O torcedor alviazul, o fiel, aquele que é incapaz de deixar de se sentar no gelado banco de plástico do Estádio Montanha dos Vinhedos, em noites de sensação térmica abaixo de zero graus, para ver a Divisão de Acesso, não se cansa, embora, aos poucos, a paciência se esgote. E a torcida não tem vivido dias bons ou, ao menos, esperançosos. E isso não se deve somente ao último rebaixamento, mas sim aos últimos anos. Mesmo com o êxtase do título do Interior, de 2020, e da Divisão de Acesso, de 2022, uma coisa é fato: o alviazul está longe de ser o clube que o torcedor quer ver.
Aqui, o objetivo não é apontar culpados ou tecer teses para explicar o momento que esse clube, cercado por parreirais – verdes como a sua esperança – vive atualmente. É preciso olhar para o futuro.
Pouco há o que falar dos últimos presidentes do Esportivo que passaram pelo clube. Alguns com mais sucesso, outros com menos, todos construíram um fundamental pilar para o clube: a retomada da confiança, que estava definhada nos confins de anos de dívidas e crises. Porém, uma coisa faltou em todos eles, e que precisou alguém de fora da realidade do clube fazê-la: ser ambicioso.
Em 2015, o Esportivo viveu o seu pior momento das últimas décadas, dentro e fora de campo. Vindo de uma crise identitária, por conta do caso Márcio Chagas, ocorrido um ano antes, e com severas limitações financeiras, o clube quase foi rebaixado para a Terceirona Gaúcha. Em meio a esse cenário catastrófico que vivia o ALVIAZUL, uma pessoa, que parecia não conhecer, de fato, a realidade do clube, tentou, ao menos, dar esperanças ao seu torcedor: Valdir Espinosa, vice-campeão gaúcho com o Esportivo em 1979.
Quando me refiro a ele, não é pelo trabalho desempenhado por Espinosa naquele ano. Inclusive, saiu do clube durante a Divisão de Acesso. Mas ele foi o único “corajoso” e, talvez, pouco “lúcido”, em ter cravado uma meta a longo prazo no Esportivo: estar na Série C do Campeonato Brasileiro. Não me recordo em qual ano essa meta teria que ser batida, mas é fato: mesmo pouco compreendendo a realidade do clube naquela situação, ele queria ver o clube em um outro patamar. Mas de que forma ele faria isso? Não é preciso responder. Aqui, faço um outro recorte.
Em 2019, o Esportivo completou 100 anos. Anos antes, a diretoria à frente do clube traçou a meta de colocar o alviazul na primeira divisão do Campeonato Gaúcho. O objetivo foi cumprido com êxito. Tudo que envolveu o centenário do clube contou com a participação das mais diversas esferas da comunidade bento-gonçalvense, desde o empresariado e o poder público, apoiando em ações, como o livro dos 100 anos do clube, como a própria torcida, que lotou o estádio no jogo do acesso contra o Guarani-VA – público que não se via há muito tempo no Montanha dos Vinhedos.
A festa dos 100 anos não seria uma prova de que se Bento Gonçalves quer, o município pode ter um clube do seu tamanho? O discurso é sempre o mesmo: as empresas, embora sejam muitas, não apoiam o clube. Mas por qual motivo? Será que a desconfiança ainda impera? O futebol perdeu o seu valor na cidade? Ou será mesmo a falta de ambição, uma vez que o clube mal consegue se manter na elite do futebol gaúcho?
Todos os mandatários que passam pelo Esportivo têm como objetivo deixar o seu legado e, sobretudo, fazer o clube crescer. Porém, está na hora de criar uma linha contínua de evolução, que deve ser perpetuada pela ambição por quem passa pela diretoria.
É preciso traçar metas a longo prazo e com planejamento detalhado. Fala-se tanto nos preciosos cuidados com a saúde financeira do Esportivo ano após ano, muitas vezes comparando o clube com uma empresa. Porém, como qualquer negócio, é necessário elencar objetivos visando o seu desenvolvimento, o que não parece acontecer no clube.
Em 2021, quando o Esportivo contava com a vaga garantida na Série D do Campeonato Brasileiro, cogitou-se em abrir mão da participação na competição nacional. Após a bela campanha protagonizada pelo alviazul, que alcançou as oitavas de final, o próprio presidente da época afirmou que, de fato, estava equivocado pela intenção de talvez não a disputar. A experiência obtida naquela ocasião foi preciosa para o clube, que entendeu que o caminho para alcançar um calendário cheio por meio de uma competição de nível nacional não é inviável e, muito menos, impossível. A mensagem deixada pelo técnico Rogério Zimmermann foi justamente procurar, por meio das competições nacionais, um calendário de janeiro a dezembro, tornando o clube cada vez mais profissional em sua organização, dentro e fora dos gramados.
Infelizmente, neste ano, observamos novamente a mesma dificuldade que vem à tona em praticamente todas as trocas de gestões: o Esportivo terá um candidato para presidente? As eleições ocorrem somente entre outubro e novembro, mas para um clube que está com suas atividades no departamento profissional encerradas em 2023, o futuro do alviazul para o ano que vem deve ser levado como prioridade. Depois, haverá muito tempo para que essa ambição seja criada. Desta forma, existirá um ponto de partida para que, então, a comunidade de Bento Gonçalves se sinta engajada em prol de um objetivo.
A ambição que o Esportivo e Bento Gonçalves como um todo terá, ou não, vai definir o futuro desse clube que tanto colocou a Capital Brasileira do Vinho em evidência.
“Verde como os parreirais, é assim a nossa esperança”.