O público presente no AuditórioMondercilPaulo de Moraes, no Ministério Público, em Porto Alegre, assistiu a três estudantes subirem ao palconesta sexta-feira (17/11) para receberem reconhecimento e prêmios por seus trabalhos artísticos sobre a temática da integridade. O Projeto Escola Íntegra (PEI), da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (Cage), anunciou as vencedoras durante evento da Rede de Controle da Gestão Pública no Rio Grande do Sul (Rede RS). O governador Eduardo Leite esteve presente no evento.
Leite falou na abertura do encontro, chamando a atenção para a necessidade de os governos oferecerem instrumentos que garantam o comportamento ético – daí a importância de projetos que façam a sociedade pensar sobre o assunto.
“O que é público não significa que não seja de ninguém; na verdade, é de todos. Nem sempre há essa compreensão, e isso faz com que se tenha pouco cuidado com recursos e com o patrimônio público. Para que possamos ter cuidado com o que é público são necessários instrumentos que garantam integridade e evitem a possibilidade de corrupção”, disse o governador.
Dentre 522 inscritos, a primeira colocada foi Maria Clara FragaParonetto, 17 anos, da Escola Florinda Tubino, localizada no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Ela recebeu R$ 2 mil. A jovem escreveu um poema sobre o tema, buscando fazer uma comparação entre os benefícios de atitudes íntegras e os males causados pela corrupção. Um dos trechosda obraé “Integridade/11 letras de pura complexidade/Aquele que faz o certo sem fiscalização/E é inteiro na sua convicção”.Emoutro,é dito:“Corrupção/9 letras que juntas arruínam uma nação”.
Apaixonada por arte, a adolescente não perde a oportunidade de escrever poemas em trabalhos escolares. Quando viu o edital, colocou em prática a habilidade.
“Todo o processo foi legal. Foi interessantenotaro tema da integridade na minha rotina, e aí comecei a ficar mais atenta a isso, percebendo como se insere na escola e na política”, contouMaria Clara.
O segundo lugar ficou com Thais da Silva Pacheco, 18 anos, da Escola Japão, no bairro Jardim Sabará, que recebeu R$ 1,5 mil. Ela gravou uma música falando sobre os desejos da população por uma sociedade mais íntegra e sobre os efeitos negativos de atitudes corruptas. Um trecho da canção diz que “a população está cansada; a sociedade está incomodada”, mas pede: “ainda assim, tem que lutar”.
“Eu gostava de cantar desde pequena, mas compor é algo novo, que comecei há pouco. Me interessei porque vi que integridade tem a ver com corrupção, e aí compus em cima disso”, detalhoua estudante.
Já na terceira colocação, com premiação de R$ 1 mil, ficou Ana Luísa Coelho de Azevedo, 18 anos, da Escola Padre Réus, no bairro Tristeza. Ela fez uma pintura em tela que mostra um furacão saindo de uma mala de dinheiro, afundando uma cidade. A imagem está acompanhada da frase “a corrupção age como o furacão, desestabilizando nossos pilares sociais”.
“Sou muito ligada à arte e gosto de pintar desde criança. Até minha professora me disse que eu deveria fazer uma pintura. Pesquisei bastante e, com a ajuda do meu irmão, fuielaborandovárias ideias e consegui chegar a essa”, relatouAna.
A Escola Padre Réus foi a que registrou o maior número proporcional de estudantes participantes dentre os matriculados e, por isso, foi contemplada com R$ 5 mil. Já o alunoGabriel da Rosta Santos Vieira, da Escola Dom Diogo de Souza, no bairro Cristo Redentor, venceu o sorteio dentre todos os inscritos e recebeu R$ 500.
Incentivo à cultura da ética e do combate à corrupção
O PEI é o primeiro concurso estadual sobre integridade e, nessa primeira edição, foi destinado a estudantes do Ensino Médio matriculados nas 74 escolas estaduais de Porto Alegre – eles foram convidados a enviar manifestações artísticas como poesias, desenhos e redações. O objetivo da iniciativa, criada pela Cage em parceria com a Secretaria da Educação (Seduc), é difundir a cultura da ética e do combate às mais diversas formas de corrupção entre os alunos daRedeEstadual. O projeto também promove palestras sobre legalidade e moralidade no ambiente escolar, além de disponibilizar cartilhas educativas a professores e estudantes.
O presidente da Rede RS e contador e auditor-geral do Estado adjunto,JociêRocha Pereira, também destacou a necessidade de fazer com que a temática seja debatida por diferentes setores.
“Levar a discussão de temas como moralidade, ética e integridade para a comunidade escolar também deve estar no foco de atuação dos órgãos de controle, porque são esses jovens os futuros empresários, gestores e servidores públicos”,afirmou.
Dentre os alunos inscritos, a participação mais expressiva foi a do primeiro ano do Ensino Médio. Foram mais de 360 estudantes– mais que o dobro em relação às outras duas faixas de turmas.
“Minha maior surpresa foi como eles entenderam a temática da integridade e se engajaram. Essas são ferramentas para que esses jovens sejam agentes de combate à corrupção no futuro”, comemorou o coordenador do PEI e auditor do Estado, Álvaro Santos.
“Eles aprenderam fazendo arte. E tudo isso foi possível graças à comunidade escolar que está aqui”, completou a também auditorado EstadoAlineCasellaAmirati.
Para o ano seguinte, a ideia é ampliar o alcance do concurso para outras regiões do Estado. Também haverá prêmios para os professores mais engajados no projeto.
Seminário
A premiação do Projeto Escola Íntegra ocorreu durante o Seminário em celebração ao Dia Internacional Contra a Corrupção, promovido pela Rede RS. O objetivo do evento é disseminaras ações desenvolvidas pelos órgãos de controle e aproximá-los da sociedade, além de promover o debate a respeito da temática de integridade pública e privada.
O seminário contou ainda com a palestra intitulada “Cultura de integridade: educando no presente para mudar o futuro”, de MarceloZenkner, um dos maiores especialistas na área de integridade no Brasil. Doutor em Direito Público pela Universidade Nova de Lisboa com uma pesquisa sobre integridade governamental e empresarial,Zenknerpossui mais de 25 anos de experiência.
Zenknerapresentoudiferentes conceituações da palavra “integridade”, dentre elas a da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que relaciona o termo a uma resposta estratégica e sustentável contra a ineficiência e contra a corrupção. Também explicou que integridade é fazer o que é certo ainda que ninguém esteja observando. O especialista defendeu que o país jápassou pelas duas primeiras ondas do movimento pela integridade (corporativa e de estatais) e que, hoje, vive a terceira onda.
“Desde 2017, vivemos a integridade pública, da administração pública brasileira. Estamos vendo a história acontecendo”,assegurou o palestrante.
Zenknertrouxe oito vetores relacionados à integridade pública: compromisso da alta administração; reputação; estrutura autônoma para gestão da governança e do compliance; gestão de riscos dos órgãos de execução; sustentabilidade e responsabilidade social; transparência; aperfeiçoamento funcional pela inovação; e padrões de integridade.
Texto: BibianaDihl/AscomSefaz
Edição: Felipe Borges/Secom
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