A Secretaria da Cultura (Sedac) inicia na terça-feira (15/2) uma programação alusiva ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, envolvendo palestras, oficinas e conteúdos nas redes sociais sobre o evento que se tornou o marco simbólico e histórico do modernismo no Brasil, considerado um divisor na história da cultura brasileira. As atividades, que se estendem até 20 de fevereiro, serão desenvolvidas pela Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e pelo Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), Centro de Desenvolvimento de Expressão (CDE).
Com a perspectiva de oferecer resgates, revisões e leituras plurais sobre a Semana de 22, a programação apresentará três palestras com as pesquisadoras Regina Teixeira de Barros, Daniela Kern e Paula Ramos, respectivamente, nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro. Sempre às 17h, os eventos serão transmitidos pelapágina da Casa de Cultura Mario Quintana no Facebook, sem necessidade de inscrição.
Nos dias 15, 16 e 20 de fevereiro serão realizadas, respectivamente, as oficinasO que cabe nas palavras?,Leitura coletiva em voz alta deMacunaíma, de Mário de AndradeeFora da caixa: retrato em dupla. Os eventos ocorrem na Sala de Oficinas do CDE, no 5º andar da Casa de Cultura Mario Quintana.
Nas suas redes sociais (InstagrameFacebook), o Margs publicará conteúdos especiais sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.
Semana de 22
Realizada entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, incluiu exposição com cerca de cem obras, aberta diariamente no saguão do teatro, e três sessões lítero-musicais noturnas.
Organizado por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência do Brasil, o evento declarou o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica.
A principal função da Semana de 22 para a história da arte brasileira foi romper com o conservadorismo vigente no cenário cultural da época, assumindo um compromisso com a renovação estética, beneficiada pelo contato estreito com as vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.).
Tal esforço de redefinição da linguagem artística se articulou a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganhou acento destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundiram e se normalizaram.
A Semana de Arte Moderna foi um fenômeno eminentemente paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração maciça de estrangeiros e à urbanização.
Ainda que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas múltiplas manifestações e geografias – incluindo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul etc. –, a Semana de 22 é considerada um divisor na história da cultura brasileira.
Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti e Agenor Fernandes Barbosa, entre outros, e como um dos organizadores o intelectual Rubens Borba de Moraes que, entretanto, por estar doente, dela não participou. Na ocasião da Semana de Arte Moderna, Tarsila do Amaral, considerada um dos grandes pilares do modernismo brasileiro, se encontrava em Paris e, por esse motivo, não participou do evento.
Todas com transmissão ao vivo peloperfil da Casa de Cultura Mario Quintana no Facebook, sem necessidade de inscrição. As palestras ocorrem por meio da Associação de Amigos da Casa de Cultura, com patrocínio do Banrisul.
16/2 (quarta-feira), 17h
Mulheres modernistas
Palestrante: Regina Teixeira de Barros
Quando se pensa na produc?a?o feminina nos primeiros tempos do modernismo no Brasil, os nomes que vêm à mente sa?o, invariavelmente, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Mas, para ale?m dessas duas reconhecidas figuras femininas, indiscutivelmente centrais para a compreensão do período, outras tiveram atuac?ão relevante, ainda que ofuscadas por um sistema arti?stico majoritariamente integrado por homens. Entre elas, a pintora Zina Aita, participante da exposição da Semana de Arte Moderna de 1922; Regina Gomide Graz, por sua contribuição às artes aplicadas; e Mina Klabin Warchavchik, responsável pelos primeiros projetos paisagísticos com espécies tropicais.
Regina Teixeira de Barrosé doutora em Estética e História da Arte pela USP. Foi professora de História da Arte e Estudos sobre Museus na Faculdade Santa Marcelina (2002-2016). Coordenou a equipe de pesquisa e a edição doCatálogo Raisonné Tarsila do Amaral(2006-2008). Foi curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 2003 e 2015, onde realizou diversas exposições, entre as quaisTarsila viajante(Pinacoteca e Malba, Buenos Aires, 2008) eArte no Brasil: uma história do modernismo(2013). Desde 2016 é pesquisadora e curadora independente, realizando exposições sobre arte do século 20 e contribuindo em publicações que revisam a historiografia sobre arte moderna no Brasil. Em 2018 recebeu prêmios da ABCA e da APCA pela mostraAnita Malfatti: 100 anos de arte moderna(MAM-SP, 2017). Em 2021 curou a exposiçãoModerno onde? Moderno quando?(MAM-SP), em parceria com Aracy Amaral.
