A distância entre Bagé e Alabama, nos Estados Unidos, foi superada pelo sonho de quatro estudantes da rede estadual de ensino. Na sexta-feira (14/4), os alunos Isabélli Marques, Sofia Cuadros, Bernardo Freitas e Carlos Eduardo Munhoz, da Escola Estadual Frei Plácido, do município da região da Campanha, embarcaram rumo à cidade americana de Huntsville. Eles desenvolveram um projeto de inovação que foi selecionado pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) e competirão no desafio Nasa Human Exploration Rover Challenge, que incentiva estudantes de todo o mundo a projetar, construir e testar tecnologias de exploração espacial.
Os estudantes do município gaúcho são os únicos brasileiros participantes da competição, que conta com mais de 60 equipes de 30 países. Eles desenvolveram um protótipo de veículo movido a pedaladas e projetado para atravessar a superfície simulada de Marte e da Lua. O circuito pelo qual o protótipo passará na disputa inclui dez obstáculos ao longo do caminho, além de missões como a coleta de água. O veículo foi chamado de Robotchê, nome escolhido por uma votação nas redes sociais.
O governo do Estado custeará todas as despesas da viagem, incluindo hospedagem, passagens aéreas, alimentação e o transporte do protótipo rover (veículo robótico utilizado na exploração espacial).
A secretária da Educação, Raquel Teixeira, esteve no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, onde os alunos embarcaram. Ela conversou com os jovens e os parabenizou pela conquista. “O governo do Estado acredita no potencial da juventude. A escola é um espaço de desenvolvimento e experiência, e por isso o governo está financiando a viagem desses alunos que conseguiram a façanha de disputar uma premiação da Nasa. Foi a única escola do Brasil classificada e o governo estadual reconhece, valoriza e apoia essa conquista”, disse.
Para Raquel, a conquista dos alunos de Bagé é uma demonstração das perspectivas que a educação pode oferecer. “A educação é transformadora. A mente de uma pessoa é do tamanho dos conhecimentos que ela tem. Quanto mais expande os conhecimentos, mais ela entende o mundo e é capaz de analisar cenários”, observou.
Os jovens competidores cursam o segundo ano de Mecânica do ensino técnico e viajarão acompanhados da diretora da escola, Sônia Machado Trindade. “Sentimos muito orgulho dessa equipe. Eles trabalharam por meses para viabilizar esse projeto”, disse a educadora. “A escola atende o ensino regular Fundamental e Médio e o ensino Técnico, que eles cursam. Incentivamos muito os projetos. Será uma experiência única para eles, um sonho que já é realidade.”
Isabélli, 16 anos, inscreveu o grupo na competição. O seu interesse pela Nasa vem de alguns anos. Partiu dela a iniciativa de unir os colegas para o desenvolvimento do projeto. “Sempre gostei da área espacial e costumava navegar no site da Nasa. Um dia achei uma aba de oportunidades e foi perfeito. Ali encontrei o que procurava, essa competição que recebia pessoas de fora. Quando entrei para o técnico em Mecânica, encontrei a oportunidade perfeita e montamos a nossa equipe para participar do desafio. Vamos disputar os prêmios da competição, mas nosso prêmio já é estar lá vivendo tudo isso”, disse.
Os estudantes trabalharam durante sete meses no desenvolvimento do Robotchê, acompanhados pelo professor Rodimar Acosta. Bernardo, 15 anos, lembrou dos longos dias em que o grupo esteve dedicado ao projeto, incluindo ajustes e testes. “O coração está a mil. Passamos inclusive o período de férias trabalhando no protótipo. Lembro que não parava em casa, chegava a ficar das 7h até as 21h na escola trabalhando para dar em alguma coisa. E deu, estamos indo para Nasa”, comemorou.
Carlos Eduardo, 18 anos, será um dos responsáveis pela tração humana que move o Robotchê. Ele pedalará ao lado de Isabélli e contou que a preparação envolveu exercícios físicos e de concentração. “É um carro de exploração espacial que vai passar por um circuito com obstáculos e coleta de amostras. Foi projetado para isso e não pode haver contaminação cruzada. Eu e Isabélli vamos pedalar, então estamos com a adrenalina muito alta”, contou “São cerca de oito minutos para completar o circuito. Nos preparamos fisicamente e mentalmente”, contou. O limite estipulado para completar o percurso tem a ver com o tempo disponível de oxigênio para um explorador na Lua.
O jovem está empolgado e feliz. Lembrou da brincadeira que costuma ser feita entre os familiares. “É aquela coisa que todo mundo diz, de o brasileiro ter que ser estudado pela Nasa. Lá em casa, quando alguém fazia uma gambiarra, sempre brincavam com isso. E agora eu estou realmente indo para a Nasa”, comentou.
A oportunidade de viajar para outro país e conhecer uma nova cultura também empolga os estudantes. Sofia, 15 anos, nunca saiu do Rio Grande do Sul. Ela lembrou do orgulho dos familiares ao contar que o projeto havia sido selecionado para a competição da Nasa. “De repente todo mundo começou a chorar”, lembrou.
No aeroporto, a ansiedade dividia espaço com as brincadeiras e a amizade formada entre os colegas e parceiros de equipe. “Está sendo uma experiência muito feliz e estou muito ansiosa. Vai nos trazer muito conhecimento, vamos ter a oportunidade de conhecer pessoas do mundo todo. Nunca imaginei isso quando comecei o técnico”, comemorou Sofia.
A equipe vai desembarcar em solo norte-americano em 16 de abril. Depois, nos dias 17,18 e 19, ocorrerão as montagens e os ajustes do rover, quando serão realizados os testes que antecedem o evento. A competição acontece entre 20 e 22. A partir dos dias 23 e 24, ocorre a desmontagem do rover e a preparação para o embarque de retorno ao Brasil.
De Bagé, os familiares dos estudantes acompanharão o desafio final, já que a competição será transmitida pelo canal Nasa TV. Nas últimas semanas, os jovens receberam homenagens na Câmara de Vereadores da cidade e em eventos, deram entrevistas e sonharam com o tão aguardado momento, que teve até contagem regressiva nas redes sociais. A hora chegou. A “cidade dos foguetes”, como Huntsville é conhecida por sediar uma base da Nasa, espera pelos sonhos dos quatro bageenses, que já são uma inspiração para os jovens gaúchos e brasileiros no caminho da ciência e da tecnologia.
Texto: Thamiris Mondin/Secom
Edição: Vitor Necchi/Secom