A cada cinco horas é registrado um caso de violência contra mulher no Brasil. Os números de denúncias assustam, principalmente os índices de feminicídios, agressões e estupros. No Rio Grande do Sul, apenas em maio, 10 mulheres foram mortas por companheiros ou ex-companheiros. Até o momento, Bento Gonçalves não registra nenhum feminicídio neste ano, em compensação, o número de estupros dobrou de 2021 para 2022. De janeiro a maio do ano passado, o município havia registrado sete casos, já neste ano, pulou para 14 no mesmo período.
De acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública do RS, o índice que teve um grande aumento no município foi o crime de estupro, que de um ano para o outro saiu de sete para 14, só no início do ano. Contudo, de acordo com a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) do município, Deise Salton Brancher, esse pode ser um dado positivo, pois as mulheres estão denunciando mais. “O aumento do número de registros de BO’s representa menos mulheres na cifra oculta. Significa que mais mulheres tiveram coragem de denunciar os agressores,” completa. Como os dados das vítimas são sigilosos, não temos as informações se os crimes foram cometidos contra mulheres adultas ou crianças.
Contudo, outras denúncias também estão sendo registradas. Em 2021, de janeiro a maio, o índice de ocorrências de ameaças em Bento Gonçalves chegou a 149 casos. Em 2022, ocorreu uma pequena queda no mesmo período, indo para 143. Segundo a delegada, mesmo com a diminuição dos registros, o crime continua ocorrendo. Porém, parece que muitas estão criando coragem e indo até as delegacias, dado que a gravidade das lesões está aumentando - segundo a delegada - e o número de ocorrências saltou de 82 em 2021, para 116 neste ano. “Acho que nos casos de ameaças as mulheres suportam mais, e quando chegam no crime de lesão ficam com medo de registrar,” destaca.
Conversamos com a capitã Estefanie Fagundes Gomes Caetano, chefe administrativa do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPAT), e ela confirma essa crescente no número de ocorrências. "Esse aumento de chamados pode se dar por múltiplos fatores. O primeiro, que no ano de 2021 ainda vivíamos um semestre em que a pandemia enclausurou por mais tempo dentro do lar o autor e a vítima, o que desencadeou uma subnotificação dos casos de violência doméstica. Também pode ser referenciado o aumento da violência entre o filho e sua mãe, o que também é enquadrado na violência doméstica e familiar. Além disso, outro fator que pode ser apontado é o fortalecimento da rede de proteção à víitma de violência doméstica no município e as inúmeras campanhas de conscientização para que as mulheres denunciem seus agressores," frisa a capitã.
A policial relata que mesmo com os dados dos crimes de estupro tendo subido na cidade, os chamados são os menores dentro dos outros casos vinculados à Lei Maria da Penha. "As ocorrências de maior incidência são as de ameaça, vias de fato e lesão corporal. Todos esses crimes vinculados à temática da violência doméstica, que possuem medida protetiva de urgência deferidas pelo Poder Judiciário são fiscalizados pela Patrulha Maria da Penha que atua no município de Bento Gonçalves," esclarece.
E apenas neste ano já foram realizadas mais de 400 visitas para vítimas de violência doméstica e familiar na cidade. "Esse atendimento da Patrulha ocorre através da realização de visitas, as quais têm o objetivo de fiscalizar se as medidas protetivas de urgência estão sendo cumpridas pelo agressor/acusado, bem como verificar a situação familiar da vítima", destaca a policial.
Para a capitã Estefanie essa ação pode ajudar a diminuir esses altos índices. "A Patrulha tem como objetivo, a longo prazo, diminuir os índices de violência doméstica por meio da mudança do padrão de comportamento do agressor, com a quebra do ciclo da violência e principalmente com a mudança cultural da sociedade, visto que são crimes que ocorrem dentro do lar," conclui.
Abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica
Ainda não há um local específico para receber as vítimas, porém a assessoria de imprensa da Prefeitura assegura que já existe um projeto em andamento. “A Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (SEDES), juntamente com o Centro Revivi e Coordenadoria da Mulher, tem um projeto em andamento sobre o assunto. Porém, cabe ressaltar que essas mulheres são atendidas, hoje, em um espaço adequado com todo atendimento necessário. O local não é informado devido a segurança destas mulheres”.