17/2 (quinta-feira), 17h
Para além da Semana de Arte Moderna: revisões e inclusões
Palestrante: Daniela Pinheiro Machado Kern
Nos últimos anos, temos podido acompanhar um importante movimento de revisão dos fundamentos dos modernismos nas artes do Brasil. Nessa historiografia que surge, conceitos são reconsiderados, obras reanalisadas, nomes relembrados. Ana Paula Simioni, Kleber Amancio, Rafael Cardoso, entre vários outros, são autores que colaboram com a transformação de nossa visão sobre a "arte moderna" no Brasil, apontando carências e lacunas sociais, de gênero e raça, sobre as quais é preciso repensar. Propõe-se aqui seguir o fio dessa nova historiografia da arte brasileira, destacando algumas de suas principais contribuições para o campo.
Daniela Pinheiro Machado Kerné professora do Instituto de Artes da UFRGS. É líder do grupo de pesquisa CNPq Arte e Historiografia e autora deTradição em paralaxe: a novíssima arte contemporânea sul-brasileira e as "velhas tecnologias"(EdJuc, 2012). Traduziu para o português, entre outras obras,O sentido de ordem(Bookman, 2012), de E. H. Gombrich. Atualmente é vice-diretora do Instituto de Artes da UFRGS.
18/2, 17h
Um centenário / outros modernismos
Palestrante: Paula Ramos
“Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição.” A frase é de Mario de Andrade (1893-1945) e foi proferida em 1942, na conferência “O movimento modernista”, apresentada na Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores. Haviam-se passado, então, 20 anos da Semana, e, na percepção de um de seus protagonistas, ela era motivo de crítica, e não propriamente de celebração. Curiosamente, data daquela mesma década a construção historiográfica que transformou a Semana de 1922 em um mito por muito tempo inquestionável: “o início do modernismo no Brasil”. Na esteira do centenário da Semana de Arte Moderna, a palestra vai abordar alguns aspectos “dos modernismos” no país, com ênfase no Rio Grande do Sul.
Paula Ramosé crítica, historiadora da arte e curadora, professora associada do Instituto de Artes da UFRGS, atuando na graduação e na pós-graduação em História da Arte. Suas pesquisas estão voltadas ao modernismo no sul do Brasil, com ênfase nas relações entre artes visuais e cultura gráfica. É autora, entre outros, deA madrugada da modernidade (1926) eA modernidade impressa – Artistas ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre, contemplado com diversos prêmios, incluindo o Jabuti.
15/2 (terça-feira)
O que cabe nas palavras? – Oficina de escrita criativa
Ministrada por Daniele Alana e Marina Feldens
A oficina “O que cabe nas palavras?” irá trabalhar dinâmicas de escrita criativa a partir de exercícios que se relacionem com diferentes expressões artísticas. Em homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 22, essa oficina desdobra a grande influência da literatura e da poesia moderna nesse marco histórico da arte nacional e sua importância em relação às artes visuais. Serão desenvolvidos exercícios que atentem à subjetividade de uma escrita não rígida, mas sim livre e pessoal.
16/2 (quarta-feira)
Narrativas modernas e construção da identidade nacional – Leitura coletiva em voz alta deMacunaíma, de Mário de Andrade
O encontro propõe a leitura conjunta de capítulos de um dos principais romances modernistas. A partir da leitura em voz alta de alguns capítulos do livroMacunaíma, serão debatidas questões fundamentais da modernidade e da construção da identidade nacional. A leitura coletiva em voz alta é um exercício que promove um espaço de valorização da escuta e da atenção, num movimento contrário à hipervelocidade da informação nos nossos dias.
20/2 (domingo)
Fora da caixa: retrato em dupla
A Semana de 22 foi um marco para a história da arte brasileira. Unindo artes visuais, literatura e música, quebrou com os padrões e com a tradição da arte, apresentando novos caminhos para a expressão artística. Na atividade de "Fora da caixa: retrato em duplas", vamos nos divertir explorando os ideais modernistas através de exercícios de desenho e colagem. Vamos brincar de desenhar de cabeça para baixo, de olhos fechados, ou enquanto dançamos. Que possibilidades surgem quando decidimos não seguir as regras da arte? Como podemos encontrar um estilo que seja só nosso? Destinada a crianças de sete a 13 anos, é preciso trazer uma pessoa para formar a dupla – pode ser um colega, um amigo ou um parente. A dupla pode ser um adulto ou uma criança.
Texto: Ascom Margs
Edição: Secom
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