Um ano para o futebol gaúcho esquecer, e não só pelo fato de a Dupla Gre-Nal ter finalizado o Brasileirão fora da parte de cima da tabela e o tricolor porto-alegrense ter amargado o terceiro rebaixamento de sua história. Na temporada, o Brasil de Pelotas foi rebaixado à Série C; o Ypiranga novamente decepcionou na fase derradeira da terceira divisão nacional; e o Caxias, na Série D, mais uma vez bateu na trave em busca do acesso. A única comemoração foi por parte dos Jaconeiros, uma vez que o Juventude se safou na última rodada do rebaixamento e permaneceu na elite do futebol brasileiro.
Brasileirão Série A - Dupla Gre-Nal
Pela primeira vez desde 1999, nem Grêmio nem Internacional terminaram o Brasileirão entre os 10 primeiros colocados. O tricolor de Porto Alegre foi rebaixado pela terceira vez em sua história. Desde a segunda rodada no Z4, o tricolor, que trocou de técnico três vezes durante o Brasileirão e, no total, quatro vezes na temporada 2021, não teve forças para se recuperar e terminou a competição nacional na 17ª colocação.
Sem crise financeira e sem nenhum salário atrasado, fatores geralmente associados ao rebaixamento de grandes clubes do futebol brasileiro, a exemplo de Vasco, Cruzeiro e Botafogo, nas temporadas anteriores, o Grêmio vai disputar a Série B com um superávit orçamentário.
Já o Internacional, que até a última rodada contava com chances de classificação à Pré-Libertadores, terminou o Brasileirão com uma derrota para o Bragantino por 1 a 0, somando cinco jogos consecutivos sem vencer na reta final do campeonato. O time colorado, do técnico Diego Aguirre, sondado pela seleção Uruguaia, finalizou a competição na 12ª colocação, com o mesmo número de vitórias que o Grêmio. A posição o credencia a disputar a Copa Sul-Americana de 2022.
Saimon Bianchini - repórter da Rádio Gaúcha:
O repórter da Rádio Gaúcha, Saimon Bianchini, avaliou como frustrante a temporada da Dupla Gre-Nal pelas ambições e pelo que prometiam no ano. “A temporada do Grêmio foi trágica, porque era um time que fez boas contratações: o Rafinha, querendo ou não, pela importância de ter sido jogador de anos e anos de futebol alemão e seleção brasileira; o Douglas Costa, que segue sendo um bom jogador, mas não é um bom atleta, pois tem muitos problemas no extra campo e decepcionou também pela questão afetiva; Campaz e Villasanti, que vieram talvez não no melhor momento. Porém o Grêmio não teve sucesso esportivamente, muito por conta da falta de habilidade de gestão e de trato do vestiário, que o Grêmio deixou muito com os jogadores, a direção se preocupou com outros assuntos, políticos, financeiros e deixou de lado algo que era administrar bem a casinha”, avalia.
Conforme opina Saimon, uma sucessão de erros fez com que o final do ano do tricolor do Grêmio fosse trágico, resultando no terceiro rebaixamento da história do clube. “O Grêmio foi muito mal em muitos quesitos, cometeu muitos erros e fez muito esforço para ser rebaixado mais uma vez”, destaca.
Pelo lado do Internacional, Saimon caracteriza a campanha do colorado como decepcionante. “O Inter tinha uma base que foi vice-campeã brasileira, mas partiu para um novo projeto, e foi comprovado que talvez não era o melhor momento para apostar nesse novo projeto, em uma mudança tão drástica, e um profissional que talvez não estivesse pronto para essa missão no futebol brasileiro, em um clube dessa importância como o Inter”, analisa Saimon, que complementa:
“O Inter perdeu boa parte da temporada, depois chegou o Aguirre, deu uma consertada, caiu na Libertadores, o time engrenou no Brasileirão, mas depois que surgiu essa especulação de ir treinar a seleção do seu país o time teve uma derrocada muito forte. Acho que o Inter se perdeu muito pelo Aguirre, mas também por alguns problemas semelhantes que o Grêmio teve, como gestão de vestiário — depois do episódio do Paixão, que foi o áudio vazado pelo então coordenador da preparação física, que também era coordenador da preparação técnica. O Inter acabou cometendo alguns equívocos e de vez viu o seu trabalho ruir com uma crise também no vestiário”, comenta o repórter.