Só neste ano, a Coordenadoria da Mulher, que possui uma Rede de Enfrentamento à Violência com psicóloga, assistente social e assessoria jurídica, já atendeu 820 dos mais variados casos na cidade.
Como identificar sinais de abuso sexual infanto-juvenil dentro de casa
Muitos dos casos de estupro infantil ocorrem dentro da própria casa, então é importante identificar os sinais cedo e também explicar para a criança os locais em que pode ou não ser tocada. Confira alguns indícios que podem ser vistos no comportamento das crianças que estão sofrendo esse abuso:
1. Mudanças de comportamento
O primeiro sinal é uma possível mudança no padrão de comportamento da criança, como alterações de humor entre retraimento e extroversão, agressividade repentina, vergonha excessiva, medo ou pânico. Essa alteração costuma ocorrer de maneira imediata e inesperada. Em algumas situações a mudança de comportamento é em relação a uma pessoa ou a uma atividade em específico.
2. Proximidades excessivas
A violência costuma ser praticada por pessoas da família ou próximas da família na maioria dos casos. O abusador muitas vezes manipula emocionalmente a criança, que não percebe estar sendo vítima e, com isso, costuma ganhar a confiança fazendo com que ela se cale.
3. Comportamentos infantis repentinos
É importante observar as características de relacionamento social da criança. Se o jovem voltar a ter comportamentos infantis, os quais já abandonou anteriormente, é um indicativo de que algo esteja errado. A criança e o adolescente sempre avisam, mas na maioria das vezes não de forma verbal.
4. Silêncio predominante
Para manter a vítima em silêncio, o abusador costuma fazer ameaças de violência física e mental, além de chantagens. É normal também que usem presentes, dinheiro ou outro tipo de material para construir uma boa relação com a vítima. É essencial explicar à criança que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que não possam ser compartilhados com pessoas de confiança, como o pai e a mãe, por exemplo.
5. Mudanças de hábito súbitas
Uma criança vítima de violência, abuso ou exploração também apresenta alterações de hábito repentinas. O sono, falta de concentração, aparência descuidada, entre outros, são indicativos de que algo está errado.
6. Comportamentos sexuais
Crianças que apresentam um interesse por questões sexuais ou que façam brincadeiras de cunho sexual e usam palavras ou desenhos que se referem às partes íntimas podem estar indicando uma situação de abuso.
7. Traumatismos físicos
Os vestígios mais óbvios de violência sexual em menores de idade são questões físicas como marcas de agressão, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez. Essas são as principais manifestações que podem ser usadas como provas à Justiça.
8. Enfermidades psicossomáticas
Unidas aos traumatismos físicos, enfermidades psicossomáticas também podem ser sinais de abuso. São problemas de saúde, sem aparente causa clínica, como dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e dificuldades digestivas, que na realidade têm fundo psicológico e emocional.
9. Negligência
Muitas vezes, o abuso sexual vem acompanhado de outros tipos de maus tratos que a vítima sofre em casa, como a negligência. Uma criança que passa horas sem supervisão ou que não tem o apoio emocional da família estará em situação de maior vulnerabilidade.
10. Frequência escolar
Observar queda injustificada na frequência escolar ou baixo rendimento causado por dificuldade de concentração e aprendizagem. Outro ponto a estar atento é a pouca participação em atividades escolares e a tendência de isolamento social.
*Informações retiradas do site https://www.childhood.org.br/10-maneiras-de-identificar-possiveis-sinais-de-abuso-sexual-infanto-juvenil
Caso conheça alguém que esteja sofrendo alguma dessas violências, denuncie pelos números:
- Disque 180
- Brigada Militar: 190;
- Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM): (54) 3454-2899;
- Delegacia de Pronto Atendimento de Bento Gonçalves: (54) 3452-3200;
- Centro REVIVI: (54)3055-7420.