Saúde Descaso
Médico nega atendimento e abandona posto na UPA 24h de Bento Gonçalves
Pacientes flagraram o profissional escutando música no celular, tomando café e dizendo que não atenderia as famílias. Diante das cobranças, ele ainda debochou das pessoas e chamou a polícia
21/03/2022 10h45 Atualizada há 3 anos
Por: Marcelo Dargelio
(NB Notícias)

Mais uma situação absurda envolvendo o atendimento na UPA 24h de Bento Gonçalves foi denunciada na noite deste domingo, 20 de março. Pacientes e acompanhantes que estavam no local relatam que um dos médicos se negou a trabalhar e foi flagrado ouvindo música no celular enquanto várias pessoas, incluindo crianças, aguardavam por horas para serem chamadas. Ao ser cobrado a respeito do seu trabalho, ele disse que iria embora e ainda chamou a polícia contra os enfermos e familiares.

A reportagem do NB Notícias foi acionada pela comunidade e esteve no local. Logo após a chegada, a barraca localizada na área externa da unidade, que estava lotada, inclusive com a presença de pais com bebês no colo em meio à noite fria, foi rapidamente esvaziada. No espaço interno, para onde foram levados, muitas reclamações a respeito da demora. Cansadas, algumas pessoas desistiram e foram embora.

Apenas uma médica estava de fato atendendo naquele horário e, a respeito da atuação dela, nenhum dos entrevistados apresentou queixas. Mas, sem a participação do colega, a indignação acabou sendo generalizada, já que o descaso afetou toda a prestação do serviço público. Um pai afirma que chegou às 19h com o filho, que tem uma hérnia, e ainda não havia sido atendido mesmo depois das 22h, quando foi ouvido pelo NB. "Faz três horas que estamos esperando aqui, mas tem gente que está desde as quatro da tarde. E agora que eles colocaram o pessoal para dentro", aponta. Ele também diz que o médico estava "conversando na salinha" e que, ao cobrar agilidade dele, o profissional chamou a polícia.

Um outro paciente contou que o mesmo médico ainda "debochou" deles e confirmou que a Brigada Militar foi acionada. "Ele puxou a cadeira e perguntou se a gente queria atender no lugar dele. Aí, chamou a polícia, abandonou o posto e foi embora", completa o homem.

Uma mãe, que estava desde as 18h à espera de atendimento para a filha, contou que, depois de um procedimento de triagem feito pela médica, acabou flagrando uma cena revoltante. "Minha nenê encostou sem querer em um porta e abriu. Nós encontramos o médico lá dentro, no telefone, ouvindo música e tomando café. Aí ele fechou a porta e nós esperamos mais meia hora lá dentro. Então, eu bati na porta e perguntei: 'O senhor não vai nos atender?'. Ele respondeu que estava ocupado e que, se era sintoma gripal, nem era para a gente estar aqui dentro, era para estar no posto de saúde, que ele não era pediatra. Eu disse que era o trabalho dele, e ele disse que não ia mais atender, chamou a polícia e foi embora", narra a mulher.

O QUE DIZ A PREFEITURA DE BENTO GONÇALVES
O NB Notícias questionou o Poder Público bento-gonçalvense a respeito de possíveis medidas contra a MedSaúde, responsável pelas contratações na área da Saúde. Na semana passada, frente a outra série de reclamações sobre a má qualidade do serviço, a administração informou ter notificado a empresa para que promovesse melhorias urgentes no serviço, inclusive sob ameaça de aplicação de multa diária de R$ 300 mil. Em nota divulgada na manhã desta segunda-feira, dia 21, a prefeitura ressalta que, com o não cumprimento da escala médica, a Secretaria Municipal de Saúde abriu um processo de inexecução contratual contra empresa. "Paralelo a isso, a SMS já trabalha para abertura de um processo seletivo para contratação de médicos plantonistas clínicos-gerais e pediatras, para suprir a demanda de atendimentos e ampliar o número de profissionais", conclui o comunicado.