De acordo com Saimon, ambos os clubes da capital deverão passar por uma reformulação em seus elencos.
Brasileirão Série A - Juventude
Ao contrário da Dupla Gre-Nal, o Juventude teve muito o que comemorar com base no seu principal objetivo na competição nacional: a permanência na primeira divisão. Após retornar à elite do futebol nacional após 14 anos e, mesmo com a menor folha salarial do campeonato, o clube conseguiu se salvar do rebaixamento, e de forma emocionante, com vitória sobre o Corinthians em Caxias do Sul.
O alviverde finalizou o Brasileirão na 16ª colocação, totalizando 46 pontos, ultrapassando o Bahia na última rodada para se manter na elite. Além disso, a equipe ficou a um ponto de conquistar vaga à Copa Sul-Americana de 2022.
Eduardo Costa - Rádio Gaúcha Serra
De acordo com o repórter da Rádio Gaúcha Serra, Eduardo Costa, a campanha do Juventude foi boa, visto que atingiu o objetivo de permanecer na Série A do Campeonato Brasileiro. “As dificuldades enfrentadas pelo Juventude são normais pelo investimento que o clube faz em comparação com os outros times, pois o Juventude tinha a menor folha salarial da Série A. Mesmo assim conseguiu, durante todo o Brasileirão, fazer um campeonato digno. Nunca passou vergonha e sempre esteve na briga e, em grande parte da competição, esteve fora da zona do rebaixamento”, explica.
Além da questão financeira, Eduardo elenca o fato de o clube ter superado perdas significativas no elenco ao longo da competição. “O clube encontrou bons nomes que chegaram, se afirmaram e se tornaram a espinha dorsal desse time. Além da questão financeira, o Ju perdeu o seu artilheiro no começo da competição, o atacante Matheus Peixoto, que estava numa fase espetacular, perdeu Paulinho Bóia, que era uma peça importante no ataque. Com um elenco muito limitado e enxuto, o Juventude conseguiu a permanência”, destaca o repórter.
Segundo o repórter, o Juventude tirou lições para a próxima temporada, especialmente que pode ter um elenco um pouco maior e que pode contratar antes. "O clube vai ter um longo e árduo trabalho para 2022 visando corrigir algumas coisas que acabaram não ocorrendo da melhor forma para, novamente, tentar permanecer e, quem sabe, brigar por uma vaga na Copa Sul-Americana”, conclui.
Brasileirão Série B - Brasil de Pelotas
Depois de seis anos na Série B, o Brasil de Pelotas caiu para a terceira divisão do futebol brasileiro. O descenso chegou com cinco rodadas de antecedência, em uma campanha para o torcedor Xavante esquecer. Assim como o Grêmio, o Brasil teve três trocas de treinadores durante o campeonato, mas que não surtiram efeito dentro de campo.
As crises política e financeira que assolaram o clube, as divergências na diretoria e o excesso de contratações durante o campeonato foram fatores que culminaram para o desenrolar da campanha que deixou o Brasil na lanterna da Série B com apenas 23 pontos.
Marcelo Prestes - Rádio Universidade
Conforme o repórter da Rádio Universidade, Marcelo Prestes, 2021 tinha tudo para ser um ano de renovação no Brasil de Pelotas, uma vez que, depois de seis anos, o clube trocara de presidente. Houve a saída de Ricardo Fonseca, que ganhou prestígio pelos títulos e acessos, e a chegada de Nilton Pinheiro, que foi um dos vice-presidentes de Ricardinho. Porém, na prática, nada deu certo para o Xavante.
“O Brasil de 2021 não andou. Foi digamos que uma Torre de Babel começando lá pelo final do campeonato. A temporada começou com o técnico Cláudio Tencatti, mas ele e o novo departamento de futebol não falavam a mesma língua. Tencatti falava uma língua, o departamento de futebol falava outra língua, o gerente contratado, Fernando Leite, falava outra língua. Assim começou o Brasil a ruir, a Torre de Babel. No meio disso, o presidente Nilton Pinheiro acabou não tendo lado. Nem de Fernando, nem de Tencatti, nem do seu departamento de futebol”, analisa.
