Se, por um lado, a única medida interna efetiva tomada após escândalos relacionados a desmatamento e sumiço de gatos foi a exoneração do secretário de Meio Ambiente, Claudiomiro Laurindo Dias, de outro parece que as denúncias e críticas direcionadas à prefeitura de Bento Gonçalves começam a resultar em retaliações do lado de fora da Casa Amarela. É o caso, por exemplo, da Associação Ativista Ecológica (Aaeco), que tem acompanhado de perto estes dois casos – e vários outros – e foi informada na última sexta-feira, dia 4, que não terá mais um estagiário cedido pela administração municipal.
Há cerca de dois meses, o estagiário que atuava na entidade precisou deixar a função. A partir da saída, a Aaeco encaminhou ao governo o pedido para substituição do funcionário, mas ficou algumas semanas sem receber qualquer resposta. "Achávamos que era só burocracia, mas, na verdade, eles não queriam substituir. Aí, depois de um mês, eles nos ligaram nesta sexta e disseram que foi feita uma reunião com o prefeito e que não vão mais ceder um estagiário para a Aaeco", relata o secretário-geral Gilnei Rigotto.
Em uma publicação no Facebook, nesta segunda-feira, dia 7, Rigotto diz que a decisão foi uma "represália pela Aaeco ter cumprido seu papel denunciando o maior desmatamento já ocorrido em Bento Gonçalves, sem Licença Prévia e nem Licença de Operação". Na postagem, ele também questiona o fato de o secretário adjunto do Meio Ambiente, Valcir Luiz Schell, acusado de estar presente no dia em que vários gatos foram retirados de uma casa no bairro Conceição para um fim ainda incerto, não ter sido exonerado até o momento. "O prefeito atual, em vez de autorizar sua bancada assinar a CPI para esclarecer os fatos, afinal 'quem não deve não teme' toma todas as atitudes de negar as investigações, e a bancada governista nega a CPI com a desculpa esfarrapada de ser palanque político", completa.
Para não prejudicar o trabalho, a Aaeco tem utilizado os poucos recursos de que dispõe para pagar uma nova estagiária. Como alternativa, está buscando apoiadores que possam contribuir mensalmente com R$ 50,00 para manter a auxiliar. Quem desejar ajudar, pode entrar em contato pelo telefone (54) 9.9986.8041, que também funciona pelo WhatsApp.
Não é de hoje que a prefeitura de Bento mantém uma postura de ataque à Aaeco. Em 2018, depois de ocupar uma sala junto ao antigo Estádio da Montanha, na avenida Osvaldo Aranha, por mais de uma década, a entidade foi obrigada a deixar o espaço após determinação do Poder Público, que inclusive tentou assumir a coleta de lixo eletrônico, um dos principais trabalhos desenvolvidos pela associação, mas nunca emplacou a ação. O duro golpe, contudo, não foi fatal para a Aaeco: com alguns apoios, ela se instalou a poucos metros dali, na rua Livramento, e manteve a sua atuação.
O que diz a prefeitura
Em breve comunicado, a prefeitura de Bento Gonçalves informou o seguinte: "O projeto de lei acerca das cedências de 2022 está em vias de ser encaminhado ao Poder Legislativo. O município tem procurado suprir principalmente a sua demanda interna de pessoal. Não há ainda uma definição final sobre as entidades que irão ou não receber funcionários cedidos do Município e em que quantidade".
Praticamente em todos os anos, a proposição vai para a Câmara para ser votada com efeito retroativo ao dia 1º de janeiro e tem validade até 31 de dezembro. Mesmo assim, nesse meio tempo, nunca houve corte de estagiários em nenhum local como aconteceu agora com a Aaeco.
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