Em 2019, observando a onda de criminalidade, moradores do bairro Municipal resolveram adotar uma medida visando deixar as crianças e adolescentes longe do caminho das drogas e do crime. A escolinha “TG” se tornou um sucesso e, atualmente, conta com mais de 50 crianças, tanto meninas quanto meninos, dos 5 a 15 anos, que participam dos treinos à noite na quadra esportiva localizada ao lado do Ceacri Carrossel da Esperança.
O projeto é comandado pelos treinadores Fernando Verardo das Chagas e José Francisco de Menezes e Joel Alves da Silva, os quais são apaixonados pelo esporte e atuam em competições amadoras de Bento Gonçalves. Durante o dia, eles trabalham normalmente em suas empresas e, quando voltam do serviço, muitas vezes exaustos, renovam as energias com os sorrisos nos rostos e nos abraços das crianças para comandar os treinos à noite, das 17h40 às 19h, os quais são totalmente gratuitos.
“Nós (Fernando e José, idealizador da escolinha) nascemos e se criamos aqui no bairro. Moro há 38 anos aqui. Como sempre jogamos futebol em Bento, em campeonatos, o José, que é meu primo, teve a ideia de fazer uma escolinha no bairro para não perder as crianças para a criminalidade e para as drogas”, afirma Fernando, que atualmente cuida da parte burocrática do projeto, o qual foi formalizado para conseguir angariar verbas para a sua ampliação.
O projeto é batizado com as iniciais de Tailan Gobatto, um garoto que, segundo Fernando, todos tinham um carinho por ele. Em 2019, o jovem, que na época tinha 19 anos, foi morto a tiros no bairro. “Decidimos montar a escolinha para ocupar a mente dessas crianças, senão vamos perder cada vez mais pessoas para o crime”, pondera Fernando.
Seja no calor ou no frio, as crianças não deixam de comparecer aos treinos que, além de contar com treinos de fundamentos e técnica, visa sobretudo formar cidadãos através do exemplo. “Treinamos desta forma, a céu aberto, seja no sereno, no frio, estamos aqui treinando. E isso não tem preço. Só quem vivencia isso para entender. Eles te encontram no centro, na rua, te chamam de professor, e é o exemplo que precisamos dar a eles”, relata Fernando.
O professor Joel, por sua vez, não é natural de Bento Gonçalves, porém mora no bairro Municipal há 20 anos. Conforme o treinador, o objetivo principal da escolinha é ensinar como conviver em sociedade, ter disciplina, comprometimento e, sobretudo, respeito.
No entanto, não basta apenas entrar em quadra para participar dos treinos. De acordo com Joel, os jovens necessitam ter boas notas na escola, respeitar o horário dos treinos e voltar para casa quando as atividades encerram. “Não queremos apenas formar jogadores de futebol. Meu sonho é ver eles também como engenheiro, médico, cada um vai ter a sua carreira profissional”, ressalta Joel, que complementa:
“O carinho, o respeito que temos a esses guris e gurias é muito grande. Isso ninguém vai tirar de nós. Daqui 20 ou 30 anos um deles pode ser um militar, por exemplo, que pode voltar ao barro e dizer que jogou bola aqui, com meus professores Joel, José e Fernando. Nunca vamos virar as costas para essas crianças. Nosso intuito é buscar o carinho e o respeito das crianças e das famílias também”, explica Joel.
Os treinamentos ocorrem nas terças-feiras e sextas-feiras, das 17h40 às 19h, e também aos sábados pela manhã. Nos finais de semana, a escolinha participa de amistosos e torneios. Segundo Fernando, a intenção é participar do Citadino de Categorias de Base de 2022.
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Conforme os professores, a maioria dos matérias utilizados para os treinos foram doados por amigos e pessoas que os auxiliam. No entanto, a escolinha aceita novas doações de bolas de futebol e outros equipamentos para dar continuidade ao projeto e qualificar ainda mais a sua atuação com as crianças e adolescentes do bairro.
Além disso, a escolinha também visa contar com novos patrocinadores e apoiadores, sobretudo para auxiliar nas despesas de transporte, uma vez participa de competições e amistosos, tanto no futsal como no futebol de campo, em Bento Gonçalves e região.
Joel também pondera que, apesar do incentivo da Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (SEDES) em prol do futebol amador, as escolinhas de categorias de base do município têm sido deixadas de lado. “Porque eles não fazem um campeonato para as escolinhas mostrarem o seu trabalho com a criançada? Eles precisam conviver com outras crianças, conhecer pessoas de outras escolinhas, pois para eles a competitividade é um grande aprendizado. É preciso criar essa integração”, conclama.
Conforme a SEDES, o município promove, no segundo semestre, o Citadino de Futsal de Categorias de Base, que já está com inscrições abertas.
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