A Biblioteca Pública do Estado (BPE), instituição da Secretaria da Cultura (Sedac), receberá, na sexta-feira (7/7), às 18h30, o escritor, editor e crítico literário Luiz Maurício Azevedo para falar sobre o tema “Machado de Assis: estética e raça”, no Salão Mourisco da BPE. O evento acompanha a mostraSingular ocorrência: 184 anos de Machado de Assis, que está sendo apresentada na sala Borges de Medeiros desde o dia 15 de junho. A entrada é franca e destinada a estudantes e apreciadores da obra de Machado.
O destacado escritor da literatura brasileira era negro, mas só recentemente essa informação está sendo reconhecida. O evento pretende discutir algumas das razões que levaram a história da literatura brasileira a esconder a cor de Machado de Assis.
Retratado erroneamente por décadas como branco, o escritor, que é neto de africanos alforriados, foi sendo embranquecido ao longo da história. Em 2018, a faculdade paulista Zumbi dos Palmares desenvolveu a campanha "Machado de Assis real", manipulando, por meio de programa digital, o retrato mais conhecido do escritor a fim de recriar sua real aparência. Essa imagem recuperada pode ser apreciada na exposição, assim como outras que fazem parte de sua iconografia.
“Machado é a expressão máxima da derrota do racismo brasileiro, uma derrota que é, ao mesmo tempo, estética e radical. Estética porque ele é o ponto alto de nossa capacidade linguística; radical porque o texto de Machado encontra na origem da sociedade brasileira um futuro”, explica Azevedo.
Sobre a exposição
A mostra “Singular ocorrência: 184 anos de Machado de Assis”, com curadoria de Cláudia Antunes, está localizada na Sala Borges de Medeiros da BPE, e pode ser visitada até 26 de agosto.
Na exposição, o visitante irá encontraras primeiras edições do escritor, documentos sobre sua vida e obra, uma revisão da crítica literária sobre Machado e uma grande variedade de iconografia referente a ele.
O título da mostra remete ao contoSingular ocorrência, publicado emHistórias sem data, pela editora Garnier, em 1884, três anos apósMemórias póstumas de Brás Cubas. A escolha do nome se estabelece pela premissa de que o próprio Machado foi um escritor singular na história da literatura brasileira.
Entre os destaques da exposição, encontram-se as primeiras edições das obrasPáginas recolhidas,Poesias completas,Dom Casmurro,A semanaeRelíquias de casa velha. Além disso, vale ressaltar que, entre os primeiros textos da crítica literária, estão os estudos de autores gaúchos, como Alcides Maya, Augusto Meyer, Moysés Vellinho, Guilhermino Cesar e Flávio Loureiro Chaves.
A biblioteca de Machado de Assis foi recriada no espaço da exposição a partir de uma pesquisa realizada por Jean Michel Massa e José Luís Jobim. A BPE reuniu alguns dos títulos que, certamente, fizeram parte da biblioteca do escritor – e que foram escritos, inclusive, no idioma original. A amostra de livros constitui um esforço de demonstrar os autores que foram fundamentais na obra de Machado de Assis e lhe serviram de inspiração. São eles: Eça de Queiroz, Shakespeare, Edgar Allan Poe, Luiz de Camões, Miguel de Cervantes, Victor Hugo, Honoré de Balzac, Dante Alighieri e os brasileiros Gregório de Matos e Gonçalves Dias, entre outros. Todos os livros que estão na mostra fazem parte do acervo da BPE.
A mostra apresenta também uma faceta pouco conhecida do autor: a de tradutor. Machado traduzia do francês e do inglês, e estudava grego e alemão. “Alguns títulos de grandes nomes da literatura universal, como o poemaO corvo, de Edgar Allan Poe, eOs trabalhadores do mar, de Victor Hugo, foram conhecidos pelos leitores brasileiros por intermédio do criador deDom Casmurro”, explica a curadora.
O horário de visitação é de segunda a sexta-feira das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 17h, sempre com entrada gratuita.
Como o autor é tema recorrente para o ingresso na universidade, a BPE disponibiliza visitas de escolas, com acompanhamento de profissionais da instituição, mediante agendamento pelo e-mail[email protected].
Sobre Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839. Era filho de uma família pobre, descendente de negros alforriados e de uma portuguesa da Ilha de São Miguel.
Transitou por vários gêneros literários: teatro, crônica, conto, poesia e romance. Atuou como jornalista e crítico literário, e trabalhou, paralelamente, como servidor público.
Era extremamente dedicado às letras, autodidata e talentoso, o que lhe garantiu acesso e respeito junto às altas rodas de intelectuais da época, sendo um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Contudo, era bastante tímido, talvez por possuir algumas condições que limitavam o convívio social: sofria de gagueira, epilepsia e dependia do salário de servidor público para sobreviver.
Foi casado com a portuguesa Carolina Augusta. A partir dessa relação, pôde se aproximar da comunidade portuguesa e ascender socialmente, apesar da diferença de raça, que era um forte fator de exclusão na época. Machado e Carolina não tiveram filhos.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. Sua obra foi de fundamental importância para a literatura brasileira e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público, tendo sido traduzida para mais de 35 idiomas e adaptada para cinema, teatro, quadrinhos e outros formatos.
Sobre o palestrante
Luiz Maurício Azevedo nasceu em Cascavel, em 1980. É doutor em Teoria e história literária, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com período sanduíche na Rutgers University. Possui dois pós-doutoramentos, um pela Universidade de São Paulo (USP) e outro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2021, recebeu o prêmio Açorianos de literatura. E em 2022 foi um dos autores convidados do programa principal da Flip, a festa literária internacional de Paraty. Atualmente, Azevedo mora em Porto Alegre, onde atua como editor de livros e crítico literário.
Texto: Cláudia Antunes/Ascom BPE
Edição: Felipe Borges/Secom
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