A Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves fez um alerta importante e perigoso nesta semana. A entidade, que auxilia pessoas acometidas pela doença a se recuperarem, revelou a demora de mais de 60 dias no atendimento aos pacientes. O problema vem acontecendo no Sistema Único de Saúde (SUS) e as dificuldades para conseguir consultas médicas e atendimentos básicos é cada vez pior.
Uma lei promulgada em maio de 2013 (Lei 12.732/12) – 10 anos atrás – determina que o tratamento oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a pacientes com câncer precisa iniciar em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico da doença. Segundo a presidente da Liga, Maria Lúcia Severa, não é o que vem ocorrendo em Bento Gonçalves. “Estamos recebendo um número alarmante de pessoas que chegam até nós em busca de ajuda por não conseguirem a devida assistência e não terem o início de seu tratamento no prazo estipulado pela lei”, conta a presidente da entidade. “Essa demora pode ser fator determinante para o sucesso ou não do tratamento, para a vida ou morte daquela pessoa. É uma situação muito grave”, diz.
O problema já tinha sido relatado pelo vereador Luiz Gromowski (Progressistas) em sessão no Legislativo no ano passado. Acometido pela doença, o parlamentar relatou que demorou mais de três meses para conseguir um atendimento. "É preciso olhar com mais atenção para as pessoas acometidas pelo câncer. Uma espera dessas pode matar uma pessoa", destacou o vereador à época.
O relato da presidente da Liga, mostra que a situação piorou de lá pra cá. Ela informa que diversos pacientes chegam até a Liga de Combate do Câncer com os laudos de diagnóstico confirmando a ocorrência da doença e, inclusive, qualificando o caso como sendo urgente. Mesmo assim, essas pessoas não conseguem iniciar o tratamento pelo SUS. “As alegações são diversas, mas a mais frequente é de que não existem leitos suficientes, de que não existem vagas disponíveis, de que as agendas para exames e consultas estão lotadas. E assim as pessoas vão ficando sem assistência, assistindo à progressão da doença sem qualquer suporte”, lamenta a presidente.
Nessas situações, a entidade direciona esforços para exigir o cumprimento da Lei, interagindo diretamente com os poderes públicos responsáveis e até mesmo articulando com parceiros a apoiadores da causa em favor dos pacientes. Em algumas vezes, obtém sucesso. “Mas o fato é que esse não é papel da entidade. É dever do Estado garantir o atendimento a todo cidadão que necessita. Os casos que chegam até a entidade são uma minoria. Quantas outras pessoas estão nessa mesma situação, de estarem diagnosticadas com a doença, mas sem acesso ao tratamento no tempo previsto? É uma questão muito séria de saúde pública”, diz Maria Lucia.
A precocidade – tanto do diagnóstico quanto do início do tratamento (cirurgia, radioterapia ou quimioterapia) – é fundamental para aumentar as chances do paciente frente à doença. “Trabalhamos tanto no sentido de orientar as pessoas a adotarem estilos de vida saudável, a manterem sua rotina de exames em dia, a descobrirem um possível câncer o quanto antes, e tudo isso acaba perdendo o sentido quando nos deparamos com esse tipo de cenário, que atribuímos a uma deficiência que se agravou por conta do Sistema de Gerenciamento de Consultas (Gercon) na condução desses processos. É imprescindível que o poder público que gerencia a questão da saúde busque a tomada de providências”, cobra a presidente.
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