Geral E agora, MPT?
Frigoríficos encerram contrato com empresa Fênix e trabalhadores ficam sem receber
Em sua coluna, Marcelo Dargelio traz a denúncia de que trabalhadores não receberam o último salário do mês e nem a indenização, estando parados há mais de 15 dias.
19/03/2023 19h07 Atualizada há 2 anos
Por: Marcelo Dargelio

Enquanto as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton eram massacradas publicamente em todo o Brasil, a relação da mesma empresa Fênix Serviços com os frigoríficos não foi sequer analisada pelos fiscais do Ministério do Trabalho. Resultado: as empresas encerraram apressadamente seus contratos com a Fênix Serviços e os trabalhadores da terceirizada estão há 15 dias sem receber um centavo sequer. Neste domingo, 20, estive no alojamento onde eles estão aguardando seus pagamentos. Segundo relatos dos trabalhadores, eles estão passando fome e não têm dinheiro nem para irem embora. Alguns trabalharam mais de um ano catando frangos em aviários e não receberam o último salário do mês e sua indenização até o momento. Eles receberam uma única cesta básica para dividir entre 20 pessoas e a promessa de pagamento ficou para o dia 24 deste mês. Por enquanto, eles estão alojados na casa ao lado da Pensão do Trabalhador, também na Rua Fortunato João Rizzardo, no bairro Borgo. 

Fiz contato com o gerente regional do Ministério do Trabalho, Vanius Corte, que desconhecia o fato. A ordem agora é apurar os fatos para saber o que aconteceu. Segundo ele, nesta segunda-feira, 20, fiscais devem ir até a residência. Ele destacou que o contrato foi rescindido na sexta-feira, 17, e ainda estariam no prazo de pagamento das rescisões, se é que foram feitas as rescisões. Quanto ao salário de fevereiro, ele acredita que esteja pago. "Então, por enquanto, não podemos falar em mora salarial ou das rescisões", declarou Vanius Corte.

A pergunta que não quer calar? Neste caso, não caberá a tal responsabilidade subsidiária para as gigantes que utilizavam a mão de obra da Fênix? Vamos ver se os órgãos de fiscalização terão o mesmo rigor que tiveram com as vinícolas de Bento e Garibaldi, que sempre pagaram em dia todos os seus compromissos com a terceirizada e garantiam tratamento digno no ambiente de trabalho a todos os trabalhadores.

A posição da Polícia Federal em relação às vinícolas

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A investigação minusciosa da Polícia Federal não encontrou nenhum envolvimento das vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi com o caso análogo à escravidão ocorrido em Bento Gonçalves. O NB Notícias já tinha trazido uma reportagem informando que não havia ligação direta destas empresas com o caso lá em 25 de fevereiro (se não leu, leia aqui), três dias depois do resgate dos 207 trabalhadores naquela pousada na Rua Fortunato João Rizzardo, no bairro Borgo. Infelizmente, o NB é um meio de comunicação pequeno, diante da grande mídia, que tratou de jogar, de diversas formas, o nome das vinícolas e de toda uma comunidade da Serra Gaúcha na lama. Na hora de reparar a questão, o tal trabalho escravo passou a ser tratado como trabalho degradante. Por favor, nos poupem destas questões e assumam os seus erros. Ficará menos ruim do que o julgamento em praça pública a que todos nós da Serra Gaúcha, principalmente os de Bento Gonçalves, fomos submetidos.

Onde vai ser utilizado os R$ 7 milhões das vinícolas?

O Ministério Público do Trabalho (MPT) fez um acordo com de R$ 7 milhões com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton (R$ 2,33 milhões para cada uma delas) e isso todo mundo já sabe. Porém, a pergunta que não quer calar é: onde será investido todo esse dinheiro? De que forma o MPT irá utilizar esses valores em Bento Gonçalves para melhor condições de trabalho e problemas que ele diz ter encontrado por aqui? Na minha modesta opinião, os valores deveriam ter sido pagos pelo MPT às vinícolas, que tiveram seus nomes jogados na vitrine como realizadoras de trabalho escravo, como se os trabalhadores resgatados tivessem sendo açoitados dentro das empresas, sendo que lá (nas vinícolas) era o local onde eles estavam mais seguros.  

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Que tal, o nobre MPT apresentar um projeto para a construção de alojamentos, refeitórios, espaço para formação profissional de pessoas carentes e que estão à margem da linha da pobreza em Bento Gonçalves com os R$ 7 milhões do acordo? Também seria bom explicar por qual motivo os recursos não ficam em nossa cidade e vão para um fundo para combater ações em outras regiões? Coisas absurdas que acontecem no nosso Brasil.