Ano após ano o problema se repete nas escolas de Bento Gonçalves: a falta de monitores impede que crianças e adolescentes com deficiência frequentem o ambiente escolar. Essa situação, que tem se tornado corriqueira, revoltou novamente os pais, os quais, no início do ano letivo, tiveram que levar os seus filhos de volta para casa. Conforme o grupo Voz Azul, que reúne mães de crianças com espectro autista no município, a prefeitura iniciou as contratações de monitores somente a partir da última sexta-feira (23), dias antes do retorno às aulas na rede municipal.
Conforme o relato de mães, as escolas onde seus filhos estudam informaram que não há monitores e que não têm previsão para serem contratadas pela Secretaria Municipal de Educação (SMED). Por conta disso, as cianças não podem frequentar a escola, obrigando muitos pais a faltarem ao seu trabalho. Além disso, também afirmaram que ninguém as informou de forma antecipada de que não haveria monitores no início do ano letivo.
"A família vai com a criança para a escola e é informada que não tem monitor e, por isso, essa criança fica sem ir à escola, que é de direito dela. É um problema que já vem se estendendo há anos. Todas as outras crianças começam, os nossos filhos também têm o mesmo direito", afirma Silvana Alves, líder do grupo Voz Azul e mãe do Vicente, de 7 anos, que é autista de nível dois de suporte.
Segundo Silvana, no ano passado foi criada uma proposta para a criação de um cargo de "instrutor de educação", que abrangeria profissionais de pedagogia, com um salário atrativo para os profissionais, no entanto o poder público vetor o projeto. "As monitoras não têm remuneração adequada para a função, não recebem nenhum tipo de capacitação. Nossos filhos precisam manter a frequência e ter um atendimento correto dentro da sala de aula, porque eles não estão lá na escola só para estar, eles também estão lá para aprender, assim como todas as outras crianças", pondera a mãe, que complementa:
"É preciso uma organização maior, porque as matrículas são feitas ainda em novembro. A SMED sabe da demanda, sabe quantas crianças vão iniciar o ano letivo e todo ano é a mesma coisa, em fevereiro, depois que iniciam as aulas, é informado que não estão começando a chamar as monitoras. Acredito que a educação inclusiva aqui na cidade tem que haver uma mudança muito grande", salienta Silvana.
Confira alguns depoimentos das mães de alunos
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Roselaine Godoi, mãe do Rafael, de oito anos, que também é autista, obrigou-se a faltar ao trabalho para acompanhar o seu filho à escola no início das aulas. Conforme o seu relato, ela ficou sabendo apenas na sexta-feira (23) que o seu filho não poderia frequentar a escola por falta de monitores. No seu caso, a instituição de ensino liberou que a mãe pudesse ficar com o seu filho durante um período. "Eu sou técnica de enfermagem, faço alguns plantões. Ontem mesmo eu tinha um plantão para fazer e tive que cancelar porque fui com meu filho para a escola. Nos dois primeiros dias de aula estou fazendo esse trabalho de monitora do meu filho", explica.
Antes do início das aulas, os pais necessitam preparar os seus filhos, uma vez que pessoas com espectro autista necessitam seguir rigidamente uma rotina. A expectativa que a criança cria ao voltar as aulas é frustrada por não ter monitores. "Fazemos a compra dos materiais, damos toda a expectativa de que a criança vai iniciar o ano letivo, conversamos, preparamos eles e quando chegamos na escola nos informam que não há monitores. Entramos em contato com a escola, com a SMED, e a resposta é sempre a mesma, de que eles estão em período de contratações", relata Daiane Líbano Oliveira, mãe de duas crianças autistas.
Rosana Antônio de Farias, mãe do Pedro Miguel, de quatro anos, autista não verbal, nível dois e três de suporte, também demonstrou sua indignação quanto à situação vivenciada por diversos pais em Bento Gonçalves. Ela pondera que o direito dessas crianças não está sendo cumprido. "Nossa indignação é tiveram tempo para se organizar, desde novembro as matrículas foram feitas. Até o início do ano letivo é tempo para organizar pessoas para que estejam trabalhando. Também é direito ter uma monitora para cada aluno, e não uma monitora para duas, três, cinco crianças, é uma monitora para cada, é o que tá escrito na lei. Só quereremos que a lei seja cumprida", afirma.
Outra mãe, Maiandra Comin, afirmou que o coordenador pedagógico da escola havia garantido que sua filha, de cinco anos, que também é autista, teria uma monitora para o início das aulas. No entanto, ao chegar à escola, deparou-se com a notícia que não haviam monitores. Neste caso, a mãe deixou sua filha na escola sob os cuidados da professora da sala de aula. "Deixamos ela com o coração na mão, pedimos para que alguém ficasse nos relatando como ela estava se comportando, que se tivesse crises, choros iríamos buscá-la. Colocamo-nos no lugar da professora, que precisa dar atenção para uma turma de 19 alunos, e minha filha exige muitos cuidados, pois tem pouca autonomia", comenta.
O Portal NB Notícias entrou em contato com a prefeitura para saber se há previsão para a contratação de monitores para sanar esse problema, porém, até a publicação desta reportagem, não houve retorno.