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Estudo aponta hábitos que podem aumentar a vida em mais de 20 anos

Pesquisa com mais de 700 mil pessoas mostra que adotar práticas saudáveis reduz risco de morte e melhora qualidade de vida.

03/12/2023 às 11h19
Por: Marcelo Dargelio
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Estudo aponta hábitos que podem aumentar a vida em mais de 20 anos

Um estudo inovador, apresentado no último Congresso da Sociedade Americana para Nutrição por Xuan-Mai T. Nguyen, pesquisadora do Carle Illinois College of Medicine (EUA), oferece novas perspectivas sobre longevidade e qualidade de vida. A pesquisa concluiu que a adoção de oito hábitos saudáveis por volta dos 40 anos pode resultar em um significativo aumento na expectativa de vida: 24 anos a mais para homens e 23 anos extras para mulheres.

A análise, baseada em dados de 719.147 veteranos americanos com idades entre 40 e 99 anos, abrangeu o período de 2011 a 2019. Durante o acompanhamento, observou-se que cerca de 30 mil pessoas faleceram. Entretanto, aqueles que adotaram os comportamentos saudáveis avaliados apresentaram um risco de morte 13% menor em comparação àqueles que não seguiram nenhum dos hábitos sugeridos.

Simone Fiebrantz Pinto, nutricionista especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), elogiou os resultados do estudo, destacando sua importância. Ela aponta que, embora avanços como vacinas, medicamentos modernos e melhor controle de doenças tenham contribuído para aumentar a expectativa de vida em todo o mundo, muitas vezes essa longevidade não vem acompanhada de qualidade.

A pesquisa de Nguyen vem para mudar esse cenário. “É um belo resultado”, comenta Pinto, ressaltando que a adesão a esses oito hábitos não só prolonga a vida, mas garante que ela seja vivida com mais saúde e bem-estar. Essa abordagem preventiva é vista como um caminho para corrigir o descompasso entre viver mais e viver bem.

O estudo, portanto, não apenas reforça a importância de um estilo de vida saudável, mas também oferece um guia prático para quem deseja alcançar uma idade avançada com maior vigor e qualidade. Essas descobertas representam um avanço significativo na área da nutrição e gerontologia, abrindo portas para futuras pesquisas e aplicação prática dos resultados no cotidiano das pessoas.

Confira os hábitos apontados pelo estudo

Não fumar

Há uma relação clássica entre tabagismo e câncer de pulmão. Mas, de acordo com o Ministério da Saúde, o cigarro está associado a mais de 50 doenças. Para ter ideia, os fumantes correm um risco cinco vezes maior de infarto, bronquite crônica e enfisema pulmonar, e uma probabilidade duas vezes maior de derrame cerebral.

Depois de cinco a 10 anos de parar de fumar, o perigo de infarto já se torna igual ao de indivíduos que nunca tiveram o hábito. Simone lembra que há recursos terapêuticos para auxiliar no abandono do cigarro, como remédios e psicoterapia.

Praticar exercícios físicos

A Organização Mundial da Saúde preconiza 150 minutos de atividade física por semana. “Não é tão complexo. Mas, às vezes, as pessoas acham que arrumar a casa entra na conta. Mas não vale”, aponta a especialista. Ainda de acordo com ela, é preciso investir em exercícios que acelerem um pouco o batimento cardíaco, como caminhada, natação, bicicleta, e em modalidades que fortaleçam os músculos, a exemplo de pilates e musculação.

Contar com boas relações pessoais

Atualmente, uma parcela da população foca na interação com outra pessoas por meio de redes sociais. Mas, para Simone, isso não significa necessariamente que há uma relação de amizade ali – e é justamente esse tipo de laço que está associado à longevidade. “Precisa ser uma relação de qualidade. É muito importante ter uma rede de apoio, um convívio social de verdade. Tem que conversar, sair, ter uma troca”, destaca. Ela observa ainda que é essencial investir em contatos intergeracionais. “Especialmente para termos idosos aprendendo com os mais jovens, evitando, assim, que se isolem”, diz.

Não abusar de álcool com frequência

“O uso constante, descontrolado e progressivo de bebidas alcoólicas pode comprometer seriamente o bom funcionamento do organismo, levando a consequências irreversíveis”, alerta o Ministério da Saúde. Para Simone, o fato de o álcool estar muito presente em eventos sociais torna difícil a interrupção do hábito. Porém, assim como acontece com o tabagismo, há opções de tratamentos para quem decide parar de beber.

Ter boas noites de sono

Para a especialista da SBGG, esse é um hábito que tem ganhado cada vez mais destaque na manutenção da saúde em geral. “E não só na longevidade, mas até na redução de quadros demenciais”, completa. A quantidade necessária de descanso varia de pessoa para pessoa, mas, em geral, pesquisas indicam que os adultos precisam dormir entre sete e nove horas. No caso de insônia, quadro prevalente na atualidade, faz sentido buscar o apoio de um profissional de saúde. Afinal, há medidas comportamentais capazes de melhorar bastante o padrão de repouso. Em alguns casos, é possível recorrer a medicamentos.

Manter uma dieta saudável

“As pessoas sempre acham que comem bem e, quando vão ver, não é bem assim”, ressalta Simone. Para ela, pensando em longevidade, um ponto crucial que merece atenção é o consumo de proteínas, que são nutrientes necessários para a formação de músculos. “Na idade adulta, temos uma reserva muscular. Mas, lá pelos 50, 60 anos, existe uma queda, e o impacto disso é importante”, comenta. É que, com a perda de força, vem também o risco de quedas e fraturas.

Outra questão que merece destaque é a participação de itens ultraprocessados na rotina – eles costumam concentrar uma quantidade expressiva de gorduras, açúcar e sal, compostos que devem ser consumidos com bastante moderação. Para reconhecer um ultraprocessado, uma pista é olhar para a lista de ingredientes: ela tende a ter mais de cinco itens, muitos deles de nomes estranhos. O recado geral é apostar em alimentos naturais e minimamente processados.

Controlar o estresse

Para Simone, esse é um dos maiores desafios presentes na lista. “É algo muitos vezes subdiagnosticado, até porque as pessoas tendem a normalizá-lo”, justifica. Ela explica que viver sob estresse constante significa submeter o organismo a um estado permanente de inflamação, uma situação que acaba descompensando todo o metabolismo.

Por isso, é válido pensar em maneiras de manejar esse quadro, como reservar um tempo considerável do dia para se dedicar a hobbies (como ler um livro, assistir um filme, passear no parque) e a atividades reconhecidas por favorecer a saúde mental, como meditação e prática de jardinagem. Os exercícios físicos também são grandes aliados nesse sentido.

Não se tornar dependente de opioides

Essa classe de remédios é conhecida por aliviar dores crônicas. Só que o uso constante pode gerar dependência. Simone nota que esse é um problema muito presente na realidade dos Estados Unidos – justamente de onde vem o estudo. “É uma questão muito séria”, observa. Tanto que o vício nesses medicamentos figura entre as principais causas de mortes entre jovens americanos hoje em dia.

A experiência pode servir de alerta para o Brasil, até porque há dados que apontam para um aumento de uso por aqui nos últimos anos. Segundo um levantamento da Anvisa, o número de prescrições médicas de opiáceos vendidos nas farmácias em 2009 foi de 1.601.043 e, em 2015, passou a 9.045.945 – é uma disparada de 465%.

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