A Universidade de Caxias do Sul (UCS) e 34 municípios da Serra Gaúcha assinaram contrato para dar início à fase I do projeto ‘Resíduos Serra’ (RS UP). A cerimônia ocorreu na manhã da sexta-feira, 17, no Salão de Atos do Bloco A da Universidade. O projeto, que inicia oficialmente no dia 4 de outubro, constitui-se no desenvolvimento de alternativas tecnológicas que buscam a destinação sustentável de resíduos sólidos urbanos (RSUs), transformando-os em energia e produtos.
O projeto é uma iniciativa do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra), do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga) e da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne). A pesquisa é desenvolvida pela UCS, através do Laboratório de Energia e Bioprocessos (Lebio), do Laboratório de Análises Ambientais (Latam), da Fazenda Escola e da Agência de Inovação (UCS iNOVA).
Conforme a presidente do Corede Serra, Mônica Beatriz Mattia, a destinação dos resíduos sólidos urbanos é um debate que se estende ao longo dos anos no Brasil. Segundo ela, os municípios gaúchos têm procurado alternativas mais seguras do ponto de vista econômico e ambiental para a disposição final dos seus resíduos sólidos. “Não podemos mais enviar o lixo para Minas do Leão e outros aterros. Já está mais do que na hora de mudar e, com esse projeto, a Serra Gaúcha vai se destacar no âmbito estadual e nacional. Contudo, para que ele aconteça, precisamos da cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada.”, aponta Mônica.
O coordenador técnico do trabalho e responsável pelo Lebio-UCS, professor Marcelo Godinho, explicou que a ideia do projeto RS UP é transformar os resíduos em energia e produtos, como carvão biochar e óleo, possibilitando aos municípios dar um destino sustentável ao seu lixo. “Essa iniciativa atende a um desejo de décadas da área ambiental dos municípios e das instituições que coordenam os aspectos legais do meio ambiente. Utilizar o lixo urbano como fonte de matéria-prima é o que buscamos. Poder dar início a esse projeto é um ato revolucionário”, comemora Godinho.
O evento contou com a presença do presidente da Fundação Universidade Caxias do Sul (FUCS), José Quadros do Santos, do reitor da UCS, Evaldo Antonio Kuiava, do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UCS, Juliano Rodrigues Gimenez, do diretor executivo da FUCS, Gelson Leonardo Rech, do vice-presidente da Amesne, Alcione Grazziotin, do diretor executivo do Cisga, Rudimar Caberlon, do representante do Cisga, Oscar Dall Agnol, e de 24 prefeitos e representantes dentre os 34 municípios participantes do projeto.
Como surgiu o projeto
Segundo dados da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam-RS), atualmente há somente dois tipos de aterros em funcionamento no Rio Grande do Sul: controlado (inadequado) e sanitário (adequado). Enquanto o aterro controlado não oferece sistemas de tratamento de chorume ou impermeabilização do solo, o sanitário prevê todo o preparo do solo, com sistema de drenagem de chorume, além de realizar a captação e queima dos gases liberados.
Ainda de acordo com dados da Fepam-RS, no ano de 2019, 397 municípios faziam a disposição final dos seus resíduos em aterros sanitários, 85 em aterros controlados e 15 enviavam seu lixo para Santa Catarina. Entretanto, esta forma de disposição final implica na geração de um passivo ambiental, além de gerar custos elevados aos municípios. Outro fator é que, geralmente, os locais licenciados para a disposição dos resíduos no RS são distantes das sedes dos municípios, implicando no custo adicional do transporte.
Por isso, em 2019, o Cisga, o Corede Serra e a Amesne iniciaram uma discussão para encontrar alternativas para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos dos municípios. As entidades, portanto, convidaram a UCS para contribuir do ponto de vista científico e tecnológico na concepção e execução de um projeto estruturante e sustentável para a destinação final dos RSUs dos municípios da região. Ao longo do ano de 2020 foram realizados encontros com prefeitos, secretários do Meio Ambiente e Fepam-RS para a construção do projeto. No início de 2021 houve novos encontros entre os pesquisadores da UCS e os técnicos dos municípios para ajustes do projeto.
Como funcionará o projeto
O projeto já possui 34 municípios integrantes, com uma área territorial de 18.082 km² e uma população estimada de 1.154.209 habitantes. Possui algumas premissas básicas, acordadas entre todos os envolvidos:
O projeto RS UP basicamente consiste na aplicação de duas técnicas de processamento dos RSUs: um processo bioquímico (digestão anaeróbia) e um processo termoquímico (pirólise), que serão aplicados separadamente ao lixiviado (chorume) e a torta formada na prensagem do RSU. O projeto possui 3 fases:
Municípios integrantes do projeto
Antônio Prado, Bento Gonçalves, Bom Jesus, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Coronel Pilar, Cotiporã, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Gramado, Guaporé, Jaquirana, Montauri, Monte Belo do Sul, Muitos Capões, Nova Bassano, Nova Pádua, Nova Petrópolis, Nova Prata, Nova Roma do Sul, Paraí, Protásio Alves, Santa Tereza, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes, São Marcos, Serafina Corrêa, União da Serra, Vacaria, Veranópolis, Vila Flores e Pinto Bandeira.
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