A situação da saúde de Bento Gonçalves pode entrar em colapso em um prazo muito curto de tempo. Antes mesmo da chegada do inverno, onde aumentam as internações hospitalares, a Prefeitura de Bento Gonçalves está agindo silenciosamente e providenciando o fechamento da sua principal ala de internação da Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas (UPA 24 Horas). A ordem é que, a partir da semana que vem, nenhum paciente seja mais internado no terceiro andar da unidade, que possui 40 leitos e foi construído em tempo recorde em um inédito mutirão comunitário realizado durante a pandemia do novo coronavírus. A falta de profissionais para atuar no local seria a desculpa.
A informação é negada com veemência pelo secretário municipal de Saúde, Gilberto Junior, que informou à reportagem que os leitos continuam sendo utilizados normalmente. Segundo o secretário, dos 40 leitos existentes, 24 estão sendo utilizados para receber pacientes. "Não vamos fechar a ala de internação, isso não existe", afirmou o secretário.
Porém, médicos que atuam na UPA 24 Horas revelaram que a ordem recebida é para que nenhum paciente seja internado na ala de internação do terceiro andar. Na manhã desta quinta-feira, 24 de maio, dos 24 leitos que vinham sendo utilizados, apenas seis pacientes ainda ocupam a ala de internação. Somente casos de extrema urgência serão levados para esta ala a partir da semana que vem. A ordem seria zerar a permanência de pacientes no local até domingo, 28 de maio.
Para atender o grande número de pedidos de internação, serão utilizados somente os locais chamados de ala vermelha, com 6 leitos, e ala amarela, com outros 8 leitos. Ultrapassando 14 pacientes internados, a ordem é utilizar os leitos na ala psiquiátrica, fato que teria ocorrido já na segunda-feira, 22 de maio.
Unidade não tem técnicos e enfermeiros suficientes para atender ala de internação
Segundo alguns funcionários que trabalham na UPA 24 Horas, não há técnicos de Enfermagem e enfermeiros suficientes para atender a ala de internação. Seriam necessários 16 técnicos por dia, somente no terceiro andar, mas a prefeitura de Bento Gonçalves vem trabalhando com 8 há um bom tempo. As informações são de faltam 8 técnicos e mais um enfermeiro para manter a unidade funcionando de forma adequada.
A Prefeitura de Bento Gonçalves vive um dilema para resolver a situação. O poder público até abriu processo seletivo para a contratação de novos técnicos e enfermeiros, porém, pagando o pior salário da Serra Gaúcha, não tem conseguido atrair interessados. Para piorar, o município convive com a utilização de 95% dos gastos com pessoal, o que impede até mesmo o pagamento do Piso da Enfermagem para os profissionais que já estão trabalhando atualmente. "Já nos disseram que vão pagar o piso somente quando vier o dinheiro do governo federal", denunciou uma funcionária.
O vereador Rafael Pasqualotto (Progressistas) esteve vistoriando as condições da UPA 24 Horas nesta quinta-feira, 25, e ficou impressionado com o relato dos pacientes. Ele confirmou que a ala de internação está às moscas e a justificativa da coordenação da UPA é a falta de equipes para trabalhar no setor. "Há pessoas que estão há mais de 15 dias aguardando uma internação no Hospital Tacchini. Isso é inadmissível e um descaso com a vida dos cidadãos. Uma providência urgente precisa ser tomada", destacou o parlamentar
O mesmo drama estão vivendo os profissionais que atendem na unidade. Alguns técnicos de enfermagem estão fazendo até 36 horas de trabalho para ganhar um pouco mais e também não deixar "o pessoal na mão", como dizem alguns funcionários. Apesar de todas as dificuldades, são estes profissionais que seguram a UPA 24 Horas de pé, mantendo um bom atendimento, mesmo com todos estes percalços.
O relato dos servidores municipais é de que a saúde de Bento Gonçalves está na UTI, mas a prefeitura tenta mascarar ao máximo a situação crítica que ocorre nos corredores. Segundo os funcionários, além do fechamento da ala de internação, o número de leitos do SUS junto ao Hospital Tacchini foram reduzidos depois da pandemia, fazendo com que pacientes fiquem agonizando a espera de uma internação.
Ala de internação nunca utilizou os 40 leitos disponíveis
A ala de internação da Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas foi construída em 2020, em função da pandemia do novo coronavírus, que assolou o mundo na época. Empresários de Bento Gonçalves fizeram doações em dinheiro para a compra de material, cederam equipes de suas empresas, além de dezenas de voluntários da comunidade bento-gonçalvense que se uniram para construir o espaço com capacidade para atendimento de até 40 pacientes. O mutirão comunitário foi motivo de orgulho para o município e, em tese, seria um empreendimento importante para utilização no atendimento à comunidade posteriormente.
Passada a pandemia, médicos e funcionários que atuam na UPA 24 Horas denunciam que os 40 leitos nunca foram utilizados, pois não há estrutura de pessoal para o atendimento de tanta gente ao mesmo tempo. Com os funcionários que tinha, a prefeitura conseguiu manter a internação para até 24 leitos. "Hoje tem tão pouca gente trabalhando que não há como dar conta nem se colocarem 15 pacientes internados. Estamos segurando isso aqui no peito e na raça e ainda somos desvalorizados por este prefeito. Na hora que estão desesperados, vão me chamar em casa pra trabalhar, mesmo eu tendo trabalhado 24 horas no dia anterior", denunciou um servidor municipal.
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