Em reunião realizada nesta segunda-feira, dia 21, o Conselho Distrital do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, barrou a instalação de dois grandes empreendimentos que, juntos, resultariam em um investimento bilionário naquele que é um dos principais roteiros do enoturismo no Brasil e na geração de milhares de empregos diretos e indiretos no município.
O Bewine Resort prometia trazer a Bento Gonçalves o maior parque temático do vinho no mundo, com uma adega vertical de 18 mil garrafas, jardim e restaurante suspensos, universidade do vinho, e muitas outras atrações, tudo em uma área de 60 mil metros quadrados que também contemplaria 421 apartamentos de luxo. O outro projeto, batizado de Complexo do Vinho – uma parceria da Salton com a Gramado Parks –, reunia em si quatro diferentes espaços: um Resort (Buonna Vita), um Refúgio (Hotel Horizontal e Cabanas), Mall (Centro Comercial, Gastronômico e de Entretenimento) e um Parque das Águas (Parque Aquático e SPA).
Recentemente, contudo, outra proposta de grande porte acabou sendo aprovada por unanimidade pelos conselheiros: o Castelos do Vale Resorts, que contará com 185 unidades de hospedagem em formato de palacetes e será construído dentro da propriedade da Vinícola Dom Cândido.
Essa discrepância verificada na análise e liberação dos projetos por parte do Conselho Distrital chamou a atenção da Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento e Bem-Estar Social da Câmara de Bento. Em manifestação na Tribuna da Casa na sessão desta segunda, o vereador Anderson Zanella (Progressistas), que preside a comissão, voltou a defender que haja uma revisão na atuação dos conselhos, fazendo com que eles deixem de ser deliberativos e se tornem consultivos.
Nesta terça-feira, 22, durante reunião ordinária, a comissão aprovou um requerimento convocando o presidente do Conselho Distrital e subprefeito do Vale dos Vinhedos, Marciano Batistello, para comparecer à Casa no dia 29 a fim de prestar esclarecimentos sobre o trâmite dos processos. "Temos que tomar providências quanto aos conselhos. Os projetos ficam muito tempo trancados quando não são de interesse de alguém pessoal de alguém. O Castelos do Vale foi liberado por unanimidade, e é o mesmo projeto do Thermas (Complexo do Vinho), é o mesmo projeto do BeWine. Então, é um consleho com dois pesos e duas medidas", afirma o parlamentar.
Em ofício remetido ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb), a comissão também solicitou conteúdos da reunião do Conselho Distrital, como vídeos, áudios, fotos e lista de presença, além das atas desta e das seis reuniões anteriores. "Liguei para o presidente solicitando algumas informações, mas até agora não recebi retorno, então vou fazer isso de forma oficial pela comissão. Tem uma série de dúvidas sobre a condução do processo que pairam no ar. Será que tinha algum empreendedor do setor hoteleiro votando ontem?", indaga Zanella, que diz ainda que, em função de "denúncias graves", pedirá que o Ministério Público acompanhe o caso.
Entre os esclarecimentos a serem buscados, está justamente a condução da última votação do Conselho, que resultou no impedimento de que os dois projetos avancem ."O Ipurb, dentro da lei, liberou os projetos. O Conselho deveria votar o impacto da infraestrutura, pelo que diz o Plano Diretor. Até onde eu sei, foi votado o impacto social, que não tem como mensurar e não está previsto no Plano Diretor", avalia o vereador.
A reportagem do NB Notícias entrou em contato com o presidente do Conselho Distrital e subprefeito do Vale dos Vinhedos, Marciano Batistello, na tarde desta terça-feira, para buscar informações a respeito dos motivos que levaram à não aceitação dos empreendimentos no distrito, mas ele não pôde falar porque estava em uma reunião no momento da ligação. Em nova chamada realizada uma hora mais tarde, ele não atendeu.