A bicicleta e a natureza: foi assim que o ciclista barbosense Rafael Dalcin, da Associação Garibaldense de Ciclismo (Agaci), percorreu um trajeto de 733 km pelo Deserto do Atacama nos últimos dias de 2022. O sonho de longa data se tornou realidade. Com um trajeto que passou pelo Chile e pela Argentina, o ciclista chegou a atingir durante o pedal 4.828 metros acima do nível do mar. No final, ultrapassando os seus próprios limites, o atleta alcançou o seu objetivo.
O ciclista planejava a viagem desde 2020, no então precisou adiar por conta da pandemia. Em 2022, Rafael conseguiu realizar o seu sonho. Completamente sozinho e sem apoio externo, o atleta encarou o desafio levando consigo em mochilas as suas roupas, água, alimentos, equipamentos e demais materiais necessários para eventualidades.
Conforme Rafael, o pedal iniciou na cidade de Calama, no norte do Chile, no dia 23 de dezembro, seguindo até San Pedro do Atacama. Posteriormente, cruzou a fronteira com a Argentina pelo Paso de Jama. Em solo argentino, o ciclista passou por cidades como Susques, Purmamarca, Tilcara, San Salvador de Jujuy até chegar na cidade de Salta, no norte da Argentina, no dia 28 de dezembro.
“O Deserto do Atacama é um lugar completamente isolado. Exceto algumas pequenas comunidades onde passei as noites, na maior parte do caminho não existe nada além da estrada. Era apenas eu, a bicicleta e a natureza. Precisava ser completamente autossuficiente, pois não poderia contar com apoio”, relata.
Dentre as dificuldades que Rafael encarou durante o percurso foi a altitude e, em consequência, o ar rarefeito, tornando a respiração mais pesada, e o clima do Deserto do Atacama. “Não sabia como seria a reação do corpo com o esforço no ar rarefeito, pedalando montanha acima uma bicicleta carregada, com muita bagagem. No primeiro dia que ultrapassei os 4 mil metros senti a respiração um pouco mais pesada. Precisei encontrar um ritmo de pedalada mais confortável para manter a frequência cardíaca estável. Porém, nos demais dias, o corpo se acostuma e a altitude deixa de ser um problema”, explica Rafael, que complementa:
“O clima do deserto é outro ponto completamente diferente do que estamos acostumados. O ar é seco, o sol é forte e o vento é gelado. Era possível sentir frio e calor ao mesmo tempo. Só estando lá para entender. Peguei temperaturas acima dos 36 graus, à tarde, em São Pedro do Atacama, e quatro graus negativos, à noite, no Paso de Jama. Dois dias após a minha passagem, nas proximidades do vulcão Licancabur, até houve registro de neve. No entanto, o clima foi favorável durante todo o passeio. Até mesmo a previsão de chuva na chegada em Salta não se confirmou”, destaca.
Para evitar riscos, Rafael relata que elaborou o trajeto com todo cuidado necessário, avaliando cada metro do percurso. De acordo com o ciclista, a pedalada de 733 km não teve imprevistos.
Para encarar a quilometragem, no entanto, Rafael não só apostou na sua experiência no ciclismo como também treino bastante para se acostumar a percorrer longas distâncias. “Essa não foi a minha primeira viagem com uma bicicleta e todo conhecimento adquirido ao longo dos anos de ciclismo foi muito importante. Seria interessante fazer alguns pedais preparatórios em roteiros mais tranquilos e com mais estrutura antes de encarar uma viagem no deserto. Sozinho e sem apoio é preciso estar preparado para qualquer eventualidade. Esse é um tipo de desafio que exige o máximo de preparação física e mental”, detalha.
Rafael já projeta os próximos desafios com a sua bicicleta, tanto na América do Sul como na Europa. Conforme o atleta, nos próximos meses ele já deve definir o próximo destino, planejando a viagem com antecedência. Se depender da vontade de ultrapassar os seus próprios limites e conhecer novos lugares, o barbosense ainda terá muitas experiências para vivenciar em sua trajetória na modalidade.
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