Jogadores do Uzbequistão, que disputaram as Surdolimpíadas, deixam cartas de agradecimento

As dificuldades de comunicação dos surdoatletas da Seleção do Uzbequistão foram significativamente diminuídas pelo auxílio de profissionais do ramo hoteleiro, que os ajudaram durante a sua estadia em Bento Gonçalves. Através de Márcia Amarante e de muitas outras mãos, desde restaurantes à pessoas que se encantaram com os surdoatletas, os jogadores puderam conhecer pela primeira vez a praia, realizaram um amistoso com uma equipe amadora de Bento Gonçalves e provaram o tradicional churrasco, entre outras diversas experiências em solo brasileiro.  

Em forma de agradecimento pelo que lhes foi proporcionado durante as Surdolimpíadas de 2022, que ocorreram em Caxias do Sul, os atletas de Uzbequistão deram um exemplo de humildade e respeito. Na despedida, os jogadores deixaram nos quartos cartas de agradecimento ao acolhimento dos profissionais que estiveram com eles durante o período da competição. 

Márcia fez muito além do seu dever ao proporcionar momentos inesquecíveis aos surdoatletas do país asiático. Através dela, a seleção conseguiu viajar para Torres para conhecer o “oceano”, como dizia o próprio treinador. “Quando chegaram na praia foi muito emocionante. Eles tiravam fotos, entravam no mar, ligavam para a família para mostrar onde estavam e sempre agradecendo muito nós. Todo tempo agradeciam”, relata. 

No caminho, dois atletas ganharam um passeio de graça em bicicletas suspensas no mirante da Rota do Sol, um deles por cortesia da casa e outro pago por uma família que se encantou pelos surdoatletas. Além disso, a seleção contou com a boa recepção de restaurantes, que fizeram questão em dar um significativo desconto para a equipe. 

Apesar de ganharem um valor do governo através da concessão de bolsas, ao contrário do que ocorre no Brasil, que não fornece o benefício para surdoatletas, grande parte dos jogadores uzbeques não tinham condições para realizar compras ou frequentar restaurantes com preço elevado. “Um é gerente de uma fábrica de roupas, outro é pedreiro, outro montador de móveis. Eles têm uma realidade igual a nossa”, comenta Márcia. 

Além do mar, outro grande desejo dos surdoatletas era conhecer o tradicional churrasco feito no Rio Grande do Sul. Como no Uzbequistão a carne é assada por meio de pequenos palitos, os jogadores se admiraram com o tamanho do espeto. “Eles queriam desde o começo conhecer o churrasco. Eles ficaram quase sete dias sem comer carne vermelha, apenas frango assado e bifes. O espetinho deles é muito menor que os nossos, e eles se apavoraram quando viram o nosso espeto para assar a carne”, relata. 

O churrasco foi proporcionado pela equipe amadora da Paulina, de Bento Gonçalves, depois de um jogo amistoso realizado contra a Seleção de Uzbequistão. A partida terminou com vitória do time de Bento Gonçalves pelo placar de 3 a 1, no entanto, o resultado foi o que menos importou. Apesar das limitações quanto à comunicação, os jogadores trocaram experiências, mesmo que só por gestos. 

Sempre exibindo de forma clara a gratidão pela recepção, os jogadores conquistaram o coração de muitos bento-gonçalvenses que por eles passaram ou conviveram, mesmo que por pouco tempo. O maior exemplo de respeito foi na despedida, quando os atletas deixaram cartas em cima das camas, nas quais retratavam o sentimento de gratidão pelo acolhimento e estadia na cidade.  

Em uma delas, um dos atletas disse, em carta escrita em português: “Obrigado pela gentileza e preocupação, tudo foi top. Não esqueceremos você e sua boa atitude em relação a nós”.

“A forma de agradecimento, a educação e a disciplina fizeram toda a diferença. Eles fizeram duas cartas, uma delas com autógrafos em formatos de desenhos animados e escrita no idioma deles. Eles falaram que fui como uma mãe para eles, que só tinham a agradecer e que deixamos coisas boas para as suas vidas. Eu chorei demais neste momento”, explica Márcia. 

Além da humildade, a profissional destacou a união dos atletas que, apesar das limitações em termos de comunicação, um ajudava o outro para a melhor compreensão no contato com os brasileiros. “Podemos aprender com eles o companheirismo, por eles serem muito unidos, humildes, sabem agradecer pelas coisas que têm e recebem e, sobretudo, pelo respeito mútuo. Apesar de conviver com eles nesses dias, nunca me faltaram com respeito. Tratavam-me como se eu fosse uma mãe para eles”, pondera. 

Exemplo de acolhimento, Márcia afirma que Bento Gonçalves tem muito a aprender a receber seus turistas, sejam de quaisquer lugares do mundo e de quaisquer limitações que possam ter. “Atender e auxiliar é o que precisamos. O bom atendimento é muito importante, independente se for daqui ou de fora. Precisamos olhar para as pessoas com carinho, e temos que nos colocar no lugar do cliente”, ressalta Márcia, que complementa:

“Se você fizer uma boa ação, você será retribuído, e a forma que eles me agradeceram foi uma retribuição que vou guardar na minha memória pelo resto da minha vida. Agora tenho muita vontade de conhecer o país deles depois deste período em que os surdoatletas estiveram conosco”, destaca a profissional. 

Empreendimentos que auxiliaram na estadia da seleção do Uzbequistão na disputa das Surdolimpíadas 2022: Restaurante Torres Grill, Casa Rigo, GSA Transporte, Padaria Primazia, Sucsul Comércio de Sucos, Casa do Frango e equipe da Paulina.