Criadores de abelhas e pesquisadores do Rio Grande do Sul enfrentam uma situação misteriosa. Em algumas propriedades, as abelhas estão produzindo mel de coloração azul.
É o que aconteceu com o apicultor Naor Kümpel, que trabalha no ramo há mais de duas décadas, na região de Não-Me-Toque. De acordo com o produtor, no lugar do mel tradicional, ao abrir 25 caixas de abelha, ele encontrou uma tinta que se assemelha a um óleo grafitado e com um cheiro diferente do normal.
Com isso, Kümpel estima um prejuízo de 150 quilos de mel, pois a mercadoria não pode ser comercializada por não atender os padrões exigidos para o consumo humano. "Não é como mel, ele é bem consistente quando escorre", afirma.
Dois vizinhos também relataram alterações na cor do mel produzido em suas propriedades, que com o passar dos dias vai ficando em um tom esverdeado. A primeira suspeita é de que as flores de uma cobertura de solo de uma propriedade vizinha estejam sendo usadas pelas abelhas, mas ainda não há respostas definitivas. "Neste momento, nós estamos trabalhando em parceria com algumas universidades na identificação do que efetivamente pode estar interferindo na qualidade deste mel. Existe uma preocupação, sim, pois pode refletir em todo o sistema de produção", ressalta o extensionista da Emater Vilmar Leitzke.
Análises do material ainda serão feitas em laboratórios especializados. "Este contaminante que as abelhas incorporaram predomina na determinação da cor, porque não é normal o mel de flores com esta cor. Então, isso nos leva a uma suspeita muita grande de que exista uma fonte de contaminação", destaca Aroni Sattler, professor de Apicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Na França
Em 2012, uma situação semelhante chamou a atenção de apicultores na França. Por lá, os produtores encontraram mel em cores bastante incomuns – há mel marrom, verde e até azul. O incidente ocorreu na cidade de Ribeauvillé, na Alsácia, no nordeste do país.
Jornais franceses destacaram à época que o sindicato dos apicultores da cidade fez uma pesquisa para tentar descobrir a origem do mel colorido. Em uma usina de reaproveitamento de dejetos, eles encontraram grandes concentrações de produtos com mesmas cores que chamaram a atenção nas colmeias. Nessa usina, mantida pela empresa Agrivalor, restos de outros produtos eram transformados em biogás, entre outros tipos de aproveitamento.
Os recipientes continham resíduos da confeitaria industrial dos estabelecimentos Mars. A multinacional produz os chocolates M&M’s, que têm corantes azuis, verdes e marrons, como os que foram encontrados no mel.
Mín. 14° Máx. 25°