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Como enfrentar os desafios de ser recém-casado?

Terapeuta de casais dá dicas importantes que passam despercebidas depois que casamos.

15/12/2018 às 21h01
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Divulgação
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Quantas vezes você já ouviu falar que o namoro é a melhor fase do relacionamento? Que, depois do casamento tudo muda?. Pois é, pensando nisso, a terapeuta de casais Cíntia Fernandes Leite dá dicas focadas em casais que estão no início de seu relacionamento. Confira algumas coisas importantes que não observamos depois de casados.

Quais são os conflitos mais comuns no primeiro ano de um casal e como preveni-los?

Antes do casamento tudo é muito mais fácil, ambos satisfazem com mais zelo e atenção as necessidades e desejos um do outro, a responsabilidade das decisões é mais leve, e quando se desentendem os parceiros podem simplesmente sair de perto um do outro ou até terminar o relacionamento, se necessário. A pressão é muito menor em todos os sentidos e, além disso, ambos ainda sentem como se ainda estivessem em uma continuação da fase de “conquistar” o outro, pois mesmo que estejam juntos há muitos anos, o casamento, ou seja, a garantia de que o outro estará sempre ali, ainda não foi consumado. Durante o primeiro ano de casamento os parceiros passam a se deparar com a necessidade de fazer negociações diárias, pois estas são as primeiras responsabilidades da vida a dois, conseguir equilibrar as necessidades e desejos de duas pessoas muitas vezes muito diferentes. Assim, os parceiros precisam conseguir fazer malabarismos diários para buscar soluções que agradem a ambos… A esta exigência de negociação diária, sobre assuntos muito mais delicados, somam-se constantes desilusões, pois antes do casamento os parceiros ainda possuem uma imagem muito idealizada do outro e também de como será a relação com essa pessoa e que, naturalmente, costuma ser muito mais otimista do que realista. Portanto, durante esse período inicial, a maioria dos conflitos tem base nas dificuldades de negociação sobre pequenos e grande assuntos e também nas suas respectivas desilusões iniciais, como por exemplo, de dar conta de que o outro não é “tão carinhoso, generoso ou divertido” quanto parecia no início do relacionamento. E isso também é muito natural, pois os traços mais positivos da personalidade sempre aparecem com mais evidência durante a fase inicial da relação e os mais, digamos, autênticos, infelizmente surgem quando os parceiros precisam aprender a ceder para o outro, em prol da satisfação conjugal.

Quais traços da personalidade vêm à tona somente quando se passa a morar juntos?

O que mais costuma a se evidenciar nesse momento é a habilidade de assertividade de cada parceiro, ou seja, a forma pela qual cada um procura equilibrar a busca pela satisfação das próprias necessidades com as necessidades do parceiro. Mas isso torna-se um desafio maior e o comportamento normalmente muda mais nos parceiros que costumam ser mais impositivos, ou seja, os que procuram pensar mais em si mesmos. Antes do convívio sob o mesmo teto, esse equilíbrio torna-se mais fácil para qualquer pessoa, pois não se exige que esse “malabarismo” de negociações seja feito o tempo todo. Porém, a partir do momento em que passam a conviver juntos diariamente, a habilidade de conseguir negociar a satisfação das próprias necessidades com as do outro torna-se ainda mais difícil. Assim, caso um dos parceiros seja muito mais impositivo e agressivo que o outro, durante esses primeiros anos, ele tenderá a se impor ainda mais, muitas vezes procurando submeter o outro para ter a próprias necessidades atendidas e fazendo assim com que esse outro parceiro aceite a suas imposições e passe a anular suas próprias vontades. Porém, caso o outro também apresente um perfil mais impositivo, ambos tenderão a competir pela satisfação de suas vontades, o que irá ocasionar diversos conflitos, sempre proporcionais às dificuldades de negociação de ambos.

Quais são os sinais de que a comunicação não vai bem entre o casal?

Falar um pouco alto ou de forma um pouco impaciente pode acontecer naturalmente, porém quando isso se torna um hábito o casal já deve entrar em estado de alerta e procurar então identificar as raízes de tanta irritação. Quando além do volume mais alto também surgem gritos e portas batendo logicamente também se percebe que a comunicação está com problemas. Porém, além disso, há diversos outros sinais que, quando passam a ocorrer com certa frequência, devem sempre ser tratadas como um ponto de atenção: silêncios muito prolongados em momentos nos quais naturalmente poderia se haver um certo diálogo, sentir-se desconfortáveis quando estão em silêncio (pois quando estão bem ele traz paz), quando um ou ambos perdem a motivação para expressar sentimentos e pensamentos por receio de ser criticado pelo outro, quando começam a fazer ironias e sarcasmos com maior frequência, principalmente criticando o parceiro na frente de outras pessoas, quando passam a discutir mais para saber quem tem razão do que para resolver o problema em questão, entre diversos outros. A verdade é que a comunicação, ao lado da afetividade, da sexualidade e do companheirismo acaba tornando-se um termômetro geral do relacionamento, pois todas estas áreas sempre denunciam e trazem à tona outros conflitos mal resolvidos do casal, oriundos de diversas outras áreas.

Como o casal deve lidar com as diferenças? Sempre um tem de ceder?

