Durante o desenvolvimento da linguagem, é comum que algumas crianças reproduzam palavras, sílabas ou frases inteiras que ouviram recentemente ou que utilizem palavras aleatórias fora de contexto. Esse fenômeno, considerado essencial nesse período, é conhecido como ecolalia.
A ecolalia é um distúrbio de desenvolvimento da fala e da linguagem, caracterizado pela repetição em eco da fala. "A criança utiliza a ecolalia como forma de treino para se aproximar da fala do adulto no que se refere à articulação, à entonação e ao significado da palavra, ou seja, na busca por uma fala mais autônoma", explica a fonoaudióloga e psicopedagoga Andréa Cristina Cardoso.
A especialista, responsável pela área de Fonoaudiologia do Núcleo de Distúrbios de Aprendizagem do Hospital Sírio Libanês, explica a que interação social, associada à compreensão da linguagem verbal e à melhora quanto ao uso funcional da linguagem, favorece a diminuição da ecolalia até o seu desaparecimento.
Quais os tipos de ecolalia?
A ecolalia é um distúrbio que pode se manifestar de três formas diferentes, sendo elas:
Tardia: ocorre quando a criança repete palavras muito tempo depois de ouvi-la, de modo que ela é empregada fora de contexto. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando a criança assiste um desenho e horas depois reproduz as palavras ou frases que ouviu
Imediata: ocorre quando elas repetem as palavras logo após de ouvi-las e, portanto, no contexto linguístico atual
Mitigada: ocorre em situações em que podem ser feitas modificações da frase ecoada, seja ela imediata ou tardia.
Por que isso acontece?
A ecolalia é um dos sintomas mais comuns em pacientes com Transtorno de Espectro do Autista (TEA), mas não é exclusivo deles. Cabe ressaltar que a ecolalia, na verdade, é parte normal no desenvolvimento infantil e pode se manifestar em qualquer criança.
Conforme alguns estudos apontam, a ecolalia imediata, em especial, sugere uma tentativa de comunicação, de forma que a repetição serviria para manter um diálogo com o outro.
Quando a ecolalia se torna um distúrbio?
Segundo a fonoaudióloga Andréa Cardoso, a ecolalia é considerada normal até, aproximadamente, 24 meses de idade quando ocorre de forma imediata.
Se após os 30 meses de idade a criança persistir no uso da fala ecolálica, especialmente de forma tardia, pode ser um sinal de alerta para quadros de Transtornos de Linguagem.
"[O comportamento] merece uma investigação especializada na área da Fonoaudiologia a fim de se estabelecer um diagnóstico diferencial e preciso, bem como a possibilidade de se realizar intervenção precoce", acrescenta a especialista.
Ecolalia e autismo: qual a relação?
O desenvolvimento atípico da linguagem é um dos aspectos mais observados em crianças com diagnóstico do TEA, um transtorno que, na maioria das vezes, não se manifesta de forma isolada.
Em 70% dos casos, crianças autistas apresentam outras condições associadas, como TDAH, ansiedade ou déficits de linguagem - e a ecolalia é um dos distúrbios mais comuns de pacientes que convivem com o TEA.
De acordo com Andréa Cardoso, a criança com TEA frequentemente utiliza a ecolalia como um dispositivo de comunicação. "[Ela] faz uso da repetição para confirmar um desejo como mecanismo de auto-regulação do comportamento (para se acalmar) ou ainda como meio de falar quando é incapaz de usar a fala autônoma", esclarece a fonoaudióloga.
Como é feito o diagnóstico da ecolalia?
O diagnóstico da ecolalia é feito através da análise de um especialista fonoaudiólogo que, levando em consideração a idade da criança, o tipo de ecolalia e outros fatores de saúde, como o autismo, pode indicar o tratamento adequado.
"Identificar qual é o uso e o tipo de ecolalia realizado pela criança precocemente permite ao fonoaudiólogo desenvolver intervenções específicas com o princípio de reduzir tal fenômeno e ampliar a função social da linguagem verbal, bem como orientar pais, educadores e demais profissionais envolvidos em cada caso", aponta Andréa Cardoso.
Como é feito o tratamento da ecolalia?
Existem inúmeros métodos que podem ser adotados para o tratamento da ecolalia, que deve contar com diversos profissionais, como fonoaudiólogos, pediatras, neuropediatras e psicólogos. O método elencado dependerá da severidade de cada caso. Segundo Andréa Cardoso, alguns deles incluem:
Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
Modelo TEACCH
PECS.
Todavia, independente do método utilizado, o fonoaudiólogo investirá na interação social e ensinamento de novas palavras em contextos linguísticos, tais como:
Cumprimentos sociais
Pronomes pessoais
Interação olho-no-olho
Mudanças comportamentais.
Dessa forma, conforme explica Cardoso, o tratamento minimiza os prejuízos que a presença da ecolalia traz ao desenvolvimento e à efetividade comunicativa da criança com seus pares e familiares. Nesse processo, a presença da família é fundamental para avaliar a evolução da criança e manter os exercícios em casa.
"Vale lembrar que nem sempre é possível extinguir a ecolalia, mas sempre se pode diminuir a sua frequência e melhorar o desempenho funcional da linguagem", explica Andréa.