A violência contra a mulher começa por atitudes que nem sempre são percebidas em um primeiro olhar, é uma proibição de usar tal roupa, um grito, uma pequena ameaça durante uma discussão, um tapa seguido de um buquê de flores e promessas de que aquilo nunca mais vai acontecer, até que se torna rotineiro. Em Bento Gonçalves em 2022, foi registrado mais de 800 emissões de medidas protetivas e um aumento de casos de lesões corporais e estupros, ligando o alerta para a crescente de casos.
De acordo com os dados da Coordenadoria Estadual da Mulher em situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em 2022 foram concedidas 883 medidas protetivas para moradoras de Bento Gonçalves, mais que o dobro de 2021 quando o número foi de 438 emissões. Já nos casos de ameaças, houve uma pequena queda, indo de 401 em 2021 para 334, contudo, nos registros de lesões corporais aumentou 28 casos, indo de 226 para 254; e nos crimes de estupro uma crescente de 10 ocorrências, saindo de 23 para 33 casos.
E esses números podem ser confirmados quando comparados as informações da Coordenadoria da Mulher e do Centro Revivi, que registraram 1996 atendimentos em 2022, sendo que em 2021 foram 1592, resultando em 404 a mais. Destes, 145 foram novas consultas, mas menos que no ano interior (247), porém houve mais situações de reincidências com 215 casos comparado a 68 em 2021. Segundo a coordenadora dos espaços, Patrícia Da Rold, isso ocorre devido a dificuldade de sair dos relacionamentos abusivos. “O número de reincidentes demonstra e reforça o quanto pode ser difícil sair de um ciclo de agressão. Em relacionamentos abusivos, a mulher tende a estar fragilizada emocionalmente, e por consequência acredita que as ofensas que o companheiro lhe dirige são verdadeiras, que não consegue viver sem ele e que não tem valor o suficiente para estar em outro tipo de relacionamento. Em outros casos, a mulher retorna ao agressor por não conseguir sustentar a si e aos filhos sozinha, haja vista que muitas vezes o companheiro a impede de trabalhar e a afasta da família. Temos, portanto, dois vieses de dependência, que por vezes caminham juntos, e que explicam o número de reincidentes: a dependência emocional e a financeira,” explica.
Contudo, o aumento do número não indica um retrocesso. Pelo contrário. Ele traz um indicador de que as mulheres estão procurando auxílio para enfrentar as violências que sofrem (patrimonial, sexual, moral, psicológica e física), sendo que em 2022 foram registrados 6892 atendimentos de mulheres que buscaram orientações, um aumento de 1784 comparado ao ano passado. "Isso é resultado do conjunto de práticas voltadas à promoção da importância da denúncia, do conhecimento da Rede de Proteção à Mulher existente no município e, principalmente, da adoção ainda maior de busca ativa. Diversas mulheres buscaram o serviço e decidiram por encerrar o ciclo de violência que se encontravam. De maneira geral, o aumento dos números pode significar, acima de tudo, que cada vez mais mulheres estão cientes da rede que lhes acolhe, estão sendo conscientizadas e, finalmente, buscando ajuda,” destaca a coordenadora Patrícia da Rold.
Uma informação importante de salientar é que não foram registrados casos de feminicídio tentado ou consumado, dado que em 2021 ocorreram três mortes e duas tentativas. E outro dado que merece atenção é que 66,9% das vítimas têm ocupação profissional ou recebem alguma remuneração, mostrando que a violência não está limitada a nenhuma condição social ou financeira
Como denunciar
- Disque 180
- Brigada Militar: 190;
- Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM): (54) 3454-2899;
- Delegacia de Pronto Atendimento de Bento Gonçalves: (54) 3452-3200;
- Centro REVIVI: (54)3055-7420.
Coordenadoria da Mulher/Centro Revivi
Complexo Administrativo - Rua 10 de Novembro, 190 - Cidade Alta
3055-7420 / 3055-7418 / 9 9132-8148
revivi@bentogoncalves.rs.gov.br
Atendimento - segunda a sexta: 8h às 17h, sem fechar ao meio-dia
Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher
A Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher é composta pelo Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, 3º BPAT – Patrulha Maria da Penha, Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher – DEAM, Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento – DPPA e Secretaria Municipal de Segurança Pública.