Estresse pode afetar pessoas de qualquer idade. "Na verdade, podemos sofrer estresse já dentro do útero. O organismo de uma grávida exposta a eventos estressantes produz determinadas substâncias que afetam o cérebro do feto e modificam sua estrutura, influenciando o neurodesenvolvimento", explica o psiquiatra infantil Arthur Kummer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Uma pesquisa do Centro Psicológico do Controle do Estresse mostrou que 32% das crianças brasileiras sofrem com o problema. Assim como na vida adulta, na infância os agentes estressores são igualmente diversos. Não existe uma única causa. "Alguns exemplos incluem abusos e negligência (como passar fome ou frio), afastamento prolongado dos pais, cobranças excessivas, sobrecarga de atividades, bullying, conflitos na família, traumas, perda de entes queridos, entre outros", destaca o médico.
Um cotidiano repleto de atividades também pode ser estressante. "Uma criança ou adolescente sobrecarregado, sem tempo para brincar ou dormir, pode sofrer com o estresse. A cobrança excessiva também pode ser prejudicial", ressalta o especialista.
Estresse agudo x estresse crônico
O psiquiatra divide os eventos estressores entre estresse agudo e o estresse crônico. O primeiro ocorre apenas ocasionalmente, mas costumam ser de grande intensidade. O segundo, que são estressores de menor magnitude, são quase cotidianos. "A morte de um ente querido ou ser vítima de um assalto seriam então eventos agudos, enquanto o bullying e a sobrecarga de atividades são geralmente estresses crônicos", exemplifica. A diferenciação é importante por conta do ponto de vista biológico, do impacto que cada um dos tipos tem no organismo.
Estresse pandêmico
Um novo tipo de estresse também foi identificado nas crianças, o chamado estresse pandêmico. Ele acontece, principalmente, devido às mudanças abruptas na rotina dos pequenos durante o pandemia do novo coronavírus e o isolamento social - essencial para conter a propagação do vírus.
Segundo uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), realizada com 7 mil pais, 27% das crianças e adolescentes de 5 a 17 anos apresentam sintomas de ansiedade ou depressão em nível clínico durante a pandemia. Ou seja, uma em cada três crianças analisadas possui os sinais desses transtornos. "Não significa que estão com depressão, mas têm sintomas sugestivos e merecem avaliação", explica Guilherme Polanczyk, professor da USP e coordenador do estudo.
Como identificar, tratamento e prevenção
Mas como saber se uma criança está estressada? A mudança no comportamento é a resposta. "Mas não há uma forma única de reagir ao estresse. Muitas crianças reagem internalizando o problema, ficando deprimidas, ansiosas ou inibidas, ou o externalizando, ficando irritadas, agitadas, birrentas ou agressivas", pondera Kummer. O importante é ficar atento a transformações significativas e constantes de humor dos pequenos.
A partir do momento que se detecta o estresse na criança é preciso reverter o quadro. No caso de um cotidiano sobrecarregado, a diminuição das atividades pode resolver. Segundo Kummer, há ainda situações maiores e que exigem políticas públicas de alta complexidade. "Imagine casos de crianças que vivem em áreas de risco, assediadas pelo tráfico, no meio da guerra, por exemplo. Se ela não melhora após o afastamento do estressor, pode ser preciso uma ajuda especializada com psicólogos e psiquiatras", diz.
Reflexos no futuro
O estresse em determinados períodos do desenvolvimento pode afetar a estrutura e a função de certos órgãos que podem persistir por toda a vida. "O impacto não é somente psicológico, tornando adolescentes e adultos mais sensíveis a estresse e a transtornos mentais, mas também físico. Ele nos deixa mais suscetíveis a doenças metabólicas, cardíacas e osteomusculares", conclui o psiquiatra infantil.
Mín. 13° Máx. 29°