As diferenças e qualquer tensão entre opostos sempre tem uma função reguladora que leva a movimentos de constante adaptação e readaptação entre os elementos opostos e nos relacionamentos, acontece exatamente o mesmo. A maioria dos casais consideram suas diferenças como um possível indicador de que talvez a relação possa não dar certo, porém, quando elas surgem de uma forma mais intensa, é exatamente aí que surge uma oportunidade ainda maior de transformação e desenvolvimento das duas personalidades, pois isso ocorre justamente quando ambos precisam de um ajuste nas suas formas de pensar, sentir ou se comportar. Portanto, quanto maiores as diferenças, maior a polarização de comportamentos e então maior será a oportunidade para ambos de potencializarem suas virtudes e desenvolverem o que está precisando ser desenvolvido. Assim, em todo relacionamento a longo prazo, ambos os parceiros passam por uma profunda transformação psicológica, mesmo que não percebam, pois em sua maior parte ela é inconsciente. Em relação a quem deve ceder, eu diria que ambos sempre devem ceder quando for necessário, desde que busquem sempre expressar e validar suas necessidades assim como levar em consideração as necessidades do parceiro. Pois apenas assim eles poderão se unir de uma forma mais colaborativa para encontrar a melhor solução para seus conflitos. Além disso, eles devem também alternar quem irá ceder em cada situação considerando o peso que as necessidades tem para cada um em cada situação. Portanto, nas negociações sempre haverá sim alguém que terá que ceder, mas se isso for feito sempre de forma colaborativa e alternada, a pessoa que ceder saberá que suas opiniões e sentimentos estão sendo considerados e então não se sentirá desrespeitada. Esta é a melhor forma de proteger o relacionamento, pois tudo diz respeito a forma com que ambos lidam com esse equilíbrio entre as suas diferentes necessidades.

Quais são os erros mais comuns da relação entre casais jovens?

Quando jovens, a maioria das pessoas ainda está buscando reafirmar o seu próprio valor e isso faz com que eles tenham mais dificuldades que os casais mais maduros em diversos sentidos. Alguns dos comportamentos mais comuns causados por essa necessidade latente é o de competirem um com o outro, de ter uma intolerância excessiva a críticas e uma grande dificuldade em perceber ou admitir as necessidades de mudanças nas suas formas de pensar, sentir ou agir. Essa necessidade também faz com que muitos caiam no erro de permitir que suas vontades sejam totalmente anuladas para agradar o parceiro, além de terem dificuldades em tolerar as desilusões em relação ao parceiro e também em relação a vida a dois, pois a idealização nos dois casos costuma ser muito maior. Outro comportamento muito comum entre os casais mais jovens é o comportamento passivo agressivo, em que, em vez de serem transparentes e esclarecerem o que os está incomodando, eles tomem atitudes que tendem apenas a afastá-los ainda mais, como se afastarem afetivamente quando normalmente estariam sendo mais carinhosos, se isolarem, serem irônicos e muitas vezes trocarem pequenas vinganças. Além disso, eles também apresentam uma tendência muito maior que os casais mais maduros de interpretar, equivocadamente, os comportamentos e mensagens do outro como uma ofensa pessoal, pois a partir do momento em que a noção do próprio valor é mais vulnerável, eles também se tornam muito mais desconfiados e então quando percebem qualquer comportamento do parceiro que possa colocar seu próprio valor em dúvida, eles acabam sendo muito mais agressivos e infelizmente também mais resistentes em modificar o próprio comportamento. A necessidade de constante reafirmação da própria imagem também faz com que eles, ao se depararem com um conflito, em vez de se unirem para procurar a melhor solução para resolvê-lo, passem a se acusar mutuamente, de forma que o foco da discussão passa a ser a busca pelo culpado e não mais a solução em si. Assim, muitas de suas discussões acabam criando um efeito bola de neve, pelo qual eles se acusam, se criticam e se magoam cada vez mais, dando início a um círculo vicioso, até chegarem o momento em que justamente a pessoa da qual mais se espera aceitação e aprovação acaba tornando-se a pessoa que mais os critica, ofende e magoa. Se este círculo vicioso não for interrompido eles podem acabar desgastando os sentimentos mútuos de uma forma irreversível e então se separar de forma precoce. Esse ciclo de pequenas acusações e mágoas também ocorre com frequência em relacionamentos de pessoas mais maduras, porém, o que faz com que eles sejam muito mais intensos e prejudiciais nos relacionamentos dos casais mais jovens é justamente o fato de estes terem a sua auto estima e auto imagem mais vulneráveis do que as dos casais com mais idade.

Morar junto antes de casar é algo recomendável? Ou seja, o “test drive” vale a pena?

Esta é uma questão extremamente particular e além disso, para algumas pessoas, envolve também questões religiosas, portanto quando me fazem esse questionamento, procuro apenas comentar sobre algumas possíveis consequências, para que então os parceiros decidam por eles mesmos. Portanto, uma das situações que pode ocorrer é que, caso algum dos parceiros se acomode com a situação de apenas morarem juntos e o outro tenha o desejo de se casar em um período mais breve, esta espera pode causar uma ansiedade muito grande para este último parceiro, e pode também se tornar muito prolongada caso aquele possa ter qualquer restrição quanto ao casamento, não pelo fato de não amar o outro, mas sim por qualquer outra crença que o faça querer adiar esta decisão cada vez mais. Por outro lado, morar juntos antes de casar não deixa de ser uma boa oportunidade para que ambos possam avaliar a vida a dois, porém, é importante lembrar que morar juntos antes do casamento possibilita sim uma oportunidade mais concreta de avaliar como eles irão lidar com a realidade do convívio a dois de uma forma mais realista, mas nunca poderá se comparar de forma realmente justa a realidade de duas pessoas casadas, pois é o casamento é que costuma trazer a verdade à tona, de uma forma mais “nua e crua” pois , além de fazer com que ambos tenham um compromisso legal e não mais tão livre, exige que os parceiros tenham que tomar decisões muito mais delicadas e que por isso faz com que a realidade das personalidades de cada um torne-se ainda mais evidente. Obviamente há diversas outras questões em jogo, porém, essas são as que mais costumam pesar diante dessa decisão.

 

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