Num misto de emoção e comemoração, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves apresentou os números da segunda fase do projeto Unidos por Bento, compartilhando, além de estatísticas, o espírito coletivo de quem se uniu para salvar vidas. Ao longo de quatro meses de atendimento no consultório, dos 648 pacientes atendidos nos primeiros cinco dias de sintomas de Covid-19, apenas cinco precisaram de hospitalização.
Médicos, enfermeiros e toda equipe de retaguarda do Consultório Unidos por Bento foram agraciados pela instituição pelo trabalho desempenhado aos trabalhadores no atendimento imediato ao combate da covid-19. “Cada um de vocês está de parabéns”, destacou o presidente do CIC-BG, Rogério Capoani. “Muito obrigado, mesmo, por estarem junto conosco e toparem o desafio de realizar esse magnífico trabalho”, destacou o presidente.
O consultório entrou em funcionamento no final de abril, operacionalizado com a doação de recursos de empresas, entidades e pessoas físicas, assim como na primeira fase do Unidos, realizada em março de 2020, para reforçar o sistema de saúde municipal com a construção de 40 leitos emergenciais. “Não adianta termos a vontade de ajudar se não temos a sustentabilidade do projeto, e vocês foram esse alicerce”, disse Capoani, em agradecimento aos financiadores do consultório.
Gerido pelo pneumologista Alexandre Pressi, o serviço contou com o trabalho de outros oito médicos – Roberta Bellora, Jaime Arrarte, Marlize Ferrari, Sadi Spagnol, Silvana Piccoli, Marco Grando, Andrew da Silva e Angela Ozelame – e da enfermeira Maira Pressi, além de uma equipe de assistentes.
Durante os cerca de quatro meses em que disponibilizou atendimento aos trabalhadores, o consultório realizou 648 atendimentos para 70 empresas, sendo identificados 56% de casos positivos para covid. “Esses são números absolutos, não estão contabilizadas todas revisões dos pacientes, já que eles podiam voltar tantas vezes quanto fossem necessárias. E talvez resida aí, no acompanhamento das pessoas, a eficiência do projeto”, opinou a vice-presidente do CIC-BG, Marijane Paese, ao conduzir a apresentação dos números do consultório.
Também membro do Comitê Técnico Regional da Serra, Marijane ressaltou como o trabalho foi importante para aliviar a pressão sobre o sistema municipal de saúde. Apenas 1,5% dos casos positivos de covid com atendimento até o quinto dia – ou seja cinco pacientes – precisaram de hospitalização. Na região, no mesmo período em que o consultório ficou ativo, a média foi de 9%. “Ninguém tem esse percentual de 1,5% entre os 49 municípios do comitê. O melhor é de 6% nos municípios com mais de 5000 habitantes”, comparou Marijane, ressaltando que apenas dois precisaram de internação em UTI e todos os pacientes se recuperaram. “Esse é um mérito de todos vocês, o projeto funcionou, sim”.
Do grupo que testou positivo, 88% estavam na faixa dos 20 a 59 anos, sendo a maior incidência nas pessoas de 30 a 39 anos, uma fatia de 32%. No período de maio a agosto, foram internados 732 pacientes em leitos clínicos e de UTI em Bento Gonçalves. O projeto identificou 362 pessoas contaminadas, com aproximadamente 85% delas procurando ajuda até o quinto dia do surgimento dos primeiros sintomas, evitando o agravamento da doença e, consequentemente, diminuindo as internações. “Esse era o objetivo. A ideia era que a empresa enviasse imediatamente a nós a pessoa para que ela não ficasse contaminada junto aos colegas de trabalho, fazendo o monitoramento dela e de seus familiares. Assim, poderíamos fazer o que deveria ter sido feito em toda pandemia, a busca ativa pelo contaminado, isolando quem está doente e não quem está saudável”, avaliou Marijane.
Os dados apresentados surpreenderam até mesmo os profissionais que atuaram e seguem atuando na linha de frente do combate à covid. “Não sabia que havíamos feito tanta diferença, fico muito feliz em saber, muito obrigado a todos por patrocinarem esse serviço”, disse Pressi. Ao falar das dificuldades do atendimento – apenas ele foi responsável por mais de 3 mil pacientes –, da sobrecarga horária e dos momentos difíceis em noticiar os óbitos, o pneumologista destacou a preocupação com a vida, grande mandamento da medicina. “Na medicina, não há garantias de êxito com o tratamento. O acompanhamento médico, o feeling e o exame físico fazem parte do sucesso terapêutico, que não são números, mas sim vidas”, comentou Pressi.
Ao todo, foram arrecadados R$ 291,5 mil para o consultório, através da doação de 109 colaboradores entre empresas, entidades, instituições financeiras e pessoas físicas. Conforme o contabilista Marcos Fracalossi, responsável pela apresentação do balanço contábil do Unidos, com o saldo que havia na conta de R$ 38,2 mil, foram investidos no projeto R$ 329, 7 mil. A prestação de contas está disponível publicamente no site do CIC-BG.
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