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Padre que rezou a primeira missa em Bento Gonçalves vai virar nome de rótula

Proposta do vereador Edson Biasi (Progressistas) denomina Padre Bartholomeu Tiecher o espaço localizado na Rua Ulysses de Gasperi, no Loteamento Parque do Sabiá, no Bairro Santo Antão.

11/11/2022 às 10h22 Atualizada em 12/11/2022 às 19h45
Por: Marcelo Dargelio
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Padre que rezou a primeira missa em Bento Gonçalves vai virar nome de rótula

Os vereadores da Câmara de Bento Gonçalves aprovaram, por unanimidade, nesta sexta-feira, 11 de novembro, a homenagem ao padre Bartholomeu Tiecher, o padre que rezou a primeira missa na Capital do Vinho. Ele dará nome para a rótula localizada na Rua Ulysses de Gasperi, no Loteamento Parque do Sabiá, no Bairro Santo Antão. A proposta foi do vereador Edson Biasi (Progressistas). 

O padre Bartholomeu Tiecher foi o 1° sacerdote dos imigrantes italianos do Rio Grande do Sul. Nascido em Caldonazzó no dia 13 de dezembro de 1848, foi ordenado padre na Catedral de São Vigílio, da mesma cidade, em 2 de julho de 1871. Pela efervescência migratória de muitos conterrâneos, resolveu partir para o Brasil, a fim de ajudar espiritualmente seus patrícios.

Em 30 de outubro de 1875, no porto de Havre (França), 392 tiroleses e 208 italianos embarcaram no navio François I rumo ao Brasil e em 01 de dezembro de 1875 chegaram ao Rio de Janeiro, de onde, depois de breve demora, partiram no vapor Werneck para o estado do Rio Grande do Sul, chegando à Porto Alegre no dia 13 de dezembro de 1875 (dados retirados das páginas 48 e 49 do livro "Clero Secular Italiano no Rio Grande do Sul: 1815-1930", de Arlindo Rubert, e de anotações do Monsehhor João Maria Balem).

Chegando ao Brasil, por falar também a língua alemã, foi designado para assumir o posto de Capelão da Colônia Santa maria da Soledade (Forromeco), pertencente ao então município de São joão de Montenegro, tomando posse em 23 de dezembro de 1875. Encarregado pelo bispo e a pedido dos colonos , em março de 1876, atravessando serras e florestas, visitou os incipientes núcleos de Conde D'Eu (hoje Garibaldi), Figueira de Melo, Princesa Isabel (hoje Bento Gonçalves) e outros, celebrando, a Santa Missa sob o azul do céu e orientando os pioneiros, ainda saudosos da pátria que há pouco haviam deixado. Segundo o livro "Cinquentenário Della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud", Padre Bartolomeu Tiecher rezou a 1° Santa Missa da Colônia Italiana do Rio Grande do Sul em um altar improvisado com caixas e baús dos imigrantes em meio a "picada" (entrada) existente, no dia 21 de março de 1876.

Em 30 de Setembro de 1876 — DONA ISABEL (Bento Gonçalves) - é celebrada a primeira missa da cidade, oficiada pelo Padre Bartolomeu Tiecher, numa casinhola de madeira. Diz Júlio Lorenzoni, o memorialista dos primeiros anos da comunidade: "Foi um dia de festa e de grande consolação por que aqueles bons colonos, depois de tantos meses, puderam assistir novamente ao santo sacrifício da missa e reavivar seus sentimentos religiosos, jamais apagados em seus corações."

Beirando os 80 anos de idade, foi, 'com justiça, dispensado pelo arcebispo de paroquiar. Mas Pe. Tiecher não se aposentou nem ficou inativo. Dom joão Becker, reconhecendo-lhe a longa folha de serviços prestados. nomeou-o "Cônego Honorário do Cabido Metropolitano".

Pe. Bartolomeu distinguiu-se ainda como naturalista, sendo um grande estudioso da flora rio-grandense, sobre a qual escreveu muitos artigos, uma obra ("Relação das Plantas", Tip. Do Centro, Porto Alegre, 1917), e deixou outro trabalho inédito e coleções. Vale citar ainda que, durante muito tempo, através do jornal "La Voce Cattólico", informou, aos domingos nP.s igrejas da Itália, sobre a vida dos que aqui chegavam em busca de novos horizontes.

Depois de ter sido ainda Capelão do Colégio São José dos Irmãos Lassalistas de Canoas, do Hospital da Brigada Militar, Cristal — Porto Alegre, e do Hospital de Roca Sales (na época, pertencente a Estrela), veio a falecer nesta última localidade, em 27 de fevereiro de 1940, com a veneranda idade de 92 anos. Apesar de, na época, os padres poderem capitalizar bens, Pe. Bartolomeu morreu pobre. Embora tivesse paroquiado em 15 freguesias, distribuíra todos os rendimentos em obras pias, auxiliando especialmente as vocações sacerdotais no Brasil e na Itália (informações retiradas das páginas 49 e 50 do livro "Clero Secular Italiano no Rio Grande do Sul : 1815 - 1930 ", de Adindo Rubert).

Em artigo publicado no Correio do Povo de 19 de março de 1975. com o título "Nova ofensiva dos tiroleses", Miranda Netto escreveu sobre o Pe. Tiecher: "Foi o primeiro sacerdote italiano a acompanhar os imigrantes que vieram para o Rio Grande. Italiano e tirolês, acrescento eu, e de cepa austríaca, Tiecher é nome dos mais característicos na região. Devotado sacerdote, cujo nome merecia um destaque muito especial nas festas do Centenário da Colonização Italiana".

Detalhe interessante que ainda vale ser citado é o de que Pe. Bartholomeu Tiecher é homenageado na suntuosa bandeira da porta central da Igreja de São Pelegrino , de Caxias do Sul, integrante do patrimônio cultural oficial do Estado do Rio Grande do Sul, através da figura do sacerdote que acompanha os imigrantes italianos retratados.

Em sua breve permanência na Colônia Dona Isabel, tinha por hábito se refugiar no belo bosque situado onde hoje é a praça das Pombas, fundos da NatSport. Lá, ao lado de uma fonte e córrego de água límpida passava alguns momentos a meditar e consolar as primeiras almas que partiram nesse novo mundo. O primeiro cemitério/covas se situava logo acima desse local. 

 

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