Na manhã desta terça-feira (12), a Delegacia de Combate à Corrupção (Decor) realizou uma operação que resultou na prisão do cirurgião cardiovascular Marcel Pisani, suspeito de envolvimento em fraudes de exames no IPE Saúde. No entanto, durante a audiência de custódia no final da tarde do mesmo dia, a Justiça revogou a prisão preventiva do médico. A esposa de Pisani, a médica ginecologista Camila Pisani, também é investigada na mesma operação, mas não foi presa, assim como a médica ginecologista Caroline Gaieski Pisseti.
A operação, denominada "Doppler", foi coordenada pelo delegado Max Otto Ritter, titular da Decor em Porto Alegre, responsável por apurar suspeitas de fraudes no IPE Saúde. Segundo Ritter, a prisão de Pisani ocorreu devido ao descumprimento de medidas cautelares impostas anteriormente pela Justiça. O médico não poderia sair de Bento Gonçalves sem a autorização da justiça. Mesmo assim, viajou para Natal, no Rio Grande do Norte. Seu celular estava grampeado pela polícia, que imediatamente ficou sabendo da viagem, pedindo a prisão preventiva de Pisani.
Apesar da revogação da prisão, o médico terá que cumprir as mesmas medidas cautelares impostas antes da prisão, como não se ausentar da cidade sem autorização judicial e não atender pacientes do IPE Saúde, além do comparecimento mensal ao judiciário.
A defesa de Marcel Pisani, representada pelo advogado Rafael Meneguzzi, alegou que o profissional tinha uma viagem marcada e retornou ao Rio Grande do Sul, mostrando arrependimento. O defensor também revela que as médicas Camila Da Ré Pisani e Caroline Pissetti não têm nenhum envolvimento com as supostas fraudes, mesmo trabalhando no mesmo consultório e utilizando a mesma secretária.
A investigação da Decor sugere que a fraude envolvia a colaboração da secretária do consultório dos médicos, que também está sob investigação. No entanto, a identidade da funcionária não foi divulgada, e a reportagem não encontrou informações sobre sua defesa.
O caso veio à tona quando o IPE Saúde identificou um alto volume de exames de imagem que sequer tinham sido realizados por algumas pacientes. A investigação indica que os profissionais supostamente envolvidos utilizavam o cartão de saúde dos pacientes sem a autorização dos mesmos. "Na hora da consulta, as pacientes entregavam a carteirinha para a secretária e esse documento era passado para a realização de exames de outras especialidades, não daqueles que elas estavam consultando no momento. Em alguns casos, o mesmo cartão foi usado ao menos 10 vezes para exames que nunca foram feitos", aponta o delegado, que ainda diz que o IPE Saúde identificou, em poucos meses, cerca de R$ 700 mil gastos em exames nunca realizados.
A investigação da Decor continuará a apurar as circunstâncias da fraude e o envolvimento de outras partes no caso. Na operação desta terça-feira, 12, os agentes da Decor cumpriram, além do mandado de prisão, quatro mandados de busca e apreensão em Bento Gonçalves e um em Garibaldi. Um dos mandados foi cumprido na residência de Pisani, em Bento Gonçalves, mas ele estava em plantão na área central da cidade, onde acabou sendo preso. Em Garibaldi, os mandados foram cumpridos na casa da secretária dos médicos. Os policiais também estiveram na casa da médica Caroline Pissetti e no consultório onde os médicos realizam atendimento.