e efeitos especiais inovadores, os produtores temiam que fracassasse junto ao público. Mas aconteceu justamente o contrário: o filme se tornou um sucesso estrondoso e revolucionou a cultura pop.

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Pré-concebido como uma trilogia, Star Wars teve inicialmente duas sequências, O Império Contra-Ataca (1980) e O Retorno de Jedi (1983). Tornaram-se clássicos, como muitos filmes, mas transcenderam essa condição cinematográfica. Personagens como Luke Skywalker, Princesa Leia, Darth Vader e Chewbacca se tornaram ícones culturais para além do público fiel, fruto da primeira grande ação de marketing do cinema. Seus fãs, por sua vez, criaram uma devoção quase religiosa à obra. Tudo isso parece ter contribuído para a longevidade da saga, cuja adoração e referências são transmitidas a cada nova geração, de forma a manter uma renovação de público rara, senão única.

Mas, afinal de contas, o que faz com que depois de 40 anos Star Wars se mantenha como um fenômeno capaz de mobilizar milhões (de pessoas) e bilhões (de dólares)? Estudiosos da cultura e do entretenimento têm buscado a resposta, que não é das mais simples. Mas existem alguns fatores que ajudam a entender.

Uma jornada heroica


Toda a ideia de Star Wars foi concebida pela mente criativa de George Lucas, que desde que decidiu fazer cinema, planejava filmar uma grande aventura espacial, misturando as mais diversas influências acumuladas ao longo de sua vida: os quadrinhos de Flash Gordon, as tragédias de William Shakespeare, o cinema de Akira Kurosawa e a saga literária O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien. Na biografia do cineasta, Skywalking, escrita por Dave Pollock, consta que, quando ele apresentou a história aos executivos de Hollywood, parecia algo tão confuso e sem sentido que o fracasso era tido como certo. O próprio Lucas, ainda durante as filmagens, acreditava que a história estava sem pé nem cabeça, só se convencendo do contrário ao finalizar a edição.

Travis Langley, professor de Psicologia da Universidade Henderson State e autor do livro Star Wars Psychology: Dark Side of the Mind, é um dos principais estudiosos da obra. Para ele, George Lucas tinha um plano bem definido e executou-o brilhantemente. “George Lucas entrelaçou deliberadamente em sua narrativa os elementos de maior sucesso dos épicos heroicos de toda a história: o cowboy, o samurai, o rebelde, o órfão que ouve o chamado à aventura”, afirmou em entrevista à NBC. Esses elementos estão relacionados à Jornada do Herói, a estrutura consagrada pelo escritor Joseph Campbell que reúne 12 etapas para contar uma história impecável.

“No início, ele [Lucas] teve problemas para terminar sua história, até começar a ajustá-la intencionalmente à Jornada do Herói. Assim, a primeira história misturou as coisas que estavam em seu coração e se uniram àquelas que ele descobriu através de Campbell, mas sem pensar demais. Ao invés de ser inconscientemente influenciado pelas mesmas coisas que cutucaram os contadores de histórias de todos os tempos, ele seguiu conscientemente o modelo”, analisa Langley.

Claro que nada disso funcionaria sem bons personagens. E nisso Lucas e sua equipe capricharam: com sua máscara e a inconfundível voz grave, Darth Vader se tornou o vilão perfeito; Han Solo tinha o charme do mocinho de caráter dúbio; e o que dizer do carisma de criaturas como Yoda, Chewbacca e os robôs C3PO e R2D2?

De geração a geração

Para uma produção de 1977, era de se esperar que os aficionados se resumissem, em sua grande maioria, ao público dos millennials (nascidos entre o final da década de 1970 e metade de 80). Mas, se no próximo fim de semana, você for a uma sessão de A Ascensão Skywalker, vai encontrar espectadores de todas as idades, o que inclui muitos jovens e adolescentes. Fruto da força de sua história, dos personagens ou do marketing, o fato é que o gosto por Star Wars vem sendo transmitido de geração para geração.

Em uma entrevista para o site Space.com, a jornalista Teresa Jusino, especialista em cultura pop, apresenta uma explicação plausível. Ela conta que só assistiu aos filmes de Star Wars na década de 2000, quando já era adulta. Porém, ela conhecia vários elementos da saga através de citações em outros produtos, como a série Friends, por exemplo. “Eu já sabia muito da história porque alguém havia me contado”, diz. A própria indústria do entretenimento bebeu na fonte de George Lucas, ajudando a manter seu legado.

Isso sem contar o fato de a própria franquia Star Wars se manter ativa e com visibilidade. Quando A Ameaça Fantasma inaugurou a segunda trilogia, em 1999, o frisson serviu para unir os velhos fãs saudosistas e a geração que começava a ir ao cinema. Mesma estratégia adotada há quatro anos com O Despertar da Força. Tanto que o próprio diretor J.J. Abrams, diante das críticas de George Lucas de que o filme não trazia nada de novo, justificou que era preciso trabalhar a história de forma a situar os novos espectadores.

Com A Ascensão Skywalker encerrando a nova trilogia, seria o momento de colocar um ponto final em Star Wars? Nada disso, muito pelo contrário. O vasto universo criado por Lucas tem deixado o caminho aberto para outras produções derivadas, como os filmes Rogue One (2016) e Solo (2018) e a recém-lançada série The Mandalorian, do serviço de streaming Disney+. “É um mundo tão rico que sempre terá condições de oferecer novas histórias e encarnações”, sentencia Teresa Jusino.

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