Você trocaria um emprego em uma fábrica de máquinas para viver gravando áudio e vídeos tirando o sarro de coisas do cotidiano? Se você tivesse o talento do morador de Bento Gonçalves Francisco Cechin Junior, com certeza você faria a mudança. Não conhece ele? E se dissermos que ele é o Chico, O vendedor raiz? Ah, com certeza caiu na sua lembrança.
Pois Chico deixou seu emprego em uma fábrica de Bento Gonçalves para viver enviando áudios inteligentes e bem humorados de diversos assuntos via Whatsapp. Por meio do aplicativo nascia o vendedor raiz, que começou narrando a sua decepção ao comprar um Kadett. Em 2017, um amigo compartilhou links com anúncios duvidosos – entre eles um "Kadettinho em perfeito estado". A proposta foi narrada em áudios de WhatsApp replicados centenas de vezes em variados grupos. Começava a nascer "Chico, o vendedor raiz", com imitações carregadas do mesmo sotaque da Serra Gaúcha que marcava a fala do primeiro comerciante. Corrente e relógio de ouro, anel com uma graúda pedra vermelha e camisa desabotoada complementam o visual do gringo.
Os meses seguintes às primeiras gravações levaram o morador de Bento Gonçalves a repensar sua carreira profissional. O salário na fábrica de máquinas, como técnico em manutenção industrial, logo foi superado pelos valores cobrados por quem pedia áudio para tirar sarro do pai que havia comprado um carro velho, para a mãe que tinha de lidar com o estoque de calhambeques ou a um parente aniversariante. Sobrecarregado, ele pediu demissão e se dedicou à criação de conteúdo para as redes sociais.
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Em cinco anos, Chico já representou inúmeras marcas. Mais do que revendas de veículos, passou a anunciar produtos de lojas de roupas e de departamento, fábricas de máquinas pesadas, cooperativas de crédito e sites de apostas. O perfil do Instagram @chicoovendedorraiz bateu 145 mil seguidores. No Facebook são quase 70 mil seguidores. Em rádios do Estado, sua voz pode ser ouvida diariamente, com a saudação "Opa! Tudo bom, guri?". Bento, Caxias, Porto Alegre e cidades de outros estados brasileiros têm pedido cada vez mais os áudios de Chico.
Chico perde a timidez e começa a aparecer em vídeo
No início, o rosto do personagem não aparecia nas gravações. A ideia era mexer com a imaginação do público. Mas falsos áudios, atribuídos a ele, passaram a circular recheados de ofensas, o que vai contra seus roteiros, sem palavrões ou grosserias. Com isso, Chico se viu obrigado a mostrar o rosto em vídeo para garantir a credibilidade de seu negócio. Atualmente, Chico se dedica integralmente ao humor, com páginas no TikTok, Facebook e YouTube, além dos vídeos do Instagram. Os esquetes ganharam uma pequena venda, o "Bar do Chico", em um cenário montado no escritório de parceiros de Caxias do Sul.
O amor e ódio de torcedores da dupla Gre-Nal também ajudaram o personagem a ganhar fama: Chico “vendeu” Luan para o Palmeiras, uma negociação fantasiosa que ganhou ares de verossímil. Procurado por colorados, fez o mesmo com o também atacante William Pottker.
O sonho do humorista é criar um espetáculo permanente em casas de shows do gênero. Já o Kadett 1993 - que custou, na oficina, três vezes mais que o valor de aquisição -, ele gostaria de levar novamente para a garagem.