Em duas sessões com plateia lotada, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) trouxe clássicos de trilhas sonoras do cinema para o palco nas noites de sábado (19/8) e domingo (20/8). Um espetáculo de som, luzes e imagens foi a combinação para criar uma atmosfera mutável conforme cada peça escolhida.
Regidos pelo maestro Evandro Matté, os músicos, acompanhados por solistas e bailarina convidados, executaram uma seleção que abarcou desde obras que embalaram sucessos cinematográficos dos anos 1950 e 1960, comoDiamonds are a girl’s best friend, deOs homens preferem as loiras, com Marilyn Monroe, até trilhas das últimas décadas, como os temas deStar Wars,Indiana JoneseHarry Potter, todos de John Williams. O equilíbrio entre peças antigas e mais novas foi um ponto de influência na montagem do programa, conforme Matté.
“Nas sugestões do público não tinha nada do cinema mais antigo, então busquei algumas peças que pudessem equilibrar o repertório e valorizar a participação do Coro da Ospa. Tem também a questão das vozes dos solistas convidados, que podem combinar mais outro tipo de música. Então, foi tudo pensado para ter uma proporcionalidade entre o clássico e o cinema mais moderno, recente. Ainda assim, cerca de 70% dessa edição é composta de músicas escolhidas pelo público”, ressaltou.
Apesar de ser um projeto existente há alguns anos, o Música de Cinema ganhou uma nova roupagem em 2015, quando Matté assumiu a direção artística da Fundação Ospa. Além da execução das trilhas sonoras, nas apresentações foram incluídos efeitos visuais que interagem com cada música, ampliando a experiência do público. Entre os elementos que buscam essa aproximação está a exibição de trechos dos filmes ao qual pertence a obra tocada, possibilitando que os espectadores sintam uma ligação maior entre as duas mídias.
Para o presidente da Fundação Ospa, Gilberto Schwartsmann, o Música de Cinema é uma oportunidade para a instituição conquistar um público diferente do habitual. “Ver a sala da Ospa repleta é uma grande satisfação. Vejo o Música de Cinema como uma chance de atrairmos um novo público para as nossas apresentações e mostrar que uma orquestra vai muito além do que já está consolidado na visão das pessoas”, comentou.
Como parte da programação especial, a bailarina Gabriella Castro apresentou um número de sapateado ao som deSingin’ in the Rain, coreografada e cantada por Gene Kelly para a película de 1952. Em sincronia com o ritmo alegre da canção, os sons produzidos pelos sapatos trouxeram para o público a sensação de estar na cena do próprio filme.
O desafio de entregar um espetáculo que as pessoas possam sentir e se conectar perpassa todo o processo desde a escolha do repertório até a preparação dos artistas, que usam seus talentos para fazer uma interpretação à altura das peças selecionadas.
O tenor Juliano Quites, do Coro da Ospa, um dos solistas da edição 2023 do Música de Cinema e responsável pelo vocal deCircle of Life, da abertura deO Rei Leão, destacou o processo de sua interpretação, adotando a força necessária, sem cometer exageros.
“Algo muito importante e que precisei cuidar foi ter uma boa pronúncia, em especial da parte em zulu. O mais desafiante foi não fazer algo que forçasse demais, mas que passasse a mensagem da música, que é forte no começo e suaviza no decorrer. Sair momentaneamente do coro, onde nós trabalhamos com a projeção de voz, e ser capaz de ter esse controle das notas foi algo essencial”, comentou.
A solista Mariel Motta, ganhadora do Festival da Canção Aliança Francesa de Porto Alegre de 2021, que interpretou os clássicosLa Vie en RoseeDiamonds are a girl’s best friend, eternizadas, respectivamente, nas vozes de Edith Piaf e Marilyn Monroe, explicou que, em sua preparação, costuma assistir aos filmes para ter referências e estudar os gestos.
“Essa é uma das dificuldades para trabalhar o repertório, já que cada música tem um estilo e sonoridade diferentes. Busco adaptar o que era feito nas versões originais em questão de gestuais e vocal, então coloco algo mais do meu estilo na interpretação, no meu entendimento daquela cena. Mesmo no caso da Piaf, o arranjo que nós apresentamos foi algo mais moderno, voltado para o gypsy jazz, então foge do que já é conhecido como próprio da cantora”, afirmou.
Ainda com a participação dos cantores, a música tema deAladdin,A Whole New World, foi interpretada pelo dueto, com Quites no papel do personagem-título e Mariel como Jasmim. Solistas e público compartilharam nostalgia e encantamento.
Parte da programação da Semana do Patrimônio Histórico, promovida pela Secretaria da Cultura (Sedac), o Música de Cinema foi a última parada da agenda oficial do governador Eduardo Leite, que acompanhou o espetáculo no domingo (20/8) na companhia de Schwartsmann, do secretário da Casa Civil, Artur Lemos, e do diretor do Núcleo de Conservação da Memória e do Patrimônio Cultural do Palácio Piratini, Mateus Gomes.
Antes do início do espetáculo, Leite ressaltou a importância de ações como a Semana do Patrimônio. “Nós criamos essa ação quatro anos atrás e ela serve para nos lembrar o quanto é necessário que preservemos o patrimônio físico e cultural do nosso Estado. É através das construções históricas e tradições do nosso povo que devemos pensar o nosso futuro”, asseverou.
Texto: Thales Moreira/Secom
Edição: Vitor Necchi/Secom
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