Mesmo com 81 anos, o desejo por conhecimento e o amor pela educação são visíveis nos olhos do professor Vercino Franzoloso, fundador do, agora, Centro Universitário Cenecista de Bento Gonçalves. Completando o Doutorado em Educação e carregando diversas premiações, honrarias e muitas histórias, Franzoloso relembra alguns de seus momentos mais marcantes e destaca a importância do estudo na construção do indivíduo.
Vercino Franzoloso nasceu em 05 de julho de 1941, em Bento Gonçalves. Cresceu em uma residência no bairro Salgado, onde mora atualmente. Quando completou 21 anos, mudou-se para Porto Alegre para estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se graduou em Bacharel em Ciências Econômicas, ao mesmo tempo em que trabalhava no Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul).
Mesmo envolvido em números, a sua paixão era ensinar. Após a formatura, iniciou uma Especialização em Formação de Professores de Ensino Técnico Comercial na UFRGS e, depois que a finalizou, retornou a Bento Gonçalves com o sonho de criar uma instituição de ensino superior na cidade.
Como tudo começou
Nesse meio tempo em que Vercino estudava e morava na capital, Bento também foi se desenvolvendo, sendo criado em 1961 pelo padre Ernesto Sbrissa o Complexo de Ensino Cenecista, localizado hoje na rua Arlindo Franklin Barbosa, no bairro São Roque, onde mantinha, na época, apenas o ensino ginasial, depois turmas de 1ª a 4ª série e, posteriormente, o Jardim de Infância. Porém, com o passar dos anos, foram incluídos o Ensino Médio, cursos técnicos e o Supletivo – atual EJA (Educação para Jovens e Adultos).
Em 1998, após Vercino voltar à Serra Gaúcha – e trabalhar por anos como professor na Fundação Educacional da Região dos Vinhedos (FERVI) e no Centro Universitário de Farroupilha (CNEC) até chegar no cargo de diretor – decidiu que o Complexo de Ensino Cenecista de Bento Gonçalves, também do grupo CNEC, se tornaria uma instituição com Ensino Superior.
Inicialmente, a instituição foi nomeada como Centro de Ensino Superior de Bento Gonçalves e começou com os cursos de Administração em Recursos Humanos, Marketing e Gestão de Negócios. Em 2001, passou a ser a Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves (FACEBG), contando com Administração em Produção e, no ano seguinte, o de Administração na linha de formação específica de Negócios voltado para agroindústrias. Em 2004, foi iniciado o bacharelado em Enfermagem com o quadro de professores altamente qualificado, sendo a maioria doutores e nos anos seguintes, a oferta de cursos cresceu consideravelmente, atualmente oferecendo diversos cursos entre bacharelados, técnicos e licenciatura.
E tudo isso foi incentivado por um sonho de Vercino. “Conheci muitas escolas do Brasil, então tinha bastante conhecimento quando decidi colocar esse desejo em prática, além dos anos em salas de aula. Acredito que a educação é uma parte essencial na vida do ser humano e posso afirmar que fiz um ótimo serviço. Inclusive, alguns anos atrás, precisei de uma consulta com uma fisioterapeuta e, quando ela chegou disse, que eu tinha lhe dado aulas e tinha até a diplomado. Quando vejo isso, sei que fiz o certo em seguir o que acreditava – e ainda acredito”, destaca o ex-diretor e professor.
A educação nos tempos atuais
Franzoloso refletiu sobre os métodos de ensino atuais e diz que a pandemia atrasou muito o processo. “Eu acho que regredimos. Depois de dois anos de pandemia, deu a impressão que desequilibrou as instituições superiores, porque os alunos não iam mais para a Faculdade e nós também tínhamos alguém que não acreditava que a cura dessa doença era via vacinas, então isso também acumulou problemas e adiou uma retomada. Perdemos mais de meio milhão de pessoas para o Covid e isso machucou a gente. Eu, por exemplo, também peguei Covid, me recuperei, mas ainda estou fazendo todas as vacinas, pois acredito na sua funcionalidade e tenho esperança que a saúde ainda nos salve”, detalha Vercino.
O ex-diretor também frisa a questão da falta de valorização dos professores, problema que necessita ser sanado se o país almeja dar um passo evolutivo na área da educação. “Temos que valorizar mais os profissionais que trabalham na educação, principalmente aqueles do ensino superior. É preciso incentivar mais pesquisas para que eles consigam ficar no mérito de reconhecimento perante os formados, acho isso super importante, além das outras áreas da educação fundamental e profissional. Ademais, é preciso capacitar os professores e depois os pagar bem”, explica Vercino Franzoloso.
O reconhecimento dos educadores e a dedicação aos estudos, conforme salienta Vercino, só podem vir de um lugar: de casa. “A família é a base da sustentação de uma sociedade, se não tiver boas famílias, não teremos uma boa educação,” diz Vercino.
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Reconhecimento de dedicação em prol da educação
Em seus quase 82 anos, Vercino carrega diversos diplomas consigo, agora quase concluindo o Doutorado em Educação, e várias honrarias, sendo que em 2016 o prédio onde fica a Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves ganhou o seu nome: “Campus Prof. Vercino Franzoloso”, como homenagem pela criação da instituição superior e por todos os seus anos dedicados à educação.
Confira algumas de suas honrarias:
1978 - Menção Honrosa à Causa da Educação da Juventude, Colégio Nossa Sra. Aparecida.
1990 - Menção Honrosa-Contribuição no funcionamento do escritório Modelo Félix Faccenda, Colégio Nossa Sra. Aparecida.
1990 - Portaria de Louvor nº 13.805, Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves.
1997 - Menção Honrosa, Grêmio Estudantil - Colégio Nossa Sra. Aparecida.
2001 - Medalha Aristides Bertuol, Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves.
2005 - "Dar de si antes de Pensar em si", Rotary International.
2005 - Mérito Acadêmico, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
2008 - Gratidão - Homenagem pelos serviços prestados na Educação, Lions Clube de Bento Gonçalves.
2012 - Personalidade Cenecista Honorífica, CNEC.
Atualmente, Vercino é aposentado e vive com a sua tia no interior. O seu passatempo é , além de manter os estudos em dia do doutorado, a criação de perus e de sua horta. Nas paredes da casa, o professor demonstra com orgulho a sua trajetória e seus feitos, e se diz realizado com o legado deixado para a comunidade bento-gonçalvense . “É uma realização muito grande para o ego da gente no fazer para os outros. Além disso, não fiz nada sozinho. Quando saí da Faculdade, haviam mais de 100 professores e todos eles eu dava nota 10, porque de uma maneira ou de outra, eles sempre colaboraram. Talvez eu fosse aquele que estava sempre na frente, mas foram eles que fizeram o trabalho. E mesmo com as dificuldades financeiras, consegui construir o prédio da Faculdade e deixei tudo em dia, e isso dá um sentimento de satisfação, pois não deixei nada pela metade”, conclui Vercino.
Reportagem escrita por Renata Oliveira e Kévin Sganzerla