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Rio Grande do Sul se torna referência nacional no diagnóstico da varíola dos macacos

Esta é a primeira vez que os laboratórios do Estado recebem esse destaque.

29/08/2022 às 14h16 Atualizada em 29/08/2022 às 14h34
Por: Renata Oliveira Fonte: Secom
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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Os laboratórios do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) do Rio Grande do Sul foram oficializados pelo Ministério da Saúde como um dos oito centros de referência do país aptos a realizar o diagnóstico da doença. Esta é a primeira vez que os laboratórios do Estado se tornam referência na detecção de uma doença infecciosa, ganhando importância nacional. 

O trabalho está sendo conduzido pelo Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT) e pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen-RS), que integram a estrutura do CEVS.

A área de cobertura do CDCT/Lacen-RS será toda a Região Sul do Brasil. O centro de testagem deve receber as amostras de casos suspeitos dos Estados do Paraná e de Santa Catarina, além do próprio Rio Grande do Sul. Cerca de 180 amostras vindas de Santa Catarina já foram analisadas. A formalização do CDCT/Lacen-RS como laboratório de referência ocorreu por meio do Plano de Contingência Nacional para Monkeypox, lançado pelo Ministério da Saúde, em 5 de agosto.

O coordenador da Vigilância Genômica no Rio Grande do Sul, Richard Salvato, explica que, anteriormente, o Rio Grande do Sul direcionava suas amostras para o Laboratório Central de Saúde Pública de São Paulo/Instituto Adolfo Lutz (Lacen/IAL-SP), que era o laboratório de referência para o Sul do Brasil. Agora, o CDCT e o Lacen-RS conseguiram implementar os exames de forma mais autônoma, tornando-se também uma unidade de referência.

“Até a décima amostra, nós encaminhávamos para o Instituto Adolf Lutz, em São Paulo. A décima primeira amostra foi um caso positivo, proveniente de um hospital particular de Porto Alegre. Nós tivemos o interesse de sequenciar essa amostra, pela técnica de metagenômica, que era como se confirmavam os casos quando ainda não se tinha controle positivo. Então, nós confirmamos o caso e, a partir daí, nos possibilitou iniciar o diagnóstico por PCR, de outras amostras. O CDCT assumiu, então, o diagnóstico de monkeypox do Estado do Rio Grande do Sul. E, com o aumento do número de casos, o Ministério da Saúde convidou-nos para ser referência”, relata o coordenador.

A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, evidencia a aptidão dos laboratórios do Estado e os esforços técnicos para desenvolver pesquisas e modelos para o enfrentamento de doenças. "Assim como na pandemia de coronavírus, mais uma vez o Rio Grande do Sul confirma sua vocação e expertise com o trabalho do Lacen na testagem e mapeamento de casos de monkeypox”, afirmou Arita, destacando o papel de referência da estrutura do Estado para o diagnóstico da doença para a região sul do país.

Juntos, o CDCT e o Lacen-RS passam a figurar ao lado de outros sete importantes laboratórios públicos do Brasil, que compõem a rede de referência do Ministério da Saúde. Ao todo, são quatro laboratórios centrais de saúde pública (Lacens), localizados no Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, e mais quatro unidades de referência nacional, sendo duas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro e no Amazonas; uma da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e uma no Instituto Evandro Chagas, no Pará.

Arita: "mais uma vez o RS confirma sua vocação e expertise com o trabalho na testagem e mapeamento de casos de monkeypox” - Crédito: Gustavo Mansur / Arquivo

O Lacen-RS já realizou outros trabalhos importantes, em diferentes momentos, a exemplo da investigação laboratorial da influenza e da covid-19, mas o destaque nacional veio agora, com o trabalho de detecção da monkeypox. “Para a covid, o diagnóstico era feito aqui; o mapeamento genético, com sequenciamento, também era feito aqui, mas nós tínhamos como referência a Fiocruz, no Rio de Janeiro. É a primeira vez que o CEVS, o Estado do RS, se torna referência para esse tipo de diagnóstico”, pontua Salvato.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico da monkeypox é realizado de forma laboratorial, por teste molecular (PCR) ou sequenciamento genético. O PCR é considerado a técnica padrão-ouro para detecção do material genético do vírus em uma amostra. Já o sequenciamento genético é uma técnica mais complexa, associada à identificação de bases do DNA viral. Com o mapeamento genético, é possível comparar o genoma do vírus com outros disponíveis em bases de dados.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o atual surto de monkeypox já se apresenta como emergência de saúde pública com importância internacional. O mundo registra, até o momento, mais de 41 mil casos da doença, distribuídos em 96 países. O Brasil está entre os 10 países com o maior número de casos, tendo computado cerca de 4 mil testes positivos.

