Contar uma mentirinha aqui, outra acolá? Quem nunca fez isso que atire a primeira pedra. Entretanto, há casos em que a mentira deixa de ser um gesto esporádico e passa a ser uma rotina, algo compulsivo. É a chamada mitomania.
Diferente das mentiras comuns, que até dão um sabor diferente ao dia a dia, a mentira compulsiva é uma patologia e pode trazer uma série de consequências. Entenda melhor o quadro a seguir:
O que é mitomania?
A mitomania é descrita como o ato de mentir compulsivamente. "Mentir é um ato intencional de afirmar aquilo que é sabidamente falso. A mentira sempre esteve presente na história da humanidade, inclusive funcionando como instrumento apaziguador para a manutenção das mais diversas relações sociais. No entanto, quando mentir passa a ser o elemento central no discurso do indivíduo, o que era ocasional torna-se uma tendência patológica e de natureza compulsiva", explica Leonardo Araújo, psiquiatra na Holiste Psiquiatria.
Diferente da mentira "normal", a mitomania é uma compulsão: a pessoa simplesmente não consegue parar de mentir.
As causas específicas da mitomania ainda não são claras para a comunidade científica.
"Acredita-se que o hábito de mentir se inicia na infância, como mecanismo de defesa para lidar com a baixa autoestima, críticas e frustrações relacionadas à autoimagem", diz Araújo.
Desse modo, mentir pode se tornar uma atitude recorrente e atrativa para a criança conforme ela se sente aceita. A mitomania também pode estar relacionada a outras doenças psiquiátricas e psicológicas, como transtornos de personalidade antissocial, depressão, ansiedade, entre outros.
Como são as mentiras na mitomania?
Em alguns casos as mentiras de mitomania são para tirar vantagens, mas o objetivo da mentira nem sempre é esse.
"Mitômanos costumam contar histórias mirabolantes para unir elos faltantes em sua vida. Eles não querem, de forma objetiva, obter algum ganho pelo hábito de mentir, como lucro financeiro. É comum que o desfecho das histórias tenha situações heroicas", explica o psiquiatra.
O especialista ainda acrescenta que a mitomania não envolve, necessariamente, manipulação de situações e falas. "Devido à natureza compulsiva da mentira patológica, o fato de falarem a verdade pode gerar desconforto", aponta o médico.
Como identificar um mitômano?
Para identificar um caso de mitomania, a chave é perceber quando as mentiras passam a ser muito discrepantes em relação à realidade. Outro ponto é que pessoas que se enquadram em caso de mitomania não costumam mostrar muito sobre sua vida, como familiares, trabalho, lugar onde mora, entre outros aspectos da intimidade.
Prejuízos da mitomania na vida
O ato de mentir compulsivamente traz prejuízos não só na vida da pessoa que lida com a mitomania, mas também de outras ao seu redor. Isso porque a mentira compulsiva acaba prejudicando laços sociais pela falta de confiança com o mitômano, causando empecilhos nas relações afetivas de amizade, família, trabalho e amorosas
Como desmascarar um mitômano?
Na realidade, o ideal é nunca confrontar um mitômano. "'Desmascarar' um mentiroso patológico e associar punição ao que pode ser entendido como 'vício em mentir' pode retardar o início do tratamento e gerar resultados menos promissores", pontua Araújo.
O ideal é acolher a pessoa de forma compreensiva e sugerir que ela busque ajuda especializada.
Tratamento
O tratamento para a mitomania é por meio da psicoterapia. Medicamentos também podem ser usados, especialmente quando o quadro está associado a outras condições, como depressão e ansiedade.
"É de suma importância que seja instituído (o tratamento) precocemente, uma vez que a mitomania pode se desdobrar em consequências graves, como deterioração das relações sociais, problemas legais e suicídio", alerta Araújo.
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