Ainda que não tenha nenhum caso confirmado no Brasil, o surgimento de surtos de varíola dos macacos tem despertado preocupação entre os brasileiros. Até o momento, já foram confirmados mais de 100 casos em pelo menos 16 países fora da África e na América do Sul, a primeira suspeita foi registrada no domingo, dia 23, na Argentina. Segundo o Ministério da Saúde local, o paciente é um morador da província de Buenos Aires, que se encontra em um bom estado, está em isolamento e recebendo tratamento para os sintomas.
O Brasil ainda não tem registro da doença, mas o vírus foi identificado em um brasileiro de 26 anos na Alemanha, vindo de Portugal, após passar pela Espanha.
Para epidemiologistas ouvidos pela BBC News Brasil, casos podem ser identificados por aqui em breve. "A varíola de macacos pode chegar ao Brasil em pouco tempo", afirma a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). "É possível até mesmo que alguma pessoa infectada já tenha entrado no país, vinda dos locais onde há casos. Costumamos dizer em epidemiologia de doenças infecciosas que uma doença transmitida por contato e gotículas respiratórias pode demorar o tempo de um voo para se espalhar, ou seja, se alguém contaminado desembarca no Brasil, não é diagnosticado e não faz isolamento em tempo oportuno, a doença pode, sim, começar a ser transmitida."
O epidemiologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), concorda com o diagnóstico. "Mesmo que tenhamos um patamar inferior de intercâmbio de pessoas e viagens após a pandemia de Covid-19, a possibilidade desse vírus chegar ao Brasil é grande", diz.
Sintomas
O especialista alerta para a necessidade da identificação de casos suspeitos o mais rápido possível. "A população e os profissionais de saúde precisam ser alertados para notificar casos suspeitos. O sintoma mais marcante são lesões vesiculares, do tipo que se verifica na catapora, mas muito mais intensas", diz.
Além das lesões, os sintomas da varíola dos macacos incluem febre, dor de cabeça, dor nas costas ou musculares, inflamações nos nódulos linfáticos, calafrio e exaustão. E, nesse processo, pode surgir a coceira, geralmente começando no rosto e depois se espalhando por outras partes do corpo, principalmente nas mãos e sola do pé.
No entanto, para o epidemiologista Antônio Augusto Moura Silva, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ainda é cedo para fazer previsões sobre a extensão do surto. "Pode ser que a Europa consiga bloquear a transmissão rapidamente, antes que ela chegue ao Brasil", diz. "Seria muito mais fácil fazer isso com essa doença do que no caso da Covid-19, por exemplo, porque é preciso um contato muito mais íntimo para a transmissão no caso da varíola," continua.
De qualquer maneira, o especialista também alerta para a necessidade do país estar preparado. "É altamente recomendável ficar em alerta máximo de vigilância para que, caso haja identificação de caso, o isolamento do paciente possa ser feito o mais rápido possível, ou seja, fazer o que a saúde pública brasileira já sabe fazer," diz.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) já estabeleceu uma comissão de caráter consultivo para acompanhar os casos de varíola de macacos. Integram o grupo, até o momento, sete especialistas brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Feevale. Os pesquisadores produziram dois informes técnicos sobre a doença, com as principais formas de contágio e as informações disponíveis sobre os casos registrados em outros países.
Diferenças entre a Varíola Humana e Varíola dos Macacos:
De acordo com o Jornal O Público, a varíola humana e a VMPX (varíola dos macacos) pertencem à mesma família de vírus da varíola.
A varíola humana, causada pelo vírus Poxvirus variolae, foi erradicada em 1980. Era transmitida de pessoa para pessoa ou por meio de roupas e objetos contaminados, e perseguiu a humanidade durante séculos.
Os sintomas do VMPX são muito parecidos aos da varíola humana, incluíndo febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas, nódulos linfáticos inchados, arrepios de frio e exaustão, desenvolvendo-se ainda erupções cutâneas.
A grande diferença entre a varíola humana e a dos macacos reside no fator de disseminação.
Cada tipo de varíola tem um ou mais grupos de espécies como hospedeiro. No tempo da varíola humana, o hospedeiro era o ser humano, já no que concerne ao VMPX, os hospedeiros são primatas não humanos, roedores, diferentes espécies de macacos e outros animais, pelo que a transmissão para um ser humano é menos provável do que no caso da varíola humana, mas não deixa de ser um risco.
A transmissão de humano para humano é limitada — mas pode acontecer através do contacto próximo com pessoas infetadas ou com materiais contaminados —, com a cadeia de transmissão mais longa documentada a ser de seis gerações, o que significa que a última pessoa a ser infetada nessa cadeia estava a seis elos de distância do doente original.
Apesar de a varíola humana já ter sido erradicada, a varíola dos macacos continua a estar bem presente em zonas da África Central e Ocidental.
Há dois ramos distintos não identificados: o ramo da África Ocidental e o da Bacia do Congo, também conhecido como o clado (estirpe) da África Central, segundo a Organização Mundial de Saúdo (OMS).
Os casos de VMPX são frequentemente encontrados perto de florestas tropicais onde existem animais que carregam o vírus.