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Pacientes têm dificuldades para consultar com cardiologista em Bento

Pessoas relatam que tiveram consultas negadas por médico regulador e/ou pela Regulação Municipal que intermediam o encaminhamento dos pacientes ao médico especialista via SUS. 

14/01/2024 às 15h08
Por: Marcelo Dargelio
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Pacientes têm dificuldades para consultar com cardiologista em Bento

Mais uma situação envolvendo a saúde em Bento Gonçalves tem preocupado a população do município. Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) relataram dificuldades para agendar consultas com cardiologista e que, por algumas vezes, foi negado o atendimento por um auditor, responsável por regular e intermediar o encaminhamento dos pacientes a um médico especialista. 

É o caso de uma moradora de Bento Gonçalves, que optou por não se identificar, a qual está em meio ao processo de conseguir uma consulta com um cardiologista após ser diagnosticada com um problema no coração. Há dois meses, ela passou mal no trabalho e procurou a UPA 24 Horas. "Tinha a sensação de que meus batimentos cardíacos falhavam uma batida. Fiz um eletrocardiograma, no qual não deu nada. O médico me pediu para procurar o posto do bairro, pois, conforme ele, tratava-se de estresse. Procurei o posto do bairro. A médica, muito atenciosa e querida, solicitou um novo eletrocardiograma, no qual esse veio com alteração. Recebi a notícia que tenho uma parte do coração que não está funcionando como deveria", relata. 

Ela procurou novamente o posto de saúde para agendar uma consulta com o cardiologista, porém, para a sua surpresa, a médica não havia solicitado o atendimento com o especialista. Conforme a recepção da UBS de seu bairro, ela teria que marcar uma nova consulta com a médica, solicitar a consulta com o cardiologista, cujo encaminhamento seria aprovado ou não por um médico regulador. 

"A recepcionista me falou que a solicitação da médica vai para a Secretaria da Saúde, onde um auditor avalia e decide se ele aceita ou não aceita. Caso ele não aceite, a solicitação volta para o postinho, a médica tem que justificar, mandar para ele de novo para o mesmo processo, para ver se ele vai aceitar ou não. Porém me falaram duas coisas diferentes: um fala que é o Estado e o outro fala que é um auditor dentro da Secretaria da Saúde", relata a paciente.

Segundo a moradora, a recepcionista afirmou que muitos pedidos para consultas e procedimentos com cardiologista estão sendo recusados. "Há pacientes que já fazem tratamento há tempo com o cardiologista, que tem ponte de safena, que tem catéter, que já tem uma cirurgia relacionada ao coração ou algum outro procedimento e mesmo assim o auditor recusa. E quando consultamos com o médico da UPA tudo é estresse, é cansaço, e eles te dão um calmante, algum remédio para te acalmar e pedem para voltar para casa", comenta. 

Essa não é a primeira vez que ela encontra dificuldades para obter uma consulta com cardiologista. Sua mãe passou por um procedimento após sofrer um infarto e necessitava de acompanhamento com cardiologista de dois em dois meses. No entanto, sua mãe conseguiu se consultar quatro vezes e depois não a chamaram mais. "Ela teve que fazer uns trabalhos extras para conseguir dinheiro e pagar a consulta particular com o cardiologista, pois ela estava se sentindo ruim de novo e ela já tinha infartado uma vez. Entrei em contato com a prefeitura, tentei falar com o vice-prefeito e não consegui nenhum retorno na época", explica a paciente. 

O que diz a prefeitura:

Conforme a prefeitura, a especialidade de cardiologia é regulada pelo GERCON, um sistema de regulação do Estado do Rio Grande do Sul conforme Decretos n° 56.015/2021 e 56.016/2021. A consulta com o cardiologista é intermediada por um médico regulador. "Ele tem, entre muitas outras funções, o objetivo de analisar as informações e orientar o médico. Como em quase todos os Estados e Capitais referência em SUS do Brasil, o serviço de regulação é essencial para garantir que tanto o médico do Centro de Saúde (UBS) faça todo o possível pelo paciente, bem como que os pacientes que aguardam na fila tenham acesso ao especialista mais brevemente", explica a Secretaria de Saúde. 

Conforme a pasta, pacientes com brevidade alta são agendados quase que imediatamente. Já em outras situações que não se caracterizam como alta brevidade são encaminhados para a Regulação Municipal. "Os casos em que a Regulação Estadual sugere discussão com o Telessaúde ou possibilidade de abordagem na Atenção Primária em Saúde são sempre discutidos com a Regulação Municipal e tem sua conduta otimizada no município", afirma em nota. 

Para casos especiais e que fogem aos protocolos, como, por exemplo, avaliações para cirurgias de alta complexidade, a secretaria afirma que o poder público municipal fornece um número mensal de consultas compradas com especialista em Cardiologia do município. "Desta forma, garantimos que nenhum paciente que realmente precise do especialista fique sem a avaliação do mesmo", pondera. 

Em situações de urgência/emergência, são realizadas condutas iniciais na UPA, com a possibilidade de encaminhamento via internação para serviços de alta complexidade em serviços pactuados com o município via GERINT, um outro sistema de regulação do Estado, mas para Leitos de Internação, quando necessário. Quanto aos casos de cateterismo e procedimentos de Alta Complexidade não urgentes, mas com alta brevidade, a secretaria afirma que a referência em saúde é Caxias do Sul, que tem sua regulação própria. "Todos os casos com indicação e com encaminhamento completo são atendidos pelo especialista, mas todos os casos, independente da demanda ou gravidade são sempre atendidos pelo médico da estratégia da saúde da família, garantindo o direito ao cuidado do paciente", detalha em nota a secretaria de saúde. 

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