De acordo com o repórter, a “Torre de Babel” descrita por ele continuou, sobretudo, no momento das contratações. “O Brasil acabou apostando em jovens e também em medalhões, jogadores que há muito tempo não faziam um bom campeonato. Foi uma decepção a temporada: briga política, ‘Torre de Babel’, contratações erradas e aposta em jovens sem minutagem em equipes profissionais. Também teve desentendimentos dentro do conselho deliberativo que acabaram causando a renúncia de Nilton Pinheiro e ocasionando a renúncia dos demais vices”, cita.
O Brasil finalizou a temporada com o presidente do conselho assumindo a gestão do clube. Já visando 2022, Marcelo afirma que, agora, todos estão falando a mesma língua, com a vinda de Hélio Vieira, assumindo a coordenação técnica com o novo vice-presidente de futebol Arthur Lanes.
“Este é o Brasil que, pelo menos, dá indícios que vai melhorar. Já que 2021 foi terrível, não pode ser pior que o ano em que o Brasil caiu na série B do Campeonato Brasileiro já em janeiro, quando começou seu planejamento totalmente errado para essa temporada. Era uma morte anunciada”, opina Marcelo.
Brasileirão Série C - Ypiranga e São José
No terceiro escalão do futebol nacional, o São José, de Porto Alegre, foi coadjuvante. No início da competição, o Zequinha rondou a zona do rebaixamento, mas se recuperou e finalizou a competição na 6ª colocação do grupo B da primeira fase, sendo eliminado da Série C.
O Ypiranga, por sua vez, fez mais uma campanha de excelência, mas nos jogos derradeiros deixou a desejar. Na fase classificatória, o time de Erechim foi detentor da terceira melhor campanha, com 32 pontos somados e com um aproveitamento de 59,3%.
Com a 3ª colocação do grupo B, o Canarinho avançou à fase seguinte, na qual os classificados foram divididos em dois grupos de quatro equipes. Os dois primeiros colocados de cada chave garantiam o acesso. A campanha, do Ypiranga, no entanto, desandou.
Em um grupo com Tombense-MG, Novorizontino-SP e Manaus-AM, o Ypiranga terminou na lanterna, com seis pontos, três a menos que o vice-líder da chave. Nas primeiras quatro rodadas, o time de Erechim havia feito apenas dois pontos. A recuperação na reta final não foi suficiente para levar o Canarinho à Série B.
Brasileirão Série D - Caxias, Esportivo e Aimoré
Pela terceira vez em quatro anos, o Caxias bate na trave para conquistar o acesso à Série C do Campeonato Brasileiro. Em 2018, 2019 e em 2021, o time Grená chegou até as quartas de final para decidir uma vaga ao terceiro escalão do futebol brasileiro. Desta vez, a equipe da Serra Gaúcha esbarrou com o ABC-RN, que derrotou os caxienses por 3 a 0 em Natal, após um empate em 0 a 0 no Estádio Centenário.
Além do Caxias, outros dois clubes gaúchos participaram da competição. O Esportivo, de Bento Gonçalves, e o Aimoré, de São Leopoldo, foram debutantes na Série D do Campeonato Brasileiro.
O Aimoré caiu ainda na primeira fase, ocupando a penúltima colocação do grupo 8 com apenas 12 pontos conquistados. O Esportivo, após cair no Gauchão, montou um elenco para a disputa da Série D, na qual o clube protagonizou uma de suas melhores campanhas em divisões nacionais.
Na primeira fase, o Esportivo finalizou em terceiro lugar com 18 pontos, na frente do rival Caxias. Na segunda fase, o alviazul superou o Santo André-SP, nos pênaltis. Nas oitavas de final, o time comandado por Rogério Zimmermann esbarrou na equipe da Ferroviária-SP, que contava com um dos maiores investimentos da competição nacional. Com uma derrota em casa e um empate em Araraquara, o time de Bento Gonçalves se despediu da competição.
Mín. 13° Máx. 29°