A morte trágica do ciclista Eduardo Henrique Greggio, de 36 anos, vítima de um atropelamento por parte de um motorista embriagado na última semana em Bento Gonçalves, dilacerou seus familiares. Apesar de tanta tristeza, sua família superou a dor de sua perda e autorizou que seus órgãos ajudassem a salvar outras vidas e fizesse a alegria de outras famílias.
Durante o último final de semana, a Comissão Intrah-ospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Tacchini realizou a terceira captação de múltiplos órgãos em 2022. O procedimento, realizado a partir de uma parceria entre profissionais do hospital bento-gonçalvense e por uma equipe de médicos cirurgiões e enfermeiros do Hospital Santa Casa de Misericórdia, de Porto Alegre, permitiu a doação dos pulmões, coração, rins e córneas de Eduardo Greggio. “Desejo que as pessoas que recebam os órgãos enxerguem as coisas simples da vida, assim como ele enxergava e que esse coração ainda pulse como pulsava em vida”, descreveu uma familiar do doador.
As etapas da doação
O primeiro passo para viabilizar a doação foi a confirmação da morte encefálica de Eduardo Greggio, realizada por meio de dois exames clínicos e um exame de imagem, em intervalos de tempo diferentes. Após isso, é preciso buscar a aprovação da família para o procedimento.
A permissão dos familiares deu início a uma corrida contra o tempo para encontrar doadores compatíveis a partir da Central de Transplantes do Estado. A partir dessas definições é que os profissionais de saúde da capital gaúcha começaram o deslocamento até Bento Gonçalves para realizar a captação. Da entrada no centro cirúrgico do Tacchini até o fim do procedimento, foram cerca de 5h de operação.
Logística
Com vida útil fora do corpo menor do que os demais órgãos, os pulmões receberam prioridade na captação e no transporte. Eles foram levados de volta à capital gaúcha no mesmo avião em que os profissionais chegaram a Bento Gonçalves. Em Porto Alegre, outra equipe médica já esperava para realizar os transplantes em pacientes compatíveis que estavam na lista de espera.
Os órgãos doados foram transportados para Porto Alegre junto dos profissionais de saúde da capital gaúcha, em um veículo especial, escoltado pela Brigada Militar por meio do Comando Rodoviário da Brigada Militar (3º BRBM), 3⁰ Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT) e Comando de Policiamento da Capital (CPC).
Todos os órgãos doados foram transplantados com sucesso.
Setembro verde
Setembro é um mês dedicado à divulgação da campanha de conscientização sobre a importância da doação de órgãos. A fila de pessoas aguardando um transplante cresceu durante a pandemia, chegando a 45 mil, de acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
Para ser doador de órgãos no Brasil, é preciso comunicar a família, pois somente parentes podem autorizar a doação. A doação de órgãos e tecidos pode ocorrer após a constatação de morte encefálica, que é a interrupção irreversível das funções cerebrais, ou em vida. Um único doador pode salvar mais de dez pessoas.