O PSDB decidiu suspender, por prazo indefinido, a conclusão das inéditas prévias para a escolha de quem será o candidato do partido à Presidência em 2022. O aplicativo de celular desenvolvido para que os filiados votassem apresentou falhas, o que impossibilitou a escolha de um dos nomes na disputa neste domingo, 21.
Segundo o Estadão/Broadcast apurou, apenas 8% dos mais de 44 mil tucanos que se cadastraram conseguiram votar. O problema motivou acusações de fraude entre aliados dos principais adversários, os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP). "O processo de votação em aplicativo encontra-se pausado em razão de questões de infraestrutura técnica, que não comportou a demanda dos votantes das prévias. Os votos registrados neste domingo estão preservados e o PSDB está definindo, junto com os candidatos, em que momento o processo será retomado", informou o partido, por meio de nota, no fim da tarde deste domingo.
A votação remota das prévias tucanas foi marcada neste domingo por instabilidade no aplicativo desde o início da votação, às 8h. Tucanos de peso como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes, por exemplo, não conseguiram votar. Os votos presenciais, depositados hoje em urnas eletrônicas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, por sua vez, foram computados, mas o resultado só será revelado ao final do processo de votação, diz o PSDB.
De acordo com o comunicado oficial do PSDB, o processo de votação em aplicativo está pausado por questões técnicas, porque a plataforma não teria comportado a demanda. “A integridade e a segurança do sistema estão totalmente preservadas”, esclarece a sigla. “Todos os votos registrados desde a abertura da votação neste domingo estão válidos e serão computados”.
A decisão de suspender a votação sem o resultado foi tomada após reunião na sede da legenda, em Brasília, com a presença do presidente tucano, Bruno Araújo, e os três candidatos. Além de Leite e Doria, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, outro nome na disputa da indicação do partido, participou do encontro.
PSDB gastou mais de R$ 1 milhão com aplicativo
O uso da plataforma de votação remota, que custou cerca de R$ 1,3 milhão ao partido, causou divergências entre as campanhas de Leite e Doria na última semana. Dos 600 mil filiados ao PSDB no País todo, porém, apenas 44,6 mil se cadastraram para escolher o candidato tucano em 2022. Mesmo assim, poucos conseguiram votar neste domingo.
Em reunião na terça-feira, 16, tucanos expuseram dúvidas em relação ao app. O deputado federal Jutahy Júnior (BA), que é aliado de Leite, pediu o adiamento da votação diante de coordenadores da campanha de Doria, que reagiram. Segundo afirmou Jutahy, as prévias não poderiam ocorrer diante de falhas no aplicativo, que foi desenvolvido especialmente para o processo pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurg).
Desde que a plataforma foi lançada surgiram reclamações relacionadas a seu funcionamento. O Estadão mostrou no início do mês que, segundo o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, muitos filiados não estavam conseguindo baixar o aplicativo por terem celulares antigos, sem memória ou mesmo por não terem pacotes dados suficientes. Existem ainda casos de pessoas que não têm familiaridade com esse tipo de tecnologia ou que tentaram fazer o cadastramento, mas não conseguiram por motivos técnicos.
Fiasco das prévias do PSDB causam preocupação em partidos da terceira via
O fiasco nas prévias do PSDB para escolha do candidato do partido à Presidência da República causou surpresa e até preocupação em possíveis aliados de outras siglas nas eleições de 2022. Mais do que falha técnica no aplicativo de votação, o problema revelou desorganização, falta de preparo e divisão do PSDB, com potencial de prejudicar a campanha ao Palácio do Planalto.
A opinião foi manifestada ao Estadão por dirigentes de legendas da centro-direita, que discutem com os tucanos o lançamento de um nome da terceira via para se contrapor às candidaturas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As prévias do PSDB acabaram adiadas por causa da instabilidade no sistema de votação, num processo que terminou por expor ainda mais o racha no partido, com troca de acusações entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), afirmou que o processo é ruim e mostra falta de preparo do PSDB. “Acho que não se pode criar um fato e não ter um final organizado", argumentou Bivar, que vai comandar o União Brasil, partido a ser criado com a fusão entre o PSL e o DEM. "Não sou do quadro do PSDB, longe de mim daqui de longe julgar, mas acredito que essa decisão deveria sair hoje (domingo)."
Outro dirigente de partido de centro que tem conversado com o PSDB disse ao Estadão que as prévias arranharam ainda mais a imagem da sigla e podem até mesmo dificultar um acordo para fazer com que os tucanos liderem uma chapa da terceira via.
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