Região Caso de racismo
Polícia Civil abre inquérito para investigar caso de racismo contra Mamãe Noel em Nova Prata
Lisiane Vieira ficou muito abalada com as ofensas racistas sofridas no evento e, apesar dos pedidos da comunidade, não deve voltar a atuar como Mamãe Noel no evento.
08/12/2022 10h03
Por: Marcelo Dargelio

A Polícia Civil de Nova Prata abriu nesta quarta-feira, 7 de dezembro, um inquérito policial para apurar as ofensas racistas sofridas por uma servidora que atuava como Mamãe Noel no evento de Natal do município na sexta-feira, 2 de dezembro. Caso sejam identificados os autores, eles poderão responder pelo crime de injúria racial.

A servidora vítima de ofensas racistas foi identificada como sendo Lisiane Lisboa Vieira, de 41 anos. Ela interpretava a Mamãe Noel durante a abertura da programação de Natal de Nova Prata, quando se sentiu constrangida por algumas pessoas, que se surpreenderam pelo fato do papel ser representado por uma mulher negra. Lisiane foi ouvida na delegacia nesta quarta-feira, 7. Além dela, tamb´me prestaram depoimento a secretária municipal de Turismo, Veridiana Ciotta, responsável pelo evento.

De acordo com a delegada Lisiane Pasternak, que investiga o caso, com base nos depoimentos, o entendimento é de que os constrangimentos foram causados pela rejeição das pessoas em não quererem tirar fotos com Lisiane, que estava vestida com trajes natalinos. Os comentários partiram do lado de fora do cenário onde ela estava, sendo que nenhum deles foi diretamente direcionado à Lisiane. Apesar da afirmação da delegada, Lisiane era a única negra no espaço e o fato teria chamado a atenção da população, espantada por uma Mamãe Noel negra estar fazendo parte do cenário.

Funcionária da secretaria de Obras, Lisiane varre as ruas de Nova Prata há três anos e, pelo seu carisma e simpatia, foi convidada pela Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer a desempenhar o papel que deveria trazer encantamento aos pais e seus filhos. No entanto, alguns moradores teriam demonstrado descontentamento ao verem que uma negra representava a Mamãe Noel. Os comentários de parte do público foram percebidos por uma testemunha, que relatou as falas à Lisiane. Constrangida, a funcionária da prefeitura disse que se tornou insustentável permanecer na praça e foi embora. "A reação era de espanto das pessoas quando entravam e me viam ali. Tiveram pais que quando entravam na casinha do Papai Noel pediam se as crianças queriam tirar foto na árvore e nem cogitavam a possibilidade de chegar perto de mim. Uma colega que organizava a fila ouviu pais que olhavam na porta e diziam: "A Mamãe Noel é negra, nem vamos bater foto". E as crianças respondiam: "É, nem vamos". Foi bem constrangedora a situação. Ficou tão fora do normal que acabei desistindo, voltei pra secretaria tirei a roupa e chorei muito", contou a servidora.

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Grande parte da comunidade quer que Lisiane de a volta por cima e volte a ser a Mamãe Noel. Até esta quinta-feira, 8, ela ainda não tinha optado pelo retorno. O medo da rejeição e da exposição da família estão deixando a servidora incerta de saber se o melhor é voltar à cena onde tudo aconteceu. "Se eu fiquei uma hora ali foi muito. Enxergava no lado de fora as pessoas que paravam e olhavam pela janela da casinha como se fosse para ter certeza do que estavam vendo. Juntou muita gente para olhar. Foi uma experiência amarga que nunca mais quero sentir", finalizou Lisiane.