Em Estrela, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Moinhos foi uma das mais atingidas pela inundação do rio Taquari e, após os esforços dos membros da comunidade, os 159 alunos puderam retornar às aulas nesta terça-feira (19/9). Com poucos espaços ainda, a equipe da escola realizou uma atividade com os estudantes, oportunizando que eles compartilhassem suas percepções sobre os acontecimentos e como a vida de cada um foi afetada pelo desastre natural.
Desde o primeiro momento da chegada, os alunos foram recebidos com gestos e frases acolhedoras. Logo na entrada, ao lado de um cartaz de “Bem-vindos”, as palavras “Vamos fazer tudo melhor” sinalizavam o principal objetivo da equipe da instituição – proporcionar um ambiente de recomeço para as crianças que estudam ali.
Antes de levar os estudantes para a sala, a diretora da escola, Beatris Reckziegel, falou com todos no corredor de entrada, relembrando uma atividade realizada no início de 2023, quando retornavam do recesso de Natal. “Nós iniciamos o ano com uma atividade na qual falamos sobre o que esperávamos de 2023, penduramos algumas palavras como ‘resistir’ e ‘persistir’ nas pilastras da escola. Nesse momento, é importante que nós mantenhamos esse pensamento, que possamos usar o que era nossa expectativa para sairmos mais fortes do que antes”, pediu.
Em uma roda de conversa, professores e estudantes compartilharam suas histórias sobre o dia das inundações, como cada família enfrentou a situação, para onde conseguiram ir após serem resgatados, entre outros relatos. Segundo Beatris, o momento foi importante para ajudar os alunos a se expressarem emocionalmente.
“Nós estamos fazendo um trabalho de sensibilização, de ouvi-los, deixar que falem um pouco sobre os sentimentos que eles têm nesse momento. Estávamos muito ansiosos para retomar as aulas, porque a escola sempre foi um ponto de referência, um porto seguro da comunidade, um espaço agradável para todos. Então, fizemos o possível para disponibilizar um espaço que proporcione segurança e acolhimento, para que eles possam conviver”, relatou.
A escola, como contou a diretora, foi invadida por água e lama, prejudicando diversos materiais, como documentos, mobiliários, livros e alimentos. Após o nível da inundação baixar o suficiente para que fosse possível chegar até o prédio, os momentos foram de choque e incredulidade.
Primeiro a chegar no local, o vice-diretor e professor da instituição, Rogério Sulzbach, relata como se sentiu ao entrar na escola e perceber a situação. “Só conseguimos chegar aqui com um caminhão, porque de outras formas não era possível, não tinha acesso de carro ou a pé. Pelo caminho, vimos partes de casas e telhados arrastados pela correnteza”, contou. “Quando chegamos na escola, a cena foi ainda mais triste, com a cerca derrubada e materiais orgânicos pendurados nas grades. Ao entrarmos, ficamos incrédulos, não conseguindo entender como aquilo podia ter acontecido. Em cada espaço víamos uma situação pior do que a anterior. Nos sentimos totalmente impotentes.”
O vice-diretor lembra que uma colega, no momento de choque, ainda conservava esperanças de encontrar a biblioteca da escola sem muitos prejuízos. Infelizmente, a cena não era melhor do que em outras salas, tendo sido também invadida pela água lamacenta, que alcançou até a metade da parede. Diversos volumes de livros foram perdidos e a estante que havia sido instalada há pouco tempo também foi prejudicada.
Apesar de estar localizada muito próximo ao rio, esta foi a primeira vez que uma inundação atingiu a escola, segundo afirmaram a diretora e o vice-diretor. Beatris comentou sobre como o fato alterou o lugar da Moinhos em situações como esta. “A escola nunca tinha sido afetada, sempre foi um ponto de referência e de acolhida para as pessoas do bairro. Desta vez, infelizmente, ela também foi atingida. Assim como as próprias famílias, nós também perdemos todo o mobiliário e material que tínhamos aqui”, afirmou.
Além das atividades de retorno, os alunos também receberam kits escolares, contendo mochila, cadernos, lápis, borracha, régua e caneta. Os materiais são provenientes de doações recebidas pelo Estado, que já estão sendo distribuídas para as instituições de ensino.
A escola Moinhos será uma das beneficiadas pelo valor de R$ 2 milhões destinados pelo governo do Estado para a aquisição de mobiliário. Além disso, o recurso também auxiliará outras oito instituições que foram afetadas pelas inundações.
Retorno breve
O retorno às aulas nas escolas em cidades atingidas pelas fortes chuvas tem sido tratado como prioridade pelo governo estadual. Conforme a coordenadora da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Cássia Benini, algumas instituições serão transferidas para outros espaços, para possibilitar o retorno breve. Ela também comentou sobre o apoio de outros órgãos, como da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e da Defesa Civil, essenciais para ajudar na recuperação e agilizar a liberação das escolas.
“Outro desafio que algumas escolas vão enfrentar será o de utilizar espaços diferentes dos seus próprios. Mas é importante que nós façamos esse movimento, que é desafiador para todos”, comentou Cássia. “Estamos com toda a equipe pensando para que o restabelecimento seja rápido e que os estudantes estejam nas escolas o mais breve possível. Susepe e Defesa Civil foram parcerias importantes, incansáveis na limpeza das escolas e na distribuição de gêneros alimentícios, já que muitas instituições perderam tudo o que tinham.”
Até o momento, 12 instituições de ensino já tiveram autorização para iniciar novamente as atividades. Outras duas escolas, em Encantado e Lajeado, têm previsão de início até a próxima semana.
Escolas que já retornaram após as enchentes de 4 de setembro:
Colinas
Estrela
Cruzeiro do Sul
Encantado
Venâncio Aires
Lajeado
Santa Tereza
Texto: Thales Moreira/Secom
Edição: Camila Cargnelutti/Secom
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