No RS, já se confirmou a transmissão comunitária da doença, que ocorre quando não é possível identificar a origem da infecção. Atualmente, o Estado tem 77 casos confirmados e 333 em investigação. Do total de confirmações, 35 concentram-se na capital.

CEVS sequencia genoma do monkeypox e identifica nova sublinhagem do vírus

O primeiro sequenciamento do vírus monkeypox no Rio Grande do Sul foi feito em 16 de agosto. A partir desse procedimento, os pesquisadores descobriram que já existem duas sublinhagens do microrganismo em circulação no Estado. A sequência obtida pelo CEVS refere-se a um genoma da linhagem B.1.1, que difere da primeira sequência detectada no Estado.

Antes desse mapeamento, outra amostra coletada no Estado já havia sido sequenciada pelo Instituto Adolf Lutz, em São Paulo. Os dados foram comparados e observou-se que se trata de duas sequências distintas, o que indica que há variações do vírus Monkeypox no território gaúcho.

Segundo Salvato, isso demonstra que o vírus está conseguindo variabilidade em curto período de tempo. “O vírus já sofreu importantes mutações. É imprescindível acompanhá-las e ver qual vai ser o seu impacto no comportamento do vírus. A sintomatologia pode mudar, e o vírus pode se tornar mais transmissível, de modo a aumentar o contágio. Então, a vigilância genômica vai ser muito importante neste momento”, afirma.

A primeira amostra mapeada foi coletada de paciente com histórico de viagem, mas a segunda refere-se a paciente que se contaminou no próprio Estado do Rio Grande do Sul.

Resultado gaúcho é disponibilizado em plataforma global

O resultado alcançado pelo CEVS foi disponibilizado na plataforma GISAID, uma base global de dados genômicos. Esses conteúdos são compartilhados na GISAID para ajudar pesquisadores nacionais e internacionais a compreender mais rapidamente como o vírus evolui e se espalha.

Para realizar esse sequenciamento, o centro gaúcho utilizou a tecnologia baseada em amplicon — um método considerado menos oneroso —, partindo de um protocolo internacional, que está propiciando observar a evolução do vírus em tempo real, de um maior número de amostras e com menor custo.

“Há o método usual, que é a metagenômica, e também este segundo método, que é o baseado em amplicon. Na metagenômica, é processado tudo o que tem na amostra: bactérias e muito material humano. Quando isolamos o vírus através de uma PCR como no método baseado em amplicon, é apenas o vírus, então primeiro você amplifica o genoma, depois sequencia”, explica Salvato.

Essa “leitura” gera uma sequência que é conferida com a base de dados já existente. Comparando-se com as amostras já descritas, é possível identificar se o patógeno tem mutações importantes, o que pode representar mudanças no comportamento do vírus, levando a uma possível maior transmissibilidade ou aumento das formas graves da doença.

Mais 18 amostras foram sequenciadas

O Rio Grande do Sul vai sequenciar todas as amostras positivas que apresentem carga viral mínima, pois altas quantidades de vírus aumentam a chance de o procedimento ser bem-sucedido. Além da primeira amostra submetida a estudo, mais 18 já foram sequenciadas e estão sendo analisadas. Os resultados serão divulgados em breve.

As técnicas de sequenciamento genético permitem detalhar o DNA do vírus, contribuindo para um melhor entendimento do surto da doença. Com a vigilância genômica, é possível rastrear a evolução do vírus, suas variantes, detectar mutações rapidamente, informar os gestores públicos para o gerenciamento das medidas de controle, e analisar os impactos no cenário epidemiológico.

“O vírus monkeypox, ao infectar humanos, está passando por um processo de adaptação, sofrendo modificações, com o objetivo de melhorar sua transmissão e seu grau de infecção, para assim continuar existindo. Então, é preciso monitorar de perto o comportamento do vírus. Conhecê-lo é muito importante e tem um impacto significativo no cenário epidemiológico”, observa Salvato.

A fim de frear a disseminação da doença, o governo estadual está ampliando as estratégias de enfrentamento, fortalecendo tanto o trabalho de testagem, para que os resultados sejam liberados o mais rápido possível, como o de mapeamento do vírus, fundamental para traçar novas ações de resposta.

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