As estruturas metálicas montadas ao longo da Rota do Sul, nas proximidades do município de Itati, para a passagem de anfíbios viraram memes nas redes sociais. Apesar de estudos comprovarem a utilidade da travessia para os animais, o investimento de R$ 2 milhões no projeto foi muito questionado pela população.
Porém, muito mais do que a preocupação com o uso do dinheiro público, a obra virou motivo de zoação nas redes sociais. Várias pessoas foram até o local e gravaram vídeos junto à estrutura. Além disso, as redes sociais foram invadidas por memes de sabos e até dinossauros tentando utilizar a travessia.
Apesar de toda a zoação, a obra atende um pedido de biólogos que pesquisaram a existência de um cenário rico em espécies animais e uma floresta úmida e alagadiça em períodos de inverno. Essas características são ideais para determinadas espécies de anfíbio, que só existem nessa região. O local fica junto à Reserva Biológica Estadual Mata Paludosa, uma área de preservação criada oficialmente em 2000 após ser identificada por biólogos que realizavam o estudo ambiental para a pavimentação da Rota do Sol, na década de 1990.
Contratada pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), a Biolaw voltou a campo entre o fim de 2017 e o início de 2018 para verificar o comportamento das espécies e a quantidade de mortes por atropelamento. Na época, o trabalho exigiu bloqueios momentâneos da rodovia e o acompanhamento de órgãos policiais. "Comprovamos nesses anos a mais de estudo (2017 e 2018) que o atropelamento de animais terrestres tinha diminuído, mas os arborícolas (que vivem nas copas das árvores) não descem. Zorrilhos e gambás passam pelo túnel, mas pererecas, que vivem nas árvores, estavam passando por cima do asfalto. Existem basicamente três tipos de anfíbios: os sapos, que se afastam da água na fase adulta; as rãs, que vivem na água; e as pererecas, que nascem nas árvores e muitas morrem sem nunca descer", explicou Adriano Souza da Cunha, proprietário da Biolaw.
É aí que entram as passagens aéreas, instaladas nos pontos onde mais se identificaram os atropelamentos. São estruturas de três metros de largura, em aço galvanizado e pintadas com tinta naval para evitar corrosão. Quem as observa pode se questionar como os animais irão subir nas estruturas ou saber que devem passar por ali. É o caso de moradores das redondezas da Mata Paludosa, que não acreditam que os dispositivos salvarão os animais.
Apesar da obra ter virado motivo de piada entre a população, biólogo Cunha é enfático ao dizer que as estruturas estão longe de ficar prontas. O objetivo é que os animais saiam das árvores direto para a travessia, sem que precisem escalar. Para isso, elas serão envoltas pela vegetação, funcionando como uma espécie de extensão da mata. "Vamos colocar plantas de crescimento rápido, trepadeiras que vão envolver a travessia. É uma estrutura metálica, atualmente fica ao sol e é quente. Anfíbios não gostam disso. Também é preciso ter cuidado para que não haja sobrecarga de terra e plantas que deem frutos que podem cair nos carros. Tudo isso será monitorado. Biologia não é uma ciência exata e é a primeira no mundo (travessia aérea voltada a anfíbios). Mas não podemos ficar esperando a espécie ser extinta", destacou o biólogo.
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