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"Sinto raiva e desespero", diz quem sofre com misofonia; saiba o que é isso

A misofonia afeta 3% de toda a população mundial e deve ser tratada com seriedade pela sociedade e profissionais de saúde; conheça os sintomas, os tratamentos disponíveis.

15/12/2018 às 21h02
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Divulgação
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Já imaginou ficar incomodado com o som de alguém digitando no teclado, mascando chiclete e assoando o nariz? A princípio, pode até parecer algo banal – porém, quem sofre com misofonia sabe o quanto esses barulhos, frequentes no dia a dia de tantas pessoas, são perturbadores e causam reações emocionais negativas, como raiva, ódio e irritação. A misofonia é a aversão intensa a sons de volume baixo e repetitivos e afeta 3% de toda a população mundial, segundo uma pesquisa da University of British Columbia , no Canadá.

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Os sintomas do problema, geralmente, começam na infância ou na adolescência. No caso da jovem, os gatilhos que a levam ao desespero – como roer a unha, umedecer os lábios, arrastar talheres e respiração alta – foram aumentando com o passar do tempo. “Sinto repulsa ao som. Um misto de raiva e desespero. Quando acontece, não consigo me concentrar em outras coisas. Preciso que a pessoa pare ou, caso contrário, entro em pânico.

Por que a misofonia acontece?

Explica-se que todos os sons que ouvimos são conduzidos até o cérebro para serem analisados e entendidos. Eles passam por várias estações até chegarem no córtex auditivo, que é a região final desse caminho, por ser uma descoberta recente, pesquisas estão sendo realizadas para mais revelações. Entretanto, até o momento, sabe-se que as pessoas com misofonia possuem duas áreas cerebrais - o sistema límbico e o córtex pré-frontal - mais ativadas durante a passagem dos sons que são feitos com o nariz, a mão, a boca e os pés.

Dessa forma, as conexões cerebrais extra-ativadas são capazes de provocar o reflexo imediato da reação forte e desproporcional a esses sons. “Isso faz com que os misofonicos não consigam se concentrar, pois prestam mais atenção aos sons que são irrelevantes e, assim, não conseguem ignorá-los como as outras pessoas. Estudos avaliaram 15 membros de três gerações de uma mesma família, de nove a 73 anos, com sintomas de misofonia. Desse total, 12 pessoas responderam um questionário capaz de investigar os sintomas, os sons de gatilho, os sentimentos e as atitudes adotadas por cada um deles. Os resultados indicaram que os entrevistados apresentavam irritabilidade, ansiedade e raiva em relação aos sons. Quando passam por essas situações, eles pedem para cessar o barulho, deixam o local em que ele ocorre e, ainda, podem discutir com outras pessoas, detectou-se que dez membros desenvolveram os primeiros sinais durante a infância ou a adolescência. Além disso, mostrou que os sintomas relacionados foram ansiedade, zumbido, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão e hipersensibilidade aos sons.

De acordo com o  estudo a alta incidência da condição no grupo estudado sugere que ela pode ser mais comum que o esperado e favorece a possibilidade de ser hereditária, mas novas pesquisa são necessárias. Ainda não dá para descartar que ela pode ser “aprendida” pela convivência dos filhos com os pais afetados.

Quando é hora de procurar ajuda médica?

A misofonia pode ser dividida em leve, moderada ou grave, de acordo com o impacto dos sintomas na qualidade de vida do paciente. Ela pode acometer ambos os sexos e não está relacionada com a idade do portador. A gravidade dos efeitos gerados pelos barulhos é analisada por meio de um questionário específico aplicado por um profissional.  

Além da aversão aos sons, a condição pode vir acompanhada de respostas comportamentais e reações que possuem o intuito de evitar ou escapar do estímulo desencadeante. Alguns afetados evitam fazer refeições com seus familiares ou frequentar cafeterias e lugares onde outras pessoas geralmente vão para comer. O uso de abafadores,  fones de ouvido e ventiladores elétricos para mascarar o som aversivo também é relatado.

De acordo com a gravidade, os portadores podem ir além e largar o trabalho para evitar as situações de gatilho da angústia. Eles podem se isolar socialmente e no meio familiar. Alguns podem ser verbalmente agressivos, como acontece em 29% dos casos, ou partir para a agressão física, em 17% dos casos, à pessoa provocadora do som aversivo.

Além disso, a condição ainda mexe com a autoestima e a vida social de quem a possui. É uma batalha todo dia para suportar os barulhos dos outros fingindo que nada está acontecendo. Então, muitas vezes, a pessoa escolhe ficar só. É desmotivador viver em sociedade. Na aula, perde foco e a produtividade cai. Não mantem o bom humor e acaba me isolando e evitando inconscientemente as situações em que me pode vir a se sentir mal. 

Por causa de tudo isso, quando o problema começa a atrapalhar a vida do misofonico e ele se sente preparado, é recomendado procurar ajuda médica, que poderá traçar um diagnóstico  baseado na história clínica do paciente. Não existem exames complementares específicos. Podem-se usar ainda questionários com o intuito de mensurar a severidade do quadro e acompanhar a evolução durante o seguimento clínico.

A condição precisa ser tratada com seriedade, mas, muitas vezes, é vista com descaso por quem a desconhece e até mesmo por profissionais de saúde. 

Formas de tratamento

A Terapia de Habituação é uma das possibilidade de tratar a patologia e inclui orientação, aconselhamento e terapia sonora. O objetivo é tornar o afetado pela misofonia menos sensível ou reativo aos sons que são gatilhos do fenômeno ou comportamento.

Outra alternativa é a Terapia Cognitiva Comportamental, que usa a psicoterapia para mudar a forma de pensar e reagir ao estímulo sonoro aversivo. A meditação também é bem-vinda , pois ajuda a aliviar o estresse.

Além disso, é possível adotar o tratamento com remédios, como foi o caso da estudante, que usou calmantes. Alguns psiquiatras usam medicamentos para os sintomas coadjuvantes como ansiedade, fobia e transtorno obsessivo-compulsivo.

Sons que mais incomodam

O som da mastigação é um dos que mais incomoda e irrita quem sofre com o problema

Esses barulhos estão presentes no dia a dia e, muitas vezes, é difícil evitá-los. A lista dos sons que causam reação emocional negativa, forte, rápida, incontrolável e desproporcional aos misofonicos vai além da fobia dos barulhos de mastigação . Os principais são: 

Mastigar 

Mascar chiclete 

Tossir 

Assobiar 

Umedecer o lábio 

Roer a unha 

Respiração ofegante 

Assoar o nariz 

Roncar 

Digitar 

Clicar a caneta 

Usar talheres 

Mexer em chaves 

Abrir papel de bala 

Arrastar chinelo 

Andar de salto alto

Esses ruídos são exemplos dos considerados insuportáveis  por quem sofre de misofonia e, por isso, os portadores pedem mais compreensão por parte dos amigos e familiares. Parece frescura, mas a pessoa sofre muito e pode, inclusive, trazer outros problemas, como ansiedade e  depressão. É como o efeito borboleta: um barulhinho aqui ou ali pode causar algo bem grande.

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