Saúde Caos na saúde
Morador de Bento aguarda há quase quatro meses por um cateterismo
Hospital que realiza o procedimento está com corte de gastos e sem previsão de retomada. Correndo um grande risco de vida, morador não tem a quem recorrer.
08/12/2022 12h11 Atualizada há 2 anos
Por: Renata Oliveira

À espera de um milagre. Assim pode ser definida a dependência de serviços públicos de saúde na região da Serra Gaúcha. Há quase quatro meses, o aposentado e morador de Bento Gonçalves, Edson Capitanio, de 66 anos, está aguardando o chamado para realizar um procedimento de cateterismo que pode salvar a sua vida. A solicitação, que era para ser urgente,  foi entregue no Posto de Saúde do bairro São Roque ainda em agosto e encaminhada para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, porém sem nenhum retorno. 

Edson já sofre com problemas cardíacos desde 2006, quando teve o seu primeiro infarto, e até 2014 precisou realizar oito processos de cateterismo (procedimento invasivo, realizado a partir da punção de uma artéria e/ou veia, com passagem de um cateter que alcança o coração). Ele já colocou três stents (prótese expansível, em formato de tubo, normalmente fabricada com metal, perfurado, que é colocado no interior de uma artéria para prevenir ou evitar a obstrução do fluxo no local por entupimento desses vasos). Na última cirurgia, a equipe médica optou por fazer uma ponte de safena e outra mamária e, neste momento, teve uma infecção hospitalar e quase não sobreviveu. 

Após esse fato, Edson Capitanio sofreu outros percalços, mas seguiu adiante, realizando todos os procedimentos necessários e usando a medicação indicada - tudo pelo SUS - porém, em abril de 2022 foi solicitado pelo médico cardiologista uma cintilografia cardíaca (exame de imagem do coração) onde foi identificado pelo profissional de saúde a necessidade da colocação de um novo stent. Nisso, Edson foi encaminhado com urgência para o Hospital Geral de Caxias do Sul e em agosto foi pedido o procedimento de cateterismo com a possível colocação da nova prótese. 

Foi então que começou a batalha de Edson. “Encaminhei a solicitação do exame na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro São Roque no mesmo mês e até o momento não fui procurado. Tentei contato com a Secretaria de Saúde da cidade e não fui atendido. Se eu não fizer o procedimento o mais rápido possível, corro risco de infartar, pois tenho insuficiência cardíaca. Já são quatro meses que estou aguardando um retorno e nada,” destaca Capitanio. 

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A reportagem do NB buscou informações a respeito do caso e descobriu que o Hospital Pompéia, de Caxias do Sul, que é referência para este tipo de procedimento cardíaco, está enfrentando sérios problemas financeiros e reduziu o número de atendimentos e de encaminhamentos de consultas. 

De acordo com as informações, a 5º Coordenadoria Regional de Saúde e a Prefeitura de Caxias estão tentando solucionar o problema para evitar a debilitação do Pompéia, mas ainda sem novidades. A coordenadora-adjunta da 5ª CRS, Solange Sonda, confirmou o problema e explicou o que estão realizando para tentar evitar uma piora no quadro. “Em outubro, foi realizada uma CIR (Comissão Intergestores Regional) extraordinária no auditório da Prefeitura de Caxias do Sul com a presença da secretária de saúde do Estado Arita Bergmann, onde foi abordado o tema da diminuição considerável de serviços neste prestador, inclusive o MP está em tratativas. Estamos buscando alternativas e aceitando sugestões de novos hospitais para habilitações, sendo que o Hospital Tacchini seria uma excelente opção,” explica a coordenadora-adjunta. 

Contudo, não foi passado um prazo de quando a situação será regularizada, sendo assim, Edson ainda terá que continuar na fila de espera, o que pode custar a sua vida. 

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