O extrativismo de butiá é tema de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi). A pesquisa é coordenada pela mestre em Desenvolvimento Rural e doutora em Gestão, Larissa Ambrosini, e se transformou na Circular Técnica “Diagnóstico do extrativismo, processamento e comercialização de produtos oriundos de butiazais no Rio Grande do Sul”, lançada recentemente.
O projeto foi executado entre 2019 e 2021 por pesquisadores da Seapi, com a colaboração de extensionistas da Emater/RS-Ascar. A finalidade, segundo Larissa, foi realizar um diagnóstico sobre o extrativismo do butiá, fornecendo dados sistematizados acerca dessa realidade em nível estadual. “Os resultados mostram que há cerca de 5.300 hectares de butiazais em propriedades rurais no Estado e mais de 400 mil plantas distribuídas em 28 mil estabelecimentos rurais”, conta. O número de famílias que utilizam algum produto do butiazal é de mais de 16 mil. E a região Noroeste concentra o maior número de famílias que tanto coletam quanto fazem uso de algum produto do butiazal.
“Esses produtos são utilizados, sobretudo, para autoconsumo, sendo os principais: o uso do fruto in natura, a produção de cachaça ou licor (curtidos com os frutos do butiazeiro), e a produção de suco a partir dos frutos”, explica Larissa. De acordo com ela, quando há venda, os principais produtos são: frutosin natura, polpa do fruto de butiá e cachaça ou licor de butiá.
Apesar do potencial diversificado, a pesquisa mostra que atualmente a utilização da palha é muito reduzida: 7% dos entrevistados declararam usar esse produto, enquanto 95% disseram aproveitar os frutos; 22% fazem uso ornamental das plantas e 4% afirmaram utilizar o caroço (amêndoa) do butiá.
“Comparando a utilização dos produtos do butiazal entre grupos de agricultores, segundo o tipo de manejo, a pesquisa constata que a prática do extrativismo é mais difundida entre os produtores que adotam o manejo orgânico”, destaca Larissa.
Na opinião de técnicos extensionistas e de produtores rurais, o principal entrave para desenvolver o extrativismo de butiá é a falta de estrutura de processamento. E as principais vantagens são a baixa demanda de insumos e a facilidade no manejo, na opinião dos produtores rurais.
“De fato, por ser uma fruta nativa, adaptada às condições do Estado, o butiá necessita de muito pouco manejo e praticamente nenhum insumo. E esse é um fator que os próprios agricultores que já praticam o extrativismo destacam como uma vantagem”, diz a pesquisadora. “O butiá é encarado como uma renda extra, pois há o entendimento de que se trata de uma cultura que não demanda custo, nem mão de obra para o cultivo. A demanda de trabalho fica restrita à colheita e classificação dos frutos, e os custos estão relacionados ao processamento e armazenamento.”
Mais dados
O estudo aponta ainda que, atualmente, a cultura contribui pouco com a renda da maior parte das famílias. De maneira geral, 81% dos entrevistados declararam não obter renda com a extração e o processamento de produtos do butiazeiro, e 16% disseram que esses produtos contribuem de 1% a 5% para a renda da propriedade. Separando os dados por grupos, a pesquisa mostra que, entre produtores que adotam o manejo orgânico, 46% obtêm renda a partir da extração de produtos dos butiazais, enquanto entre os produtores que adotam o manejo convencional, esse percentual é de 8%.
Os produtos que mais agregam valor ao fruto do butiá são a geleia, vendida em média a R$ 34,38 o quilo; a cachaça ou licor, R$ 30,67 o litro; e a conserva de butiá, R$ 30 o quilo. A média de venda do quilograma do butiá in natura foi de R$ 7; da polpa de butiá, R$ 25,78; e o litro do suco, R$ 11,20.
Exemplos de uso da cultura
A publicação aborda também três casos de profissionais que utilizam o butiá como matéria-prima. Um deles é o da produtora rural Francielle Bellé: com sua família, foi precursora no registro de produtos à base de butiá, que atualmente é uma de suas principais fontes de renda.
Já a designer de moda Maiara Bonfanti iniciou a produção de bolsas utilizando a palha do butiazal como matéria-prima e já foi destaque em diversas publicações de moda nacionais e internacionais.
Por fim, o chef de cozinha Carlos Kristensen comanda restaurantes renomados em Porto Alegre e é criador da marca “Internacionalmente Local”. Ele aposta em usos inovadores para o butiá, como molhos salgados e mostarda.
As experiências apresentadas demonstram o potencial de agregação de valor e a geração de renda que a cultura do butiá pode representar.
Texto: Darlene Silveira/Ascom Seapi
Edição: Secom
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